Preços se elevam com quebra na safra e disputa por “arroz velho”

 Preços se elevam com quebra na safra e disputa por “arroz velho”

Colheita já começou, mas é a safra velha que está interessando os compradores

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) Não é uma “tempestade perfeita”, mas com o perdão da licença poética (e com indisfarçável esperança de que realmente chova), trata-se de uma “boa chuva de verão”. Os preços do arroz em casca pegaram o elevador neste pico de entressafra graças a uma conjuntura que favoreceu muito este comportamento. A soma de vários fatores, agregados, dá novo ânimo aos produtores gaúchos e catarinenses para a arrancada da colheita, embora a demanda ainda seja por arroz “velho” e de alto rendimento industrial.

Em plena colheita, e sob estiagem intensa, apesar de algumas chuvas pontuais (e até granizo) neste final de semana em algumas regiões, preços acima do custo de produção se tornam um excelente prenúncio para a comercialização ao longo de 2022/23 se os agricultores aprenderam alguma coisa com os dois últimos anos.

Depois de operar em preços “livres ao produtor” na faixa de até R$ 54,00 em dezembro, as cotações já superaram R$ 72,00 em algumas regiões e foram reportadas propostas de até R$ 80,00, mais Funrural, para empresas do Litoral Norte venderem arroz em casca, da safra velha e com alto rendimento de engenho por indústrias do Centro do país. Os produtores que ainda têm produto da safra “velha”, já adotaram este parâmetro de pedida: R$ 80,00, mas não é a realidade de todo mundo. Na Fronteira Oeste é comum a pedida de R$ 75,00. Na Zona Sul um pouco abaixo.

Como nesta época do ano só quem tem arroz da safra passada é quem está capitalizado, o jogo de braço é um pouco mais duro e, como de hábito, o agricultor sentou em cima do seu estoque e só vende volumes pequenos e de maneira muito vantajosa.

O volume de negócios com arroz da nova safra, que algumas fontes indicam já estar com 1% da colheita concluída sobre a área plantada, é baixo. E o preço do “arroz novo” ainda oscila, pois a indústria demanda que este produto seja “maturado” de 60 a 90 dias para então descascá-lo. Há muitas queixas de um produto “mais quebrador”.

Mas, vamos falar da conjuntura que mexeu tão profundamente no mercado atual. O primeiro fator é, evidentemente, a quebra já consolidada das safras gaúcha, goiana e do Tocantins, além de uma retração na área e produção do Mato Grosso. A previsão de uma oferta menor, que só de colheita deve ter um enxugamento de mais de 600 mil toneladas, segundo levantamento da Conab, mexeu com os ânimos dos produtores. Como já dissemos, quem tem produto da safra velha, não está disposto a vender a menos que receba uma proposta realmente compensadora.

Além da redução produtiva, que tende a ser maior do que a prevista pela Conab, e muitos produtores já consideram que chegará perto de 1 milhão de toneladas, principalmente no Sul, há um fator que está sendo muito considerado pela indústria: o alto volume de grãos quebrados por causa das temperaturas extremas.

Com as safras locais afetadas, as indústrias de Goiás, Tocantins, Minas Gerais foram ao mercado para comprar arroz com maior percentual de inteiro – para branco. Só que a situação ficou ainda mais grave porque a operação padrão da Receita Federal na Fronteira, em Foz do Iguaçu, no Paraná, está trancando e gerando atraso de pelo menos 15 dias na entrega do arroz do Paraguai. Há muitos caminhões trancados na fronteira e levando muito mais tempo para entrar no país e chegar a estas indústrias. Afora isso, os produtores paraguaios – boa parte deles brasileiros – estão contabilizando uma quebra de 20% a 30% na produção, que deve ficar entre 850 mil e 900 mil toneladas no total e, também com apenas pequena parte da colheita alcançando o rendimento desejado. Fala-se em médias entre 48% e 52% de rendimento industrial nos primeiros 60% colhidos.

De maneira geral o Mercosul apresentará uma perda substancial de produção. A Argentina estima perto de 10% em Corrientes, sua principal zona produtiva. No Uruguai fala-se em 3 a 4 mil hectares perdidos, mas numa área que avançou 15 mil hectares.

A expectativa é por parte do produtor é de uma volta do período de preços no teto da pandemia, e que o “elevador dos preços” não pare de subir mesmo com a entrada da colheita, que se fortalecerá na próxima semana no Sul do Brasil. Mas, muito mais uma esperança do que a realidade e o que dizem os indicativos atuais. Se há algo que os produtores aprenderam – mesmo os mais capitalizados – é que não dá para segurar toda a produção e perder a oportunidade de vendas a valores que compensem, em especial se for para a exportação.

Mas, ainda voltando à ênfase do tema, outros fatores que colaboraram para a demanda pontual no pico da entressafra foram a volta da indústria do Sul às compras, após um período em que algumas promoveram férias coletivas. Por outro lado, algumas vendas pontuais de arroz em casca e tradings fazendo posição no porto, para o futuro, geraram uma disputa pelo grão da safra “velha”, e isso ajudou a elevar as cotações. Por fim, o varejo aceitou, gradativamente, o repasse de valores às tabelas. E  isso já é demonstrado nas cotações verificadas na pesquisa semanas de Planeta Arroz para o mercado de varejo em seis capitais.

