Preços do arroz caem em direção às referências de exportação

 Preços do arroz caem em direção às referências de exportação

Preços embalam momento de queda para se ajustar ao mercado externo

Dólar, consumo normalizado e perda de negócios internacionais pressionam as cotações arrozeiras em ano de excelente colheita. Preços ainda são muito bons

Demorou, mas como era previsto, as cotações do arroz em casca, pagos ao produtor, começaram a ceder com mais força em maio. Até esta quinta-feira, 20 de maio, segundo o indicador de preços Cepea/Esalq, a referência média no Rio Grande do Sul era de R$ 82,68, acumulando 4,57% de retração no mês. Em dólar os valores também começaram a baixar de uma média de US$ 15,85 para US$ 15,56. O mês começou com a saca valendo R$ 86,72 (já baixou R$ 4,04), o que equivalia a US$ 15,99 (43 centavos de dólar acima da cotação desta quinta-feira).

A indústria segue comprando basicamente o arroz a depósito. No Sul Catarinense os preços chegaram a R$ 84,00 e R$ 85,00 descontando Funrural. Nas regiões da Campanha e Central, R$ 82,00 – taxas é a referência para o arroz com 60% de inteiros. Zona Sul e porto têm indicação de R$ 83,00 a R$ 85,00. Variedades nobres estão sendo cotadas entre R$ 86,00 e R$ 88,00 no Litoral Norte.

Até então, dois fatores: câmbio e retenção da oferta pelos agricultores, eram responsáveis pela manutenção de preços recordes em plena colheita, na faixa de R$ 85,00 a R$ 92,00. Em 2020, alcançaram média superior a R$ 105,00 no pico de entre safras, chegando a R$ 120,00 nas sacas de variedades nobres com alto grau de inteiros. Mas, estima-se que pouquíssimos – e capitalizados – arrozeiros alcançaram este patamar.

Então, o que mudou nas últimas semanas?

Em primeiro lugar o câmbio: o dólar que andava beirando os R$ 5,68 despencou para a faixa dos R$ 5,20 a R$ 5,30. Com isso, o Brasil saiu completamente fora do mercado para exportações por falta de competitividade e, segundo traders perdeu vários negócios com Costa Rica – última carga de 25 mil toneladas, em casca, com o México (50 mil t casca/branco), Cuba (50 mil t beneficiado) e outras 50 mil (branco) para a Venezuela e 60 mil toneladas para o Iraque (branco).

Não há garantias de que o Brasil vencesse todas essas negociações, claro, embora algumas já estivessem em operação no país por exigência do adquirente. Mas, por uma diferença mínima – de até 25 centavos de real – os últimos embarques acabaram fazendo os clientes buscarem outras origens. Uma operação desastrosa de embarque também afetou a credibilidade sobre a estrutura brasileira de logística, o que levará ainda algum tempo para recuperar.

É fato que o piso de preços nacionais é o preço referencial de exportação: tradicionalmente o arroz no porto + R$ 1,00 a R$ 2,00 por saca. Hoje, R$ 75,00 a R$ 77,00 seria o valor, ou seja, a confirmar-se a tendência de os preços internos buscarem tais referências, a saca poderia retroagir a um patamar de R$ 5,00 a R$ 7,00 inferiores ao valor atual médio.

Depois das compras de pânico, antecipação da demanda e forte exportação garantidas pela pandemia, o consumo interno brasileiro normalizou. As cotações que chegaram a dobrar para o arroz ao consumidor, hoje marcam 58% de aumento – e caindo mês a mês – segundo o IBGE. Pacotes de cinco quilos de arroz do Tipo 1, branco, valorados entre R$ 16,90 e R$ 18,00 tornaram-se comuns em promoções variadas. O consumidor percebeu que não vai faltar arroz e perdeu o medo que o levava a estocar alimentos, frente ao covid-19.

A espera de maior oferta, uma vez que o Rio Grande do Sul colhe a sua terceira maior safra e bate recorde de produtividade, o atacado e o varejo recuaram, passaram a comprar “da mão para a boca”, ou seja, lotes menores, quinzenais, com a certeza de que a cada semana o fardo recua de R$ 2,00 a R$ 3,00. Por sua vez, as indústrias passaram a abrir sempre forçando valores menores, já que não conseguiam mais manter as margens.

A pressão levou mais agricultores a ofertarem.

Sem preços para exportar volume que realmente impacte na balança comercial e sem demanda forte no mercado interno, o mercado parece voltar ao seu normal. Com a diferença que, por enquanto, em patamares ainda maiores do que o recorde anterior a 2020, o de 2009, na faixa de R$ 77,00 se corrigida a inflação, ou de US$ 15,00/16,00.

Tendência

A tendência é de que as cotações sigam retraindo até os R$ 80,00 nos próximos dias, de média no RS. A menos que o dólar, o consumo e as exportações apresentem um comportamento muito diferente dos atuais. Vale lembrar que há um ano o preço da saca de arroz em casca era de R$ 60,32. Os custos do Financiamento para Garantia de Preços ao Produtor (FGPP) ainda não estão permitindo que os agricultores usem essa opção no volume desejável.

A expectativa futura, no entanto, é de que para um percentual pequeno de produtores que suportarem a pressão e segurarem arroz, as cotações podem reagir, mesmo que não alcancem os patamares do ano passado. Isso porque se acredita num dólar mais fortalecido frente ao real pelo cenário de investimentos dos EUA, safras menores nos EUA e no Paraguai, consumo mais aquecido e volta das exportações. Nem todos os analistas concordam. Alguns acreditam que o patamar de US$ 12,00 a US$ 13,00 dólares por saca no mercado internacional voltará, gradativamente, a imperar como referência internacional.

Mercosul

Outro fator preocupante é a movimentação por arrendamento de terras de arroz nas regiões Central, Campanha e Fronteira Oeste, bastante aquecidos neste inverno e os anúncios de previsão de aumento de áreas na Argentina (3%), Uruguai (10%) e Paraguai (20%) na safra 2021/22. Nesta temporada Uruguai alcança um recorde produtivo, com 9,2 mil toneladas por hectare (1,3 milhão de t), a Argentina aumentou área para 198,3 mil hectares e deve colher quase 1,4 milhão de toneladas, mas o Paraguai – com uma seca histórica – reduziu área e terá uma colheita inferior a 930 mil t.

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