Previsão de brusone em arroz: manejo sustentável de fungicidas
Atualmente, a brusone (magnaporthe oryzae B. Couch) é amplamente presente nas lavouras de arroz, sendo a principal preocupação dos produtores em relação à incidência de doenças, já que pode comprometer até 100% da produção. Nesse sentido, o controle é feito a partir da utilização de cultivares resistentes, práticas culturais e controle químico. O manejo de fungicidas usualmente realizado pelos produtores é feito de forma calendarizada, com uma a duas aplicações, sendo a primeira no emborrachamento (estádio R2) e a segunda em dez a quinze dias após (estádio R4). No entanto, as aplicações calendarizadas não consideram as condições ambientais ideais para incidência de brusone, como temperatura e umidade relativa do ar, bem como a influência dos fenômenos El Niño e La Niña, que atuam diretamente nas condições do ambiente. Nesse contexto, o controle químico calendarizado e a não utilização de critérios de aplicação que atuem sobre o patógeno pode levar ao aumento de custos da lavoura, bem como o aumento de impactos sobre o ambiente.
Diante disso, a utilização de modelos de previsão de brusone baseados em ambientes biofísicos e projeções embasadas em série histórica de dados climáticos surge como alternativa sustentável no manejo de fungicidas, reduzindo custos e impactos ambientais. As figuras abaixo mostram o comportamento e a previsão da incidência de brusone na safra 2021/22, baseada em série histórica de 10 anos, para diferentes ambientes. A Figura 1 representa o município de Camaquã, na planície costeira interna, e a Figura 2 representa Alegrete, na fronteira oeste, locais com características climáticas bastante distintas em relação à temperatura e à umidade.
A utilização da soma hidrotérmica (SHT) para o manejo de brusone já está consolidada na literatura (Silva et al., 2021)* e representa as condições ambientais ideais para a incidência da doença, relacionando umidade relativa do ar, temperatura, velocidade do vento e molhamento foliar. Nas figuras, observa-se a grande diferença de soma hidrotérmica acumulada para os dois locais, onde Camaquã, com elevada SHT, possui melhores condições ambientais para a doença em relação à Alegrete. Além disso, utilizando-se uma série histórica de dados, pode-se relacionar a safra atual com safras passadas semelhantes, considerando, inclusive, o fenômeno Enos e, a partir disso, observar o comportamento da doença e o desenvolvimento do manejo de fungicidas adequado.
* SILVA, M. R. et al. Using hydro‐thermal time for assessing rice blast risk in subtropical Brazil. Agronomy Journal, v. 113, n. 4, p. 3548-3559, 2021.
Camille Flores, Michel Rocha da Silva, Alencar Junior Zanon, Enzo Pilecco, Maurício Fornalski Soares