Apesar da redução de 10% da Taxa Externa Comum (TEC) pelo governo federal, ainda em 2021, que baixou a importação de terceiros países de 12% para 10,8% e de 10%, no caso do casca, para 9%, não há uma grande ameaça de recebimento de grandes importações porque os preços externos não são tão competitivos. Mas, vale lembrar que o Uruguai está com um estoque de passagem acima do que esperava e que o Paraguai sem uma saída mais expressiva para o mar por causa da baixa histórica do Rio Paraná. Ou seja, o Brasil é um mercado de interesse. E estes países não sofrem a incidência de TEC, pois integram o acordo de livre comércio.

Nos Estados Unidos, esta semana, os preços do arroz na Bolsa de Chicago revelaram mais uma trajetória de alta. Os preços internacionais estão sendo importantes neste sentido, pois a alta no mercado externo está compensando em parte a desvalorização do dólar. Por outro lado, apesar de muitas sondagens, não há grandes novidades em novos pedidos de arroz por parte dos clientes internacionais, boa parte deles abastecidos. A experança é para que entre fevereiro e março países como a Costa Rica,  Panamá, Nicarágua, Cuba, Venezuela e México voltem a ser mais efetivos nas compras do arroz brasileiros, embora a margem entre os valores do arroz brasileiro e norte-americano tenham caído nos últimos dias. O alto custo do frete também segue afetando os negócios internacionais.

TENDÊNCIAS

A tendência é de que os preços entrem “lançados” na virada do ano comercial, em 1º de março, quando é marcado o início do ano comercial. Milho e soja também deram um bom suporte para quem vai colher, uma vez que no Sul do Brasil a quebra deve ficar entre 50% e 70%, respectivamente, nestas culturas. Se for confirmada a queda e mantido um fluxo de negócios de exportação no primeiro semestre e de escoamento, diferentemente do que houve no ano passado, a ainda está mantida a expectativa de preços em trajetória de recuperação rumo ao segundo semestre. Mas, inverter a tendência dependerá apenas do agricultor. Se ele segurar as vendas, como no ano passado, em busca que cotações irreais, sem fluxo e nem velocidade de oferta, a situação pode ser exatamente de preços em queda. O certo é que não podemos insistir no “vale a pena ver de novo” e o discurso de “falta de arroz” seguirá um perigo e um motivador para que abram-se as importações.

5 Comentários

  • Muito cedo para acreditar nesses preços, acho que a indústria deve ir com cautela e sair de mercado, não tem que pagar esses níveis de preços no casca se o fardo não esta absorvendo. Vamos com calma e aguardar as máquinas entrarem nas lavouras, como já escrevi em outros comentários, faz anos que escuto quebra de safra, redução de área, soja na várzea, boi no mato e outros tantos argumentos para tentar justificar aumentos de preços que não cabem no bolso do consumidor final, meus amigos, arroz é comida de pobre, povão, quem não se convencer disso, é por que vive no mundo da lua, tem que ser barato para fazer o volume, 5 kg de arroz com preços próximo de 20,00 já começa a dar dor de barriga para vender.

  • E muinto lamentável saber q algumas pessoas acham q lavoureiros tem q ser escravo das indústrias acho q este tipo de pessoas tinha q plantar.

  • Sr. Aluizio, lamentável é os lavoureiros acharem que as indústrias tem a obrigação de absorver os custos das más gestões e da falta de visão de mercado que alguns produtores fazem e demonstram. Hoje se tu quiser plantar arroz, deve olhar o todo e não só da porteira para dentro, deve ter noção de mercado e que se plantar uma lavoura cara e não ter uma boa produtividade seus custos irão aumentar e não vai conseguir repassar ao mercado seu produto (todo o negócio tem risco) mas não significa que posso repassar esse risco a terceiros, isso sim é lamentável. Abraço

  • Seu Paulo Marques é muito lamentável que o produtor tenha que pagar pelo atraso e falta de visão da Indústria, a indústria não faz nada para diminuir seu custos e a única coisa que sabe fazer é ganhar em cima da matéria prima , desde que me conheço por gente vendem arroz em saquinho de 1 ,2 ou 5kg , raro são as que aumentaram seu portfólio com produtos de valor agregado, enquanto que o produtor evoluiu e se tornou extremamente competente com alta tecnologia e as maiores produtividades do mundo a indústria com a mesma mentalidade igual a tua e tu vem aqui no grupo de arrozeiros só para falar bobagens pois sabe bem que é oferta e procura pois se faltar arroz o arroz sobe muito e ninguém deixa de consumir e se sobra o arroz baixa e fica abaixo do preço de custo ao produtor , temos a faca e o queijo na mão é só equilibrar a oferta e acaba a exploração da indústria.

  • Não entendi o seu comentário senhor Claiton, a página do planeta arroz é de propriedade de produtores??? Se for que me bloqueiem, por que eu sou da indústria, defendo a bandeira da indústria.
    Outra coisa, quando o senhor fala que a indústria anos só vende saquinhos de 1kg, 2kg e 5kg, acredito que estou falando com o inventor da roda pelo jeito, me apresente uma outra forma de comercializar o arroz, talvez enlatado em conserva???? hahahahaa, eu sinceramente não sei, sou burro nesse sentido.
    Os produtos derivados de arroz que muitas indústrias vendem em seu mix, são produtos que realmente tem valor agregado, mas eles são em sua totalidade para aumentar a exposição da marca, ajudar a compor as margens, ganhar mais espaço em gondola e etc, mas eles não dão volume, o público consumidor é restrito, já o arroz branco polido e o parbo é o que faz o volume e quem consome esse volume é o povo em massa, que na maioria é baixa renda, ou o senhor nunca ouviu ou leu, que quanto maior é renda familiar, menor é o consumo de arroz. Posso desenhar se o senhor quiser. Abraço.

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