Preço do arroz só é caro para o produtor, que paga o pato

Mesmo com indicativos de safra menor e liberação de recursos para custeio da comercialização, preços não param de cair.

A semana que está encerrando só não foi a de piores notícias em 2007 para o arroz brasileiro, pela presença do superintendente da Conab, Paulo Morceli, em Porto Alegre na última terça-feira, para participar de uma reunião na cadeia produtiva. Morceli assegurou que os recursos dos mecanismos de comercialização devem estar liberados já na 17a Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em São Gabriel, entre os dias dois e quatro de março. São R$ 700 milhões em mecanismos como Empréstimos do Governo Federal (EGFs), Aquisições do Governo Federal (AGFs), Pré-Comercialização, CPR e Leilões Públicos de Opção.

A lista de reivindicações dos arrozeiros é de aquisições de quatro mil sacos por CPF, pelo preço mínimo (R$ 22,00) corrigido pelo custo de armazenagem, tributos, etc… (R$ 0,50) ao mês, EGFs conforme limite de crédito e leilões de opções públicas (o produtor compra o direito de vender seu produto ao governo) com as seguintes regras:limite de 20 contratos por CPF (540 sacos por contrato = 10.800 sacos no total); máximo de 10 contratos por leilão (540 sacos por contrato = 5.400 por leilão); preço de 24,00 por saco de 50 quilos (58%) para pagamento em junho de 2007. O pedido é para a realização de quatro leilões de 75 mil toneladas semanais, totalizando 300 mil toneladas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os arrozeiros pedem que o primeiro leilão aconteça no dia três de março de 2007 na Abertura Oficial da Colheita do Arroz.

PREÇOS

A semana foi marcada pela forte queda nos preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul. Identificada uma grande oferta de produto ainda na mão dos produtores ou a depósito na indústria (algo em torno de 950 mil toneladas) até 31 de janeiro no levantamento realizado por uma instituição, entende-se que há um estoque maior do que o projetado inicialmente pela Conab.

Técnicos da companhia acreditam que parte desta diferença poderia estar diretamente ligada ao contrabando de arroz da Argentina e Uruguai, de conhecimento público no Rio Grande do Sul e alvo de inúmeras denúncias da Federarroz, e também ao fato de um sub-dimensionamento das últimas safras (o produtor indicando volume menor do que o real com medo de baixar preço). Estima-se, extra-oficialmente, uma diferença de, pelo menos, 400 mil toneladas entre os números oficiais e os reais.

A verdade é que apesar dos números oficiais, a oferta de produto a preços aviltantes cresceu assustadoramente nos últimos 10 dias. O saco de 50 quilos do arroz com 58% de grãos inteiros em Alegrete, Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, São Gabriel, Restinga Seca, Rio Pardo e Tapes, é cotado entre R$ 17,00 e R$ 17,50 sem interesse por parte da indústria. Algumas contrapropostas em R$ 16,50. Em Agudo, produtores informam que uma indústria estaria oferecendo R$ 16,00 para pagamento em 10 dias de arroz recém colhido e não aceitando produto a depósito.

A prática, por sinal, tornou-se bastante comum em pequenas e médias indústrias. Como boa parte dos industriais também são produtores e já têm compromissos com parceiros tradicionais, não estão aceitando produto a depósito de terceiros. Neste caso, oferecem preços bastante baixos para compra.
As maiores empresas só estão comprando “na boa”, quando a oferta é muito insistente e com preços bastante baixos.

Em Pelotas e Camaquã, o arroz colocado dentro da indústria vale R$ 18,00 a R$ 18,50. Uruguaiana e Itaqui já pagam entre R$ 17,50 a R$ 18,00, mas valores meramente nominais. O volume de negócios é baixo. Itaqui e São Borja pagam R$ 20,00 a R$ 20,50 por variedades nobres com 58% a 60% de inteiros. Mas, com pouco fluxo de negócios. No Litoral Norte o IRGA 417, com 60% de inteiros é cotado a R$ 21,00/R$ 22,00.

OUTROS ESTADOS

O Mato Grosso apresentou acentuada queda nos preços do arroz com o início da safra, mesmo que esteja com os estoques praticamente zerados, com excesso de produto abaixo padrão. O saco de 60 quilos do arroz primavera, com 55% de inteiros, está valendo entre R$ 20,00 e R$ 22,00, mas o produto com 50% de inteiros está entre R$ 18,00 e R$ 19,00 em Sinop e Sorriso. Em Cuiabá, chega entre R$ 20,00 e R$ 22,00.

Em Santa Catarina também registra-se queda no produto em casca. Com a safra iniciando e a pressão da baixa no Rio Grande do Sul, o Sul catarinense comercializa arroz de 58% de inteiros (50kg) entre R$ 18,50 e R$ 19,50. Turvo e Jaraguá do Sul praticam R$ 19,50 a R$ 20,00.

INDÚSTRIA

A indústria gaúcha manteve-se fora do mercado, só comprando produto em condições muito favoráveis. As médias e pequenas indústrias, que normalmente mantêm produção própria e um “rol” de parceiros, só aceitam compra direta e força R$ 0,50 a R$ 1,00 por saco abaixo do padrão referencial nominal, para pagamento em sete a 10 dias. Não aceitam depósito. Há grande preocupação entre os produtores com relação à armazenagem disponível para os programas de apoio à comercialização da Conab, pois as indústrias estão abastecidas e desinteressadas de ofertar armazéns para produto oficial.

Para aqueles que ainda utilizam produto depositado pelo produtor como capital de giro, principalmente, não interessa ter arroz da Conab que é fiscalizado periodicamente. Para outros, não compensa manter parte dos armazéns ociosos, pois o padrão dos leilões de 2006 não ofereceu vantagens suficientes para aquisição do produto depositado na indústria. Os valores, mesmo sem frete ou funrural, eram maiores do que os de mercado.

Ainda assim, algumas negociações envolvendo corretoras foram fechadas com arroz beneficiado, saco de 60 quilos, a R$ 40,00 (dentro do RS). O preço surpreende, pois está bem acima do padrão, considerando as atuais cotações do produto em casca. O produto chega a São Paulo entre R$ 51,00 e R$ 53, em média, atualmente.

O fardo de 30 quilos do tipo 1 alcança média de 30,00, mas com negociações por até R$ 27,00 para o arroz gaúcho posto em São Paulo. Operam nesta faixa de preço algumas marcas tradicionalmente conhecidas por atuarem neste patamar mais baixo de valor.

O varejo segue demandando pouco produto. E forçando preços para baixo. O fim das isenções tributárias para o arroz em São Paulo, elevou a alíquota do produto comercializado naqueles estado de 7% para 18%. Dificilmente toda esta carga será repassada apenas ao consumidor e o produtor, no final das contas, vai arcar com parte deste custo.

No final das contas, chega-se à conclusão que o preço do arroz no Brasil, atualmente, só é caro para o produtor, que está pagando o pato. Na última semana, este colunista esteve reunido com alguns dos principais analistas de mercado de arroz do Brasil, onde ficou clara a constatação de que muitos produtores que já vêm descapitalizados, dificilmente sobreviverão a mais um ano de comercialização a preços baixos. O comentário geral é de que forças políticas e setoriais começam a trabalhar por uma nova securitização das dívidas.

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