Preços enfraquecem na reta final de outubro, sob vários pontos de pressão
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) O mercado brasileiro do arroz vem apresentando uma reação distinta às conjunturas internacionais e nacionais que se formam e estabelecem novo regramento nas relações comerciais. Por enquanto, por exemplo, o ambiente de negócios no Brasil – e no Mercosul – não foi contaminado pela baixa significativa da Ásia, que gera uma crise de preços nos países fornecedores pela volta da Índia, após mais de um ano, ao cenário global como grande fornecedor. O país hindu, segue apenas com os quebrados e farelo de arroz fora de mercado e pretende agregar mais 6 a 8 milhões de toneladas em base casca ao seu portfólio de produtos.
As cotações na Ásia despencaram na semana passada, após a Índia anunciar a retirada das últimas restrições ao arroz branco para negócios com outros países da Ásia, África e Oriente Médio. Ao mesmo tempo, os produtores dos Estados Unidos se mostram preocupados, pois disputam alguns mercados com este arroz inferior indiano, em especial após uma colheita como a que está 97% encerrada, e indica médias de rendimento industrial em torno de 50% a 52%. Mais uma vez o clima, com excesso de chuvas na semeadura, furacões e secas extremas no final do ciclo.
O arroz norte-americano sentiu o golpe da volta dos indianos ao comércio global, e se mostra cauteloso em relação ao futuro, mas vem negociando normalmente a sua safra, embora precise de maior volume de arroz para “fechar” os pacotes com o percentual de inteiros desejados.
O Mercosul segue dissociado das demais regiões, e preocupado com a viabilidade do plantio, a disponibilidade de água, os recursos para quem teve grandes perdas – inclusive de solo – em maio/junho últimos ou pelas três secas anteriores.
Pelo lado das indústrias, boa parte delas se retirou do mercado na semana passada , após fazer posição no início do mês. O entendimento dos agentes de negócios é o de que a indústria abasteceu-se para o pico da entressafra, meses que o consumo costuma ser mais fraco, e agora aguarda em posição mais confortável dentro da expectativa de que ocorra maior oferta no Brasil e no Mercosul, seja pela expansão de área, seja pelo clima favorável à uma produtividade mais significativa. Neste caso, muito especialmente na região Central, espera-se um aporte um pouco menor do “pacote tecnológico”, em especial quanto aos fertilizantes. O fenômeno La Niña, também, parece que ameaçou, mas ainda não se consolidou, o que indica uma neutralidade climática, que é também mais positiva do que quando ocorre El Niño.
A posição da indústria se dá, por um lado, pela expectativa de uma boa produção do cereal nesta temporada, de outra banda porque vive a onda reversa com o consumidor e o varejo. Os preços do arroz, ao que se percebe, bateram num teto junto ao consumo. O varejo resistiu a novos repasses nas tabelas do fardo e a indústria precisou ser criativa, enquanto encontrava-se entre o rochedo (os varejistas) e o mar (os produtores). Ainda assim, as grandes empresas suspenderam, na semana que passou, até mesmo as liquidações de arroz internalizado em seus silos. Compras, só da “mão para a boca”.
Isso afetou as cotações ao longo do Rio Grande do Sul na faixa de R$ 1,00 a R$ 2,00 por saca em praticamente todas as regiões. O indicador de preços Cepea/Irga, acumulou, até agora uma queda de 0,7% e os preços se mantiveram oscilando entre R$ 118,00 e R$ 119,00 por saca. As tradings que chegaram a operar com um pouco mais de voracidade na primeira quinzena de outubro, chegando a ofertar R$ 128,00, no porto, por saca, para fechar carga. Mas, durou pouco. Na sexta-feira o porto sinalizava valores entre R$ 125,00 e R$ 126,00.
Além disso, a balança comercial do arroz, no Brasil, é deficitária em pouco mais de 200 mil toneladas. Não deve reverter nos três meses que faltam para operar no mercado internacional, se mantida a tendência dos oito primeiro meses. Ainda assim, as saídas surpreenderam e devem colaborar para um déficit mínimo, o que não deixa de ser um bom resultado.
A capitalização de boa parte dos produtores, o foco na semeadura do arroz e da soja, e uma gestão comercial mais eficiente – além de parte dos agricultores só estarem dispostos a venderem para receber em janeiro – por causa da sobrecarga de impostos -, além da baixa oferta do Paraguai, que já está vendido para esta safra, apenas carregando, e só terá ofertas importantes de arroz para janeiro, fazem crer que os preços podem continuar em patamares estáveis ou com pequenas oscilações por mais algum tempo da entressafra. Mas, se tudo se mover em direção a uma grande colheita, a outra certeza é de que teremos preços significativamente mais baixos em 2025.