Prejuízo é uma safra em 12 anos
Estudo revela as perdas da lavoura arrozeira.
A lavoura de arroz gaúcha perdeu nos últimos 12 anos 86% de todo o investimento de uma safra. A contabilidade é de Cilotér Borges Iribarrem, diretor da empresa Safras & Cifras, em estudo especial encomendado pela Federarroz. Os números mostram que das últimas 12 safras, sete foram de prejuízo e cinco de lucro.
Acompanhando as reações do mercado orizícola há 20 anos, Cilotér acredita que existe um “descasamento” entre custos e preço de comercialização. “O produtor faz a parte dele, mas não consegue pagar as dívidas”, analisa Cilotér. O custo da lavoura de arroz, um dos vértices do estudo, indica que o cultivo da última safra teve custo médio de R$ 3,2 mil/hectare. O crédito rural banca apenas 24% dos custos. O restante do investimento vem de desembolso próprio ou financiado pelas indústrias e empresas de insumos.
Com essas informações fica mais fácil entender por que os arrozeiros precisam vender a produção logo na safra, provocando a superoferta no mercado. “O produtor não gere a produção, e isso é um dos problemas mais sérios para o setor”, avalia Iribarrem.
BILHÃO – A lavoura brasileira tem atualmente uma dívida de R$ 4 bilhões a pagar. Com base no desempenho comercial das últimas safras, a conta cairá para R$ 1 bilhão até 2011, sendo otimista.
Boas safras encorajaram
O endividamento dos produtores não está restrito ao setor arrozeiro. O resultado de boas safras encorajou o agricultor a investir, comprando mais do que poderia pagar em caso de frustração de safra. Foi o que aconteceu, pois o agronegócio brasileiro enfrentou um ciclo de baixa nas principais culturas.
A agricultura brasileira, em todas as linhas de produção, soma uma dívida de R$ 62 bilhões. Deste montante, R$ 28 bilhões são referentes a investimentos que foram feitos em safras lucrativas, quando o produtor sentiu-se encorajado a gastar. Somente para 2007, o valor a ser pago chega a R$ 20 bilhões.
Questão básica
A lavoura de arroz do Rio Grande do Sul deu lucro pela última vez na safra 2002/2003. Os estudos feitos por Cilotér Iribarrem indicam que a safra deste ano só irá cobrir as despesas se a média de produtividade ficar em 150 sacas por hectare e cada uma for comercializada a R$ 22,00.
As reivindicações
– Aplicação das leis 12.427 e 12.685 para corrigir assimetrias do Mercosul
– Fim da guerra fiscal entre os estados, que traz prejuízos à cadeia do arroz
– Política de armazenagem em nível de produtor: modernização ou destinação dos armazéns da Cesa para cooperativas e associações de produtores
– Agilização dos estudos de licenciamentos para preservação de água e decretação da agricultura irrigada como atividade de interesse social
– Imediata política de saneamento financeiro da lavoura de arroz
– Apoio e incentivo às exportações permitindo a ampliação deste mercado
– Integral apoio à comercialização de arroz na atual safra, com disponibilização dos mecanismos tradicionais e também novos meios de sustentação de preços mínimos
– Controle de armazéns privados e dos estoques de produção