Preços domésticos e internacionais cedem 25% em um ano
As variações negativas de preços do arroz, desde pelo menos o mês de novembro de 2024, deixam vendedores preocupados quanto à rentabilidade, enquanto compradores seguem adquirindo o produto “da mão para a boca”, apostando em novas quedas. Trata-se de um cenário desafiador neste período logo após a colheita, o que também traz preocupações para safras futuras. Entretanto, as variações domésticas estão coerentes com as observadas no cenário internacional.
Nos últimos 12 meses, os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul, representados pelo indicador de preços Cepea/IRGA-RS, cederam mais de 25%. Essa variação está em linha com o índice da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), tanto para o índice geral (-22,6%) quanto, especificamente, para o arroz índica (-26,2%).
Entretanto, chama a atenção que os preços de importação de arroz cederam 33,7% em dólares nos últimos 12 meses, enquanto, em moeda nacional, a queda foi de 25,3%, uma vez que a taxa de câmbio ficou 12,7% maior. Vale destacar que, entre maio de 2024 e abril de 2025, o Brasil importou 1,39 milhão de toneladas, sendo o menor volume acumulado em 12 meses desde julho de 2023 (1,34 milhão acumulado entre agosto de 2022 e julho de 2023).
Por enquanto, os consumidores ainda não se beneficiaram expressivamente das quedas observadas no campo. Em 12 meses (maio de 2024 a abril de 2025), o decréscimo foi de apenas 7,1%, bem abaixo do registrado nos preços do arroz em casca. Certamente, há defasagens das variações devido a contratos entre as partes, assim como nem toda a variação no campo chega ao consumidor, uma vez que há incorporação de outros custos e tributos.
A conta está para produtores
Segundo dados do Cepea/CNA, no âmbito do projeto Campo Futuro, as margens atuais estão nos menores patamares registrados desde o último trimestre de 2022, quando os preços estavam bem maiores que os registrados atualmente. Em 12 meses, enquanto os preços cederam, os custos subiram. A margem operacional do produtor cedeu ao redor de 60% no período, apesar de ainda ficar positiva.
Mesmo assim, a receita passou a não mais ser suficiente para remunerar os ativos imobilizados, o que não era visto há dois anos. Certamente, produtores irão buscar alternativas de substituição de culturas na próxima temporada.
Mas o que está por trás das quedas de preços?
Na prática, refere-se ao excedente de produto no mercado interno, diante da oferta acima da demanda. Os dados apontam certa estabilidade da demanda interna há alguns anos. Assim, o crescimento da oferta, como o estimado nesta temporada — de quase 15% —, precisava ser compensado pelo aumento da demanda, neste caso, de exportação.
Variações de produção de um ano para outro nesta intensidade não eram vistas desde a temporada 2016/17. De dezembro de 2016 para abril de 2017, pico da colheita, os preços também cederam 20,6%. Neste ano, o aumento da oferta está gerando uma disponibilidade interna crescente de quase 14%, fator que favorece a pressão das cotações de 23,6% entre as médias de dezembro de 2024 e de abril de 2025.
Na última década, o único ano de crescimento da produção e aumento dos preços foi em 2020, que coincidiu com a pandemia e o aumento pontual da demanda internacional. Nos demais anos sempre houve uma relação inversa entre as variações da produção e de preços.
O que fazer?
Não é tarefa fácil. A cadeia precisa avançar em busca de novos compradores ou com o desenvolvimento de produtos que utilizem o arroz em sua composição, como vem acontecendo ao longo dos últimos anos. Os hábitos de consumo e as culturas diferentes entre países é um desafio para avançar em exportação, em um mercado mundial em que pouco mais de 11% da produção transaciona entre países, com destaques para movimentações entre países da Ásia. Também é preciso melhorar os mecanismos de contratos a termo, para que compradores e vendedores não fiquem totalmente à mercê das variações no mercado spot.
Lucilio Rogerio Aparecido Alves
Professor da Esalq/USP
Pesquisador responsável pelas Equipes de Grãos, Fibras e Amidos do Cepea
lralves@usp.br