Preços do arroz caem, e os da soja reagem pouco
Na segunda metade de julho, confirmou-se um forte recuo nos preços do arroz gaúcho (saco de cinquenta quilos) pagos ao produtor. Há um ano, a média no estado era de R$ 111,58. Agora, está em R$ 65,63. Ou seja, no espaço de doze meses, o preço médio do cereal recuou 41,2%. Entre os motivos, destaca-se a forte produção nacional e gaúcha nesta última colheita. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil produziu 12,3 milhões de toneladas, volume 16,5% superior ao do ano passado, e o Rio Grande do Sul colheu 8,3 milhões de toneladas, crescimento de 15,9% em relação a 2024.
Em paralelo, a soja apresentou uma leve alta nos preços no período, passando de uma média de R$ 119,02 em meados de julho de 2024 para os atuais R$ 122,05 por saco no balcão (+2,5%). Vale lembrar que, nas últimas semanas, sua média ficou entre R$ 117,00 e R$ 119,00 por saco.
Três elementos principais movimentam atualmente o mercado da soja no front externo: a nova safra dos Estados Unidos; o tarifaço de Trump sobre diversos países, incluindo o Brasil; e a possível volta da China ao mercado comprador dos EUA. No mercado interno, destacam-se o comportamento do câmbio, o movimento dos prêmios nos portos e a tendência para o futuro plantio nacional.
Em relação ao front externo, a nova safra estadunidense 2025/26, segundo o relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado em 11/7, está estimada em 117,8 milhões de toneladas, ante 118,8 milhões no ano anterior. Considerando o recuo de 4% na área semeada, o volume a ser produzido é bastante positivo, o que pressiona para baixo as cotações. Além disso, os estoques finais nos Estados Unidos para este novo ano foram aumentados para 8,4 milhões de toneladas.
Já a produção e os estoques globais foram aumentados em cerca de um milhão de toneladas, respectivamente, para 427,7 e 126,1 milhões. Quanto ao tarifaço de Trump, ele vem causando estragos econômicos em diferentes países, inclusive nos próprios Estados Unidos, tornando-se uma incógnita sobre até onde irá e em que níveis terminará. Já o retorno da China ao mercado comprador estadunidense dependerá, em grande parte, do desenrolar do contencioso tarifário com os EUA.
Do começo de junho ao início de julho de 2025, a China comprou 183 navios de soja — sendo 109 do Brasil e 74 da Argentina — e nada dos Estados Unidos (conforme a Agrinvest Commodities). Porém, “o Brasil ainda não consegue suprir integralmente a necessidade chinesa de soja. Há um déficit de 25 a 30 milhões de toneladas que a China precisará adquirir de outras nações.
Por enquanto, Argentina e Paraguai, apesar dos recentes movimentos, ainda não possuem expressão suficiente nas exportações da matéria-prima in natura. Assim, neste ano, a China ainda depende da soja dos EUA, entre 15 a 20 milhões de toneladas.
A grosso modo, algumas estimativas têm apontado que o Brasil deverá exportar 108 milhões de toneladas de soja, e a China deverá importar 112 milhões. E, do que o Brasil exportar, 75% terá como destino o país asiático. Portanto, a China vai acabar comprando soja dos Estados Unidos” (cf. Pátria Agronegócios).
TARIFAÇO
Por aqui, na primeira semana sob efeito do anúncio do tarifaço de Trump, o real perdeu ao redor de 2% de seu valor perante o dólar. Isso ajudou a melhorar um pouco o preço interno da soja. Depois disso, a moeda brasileira se estabilizou entre R$ 5,55 e R$ 5,60 por dólar. Ao mesmo tempo, com a chegada da entressafra da soja, os prêmios melhoraram um pouco, passando a US$ 0,85/bushel para agosto, base Paranaguá
Por sua vez, as primeiras expectativas para o novo plantio da soja brasileira são baixistas para os preços, pois apontam um aumento de 1,2% na área a ser semeada, atingindo 48,2 milhões de hectares.
Em cclima normal, a produtividade média nacional pode chegar a 62 sacos/hectare. Isso elevaria a produção final a cerca de 180 milhões de toneladas da oleaginosa em 2025/26.
Diante disso, a tendência é de o mercado registrar preços estáveis nos próximos meses, porém exigindo um olhar atento ao clima nos EUA até o fim de outubro e à efetivação ou não do retorno da China às compras de soja estadunidense.
Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR (mestrado e doutorado) da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).
