Previsão de precipitação no trimestre de setembro a novembro de 2021 no RS
(Por Jossana Cera, agrometeorologista e consultora do Irga) A previsão de consenso do IRI (International Research Institute for Climate Society) indica que o trimestre Setembro-Outubro-Novembro tem 62% de probabilidade de a La Niña se formar. Sendo que, no trimestre Novembro-Dezembro-Janeiro, a probabilidade aumentaria para 69%.
O que se tem de concreto é que a ocorrência do El Niño está totalmente descartada. Com isso, chuvas persistentes no Rio Grande do Sul não deverão ocorrer. Pelo contrário, pois tanto com a permanência da Neutralidade, quanto o desenvolvimento de uma possível La Niña, em ambas as situações, a expectativa é de precipitações abaixo dos valores da NC.
O IRI prevê que o trimestre Setembro-Outubro-Novembro tem de 45T a 55% de chance das precipitações ficarem abaixo da Normal na metade sul do RS. Já o modelo CFSv2 (Climate Forecast System, da NOAA-CPC) segue prevendo chuvas abaixo da média para setembro, outubro e novembro. O INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) prevê que as precipitações fiquem entre normal e acima da Normal em setembro (Figura 5). A precipitação total prevista ficaria entre 100 e 160mm na Fronteira Oeste, Campanha, Zona Sul e em parte das Planícies Costeira Interna e Externa. Para outubro, o modelo prevê que as precipitações poderiam chegar próximo de 200mm na Fronteira Oeste e em parte da Campanha, mesmo o mapa mostrando chuvas um pouco abaixo da Normal. Vale ressaltar que setembro e outubro são meses com elevado índice pluviométrico no RS. Já para novembro, o modelo mostra chuvas abaixo da Normal em praticamente todo o Estado.
Precipitação total prevista e anomalia de precipitação prevista para setembro, outubro e novembro de 2021 no RS
No geral, com base em todos os prognósticos, a tendência é de precipitações entre a normal e abaixo da NC. Com isso, ressalta-se a importância de economizar água para a próxima safra de grãos (primavera-verão), visto que o nível dos reservatórios não aumentou em relação ao mês passado.
Com relação às temperaturas, o INMET prevê que setembro e outubro fiquem com temperatura média do ar dentro da Normal. Já para novembro, a previsão é de temperaturas acima da Normal.
Recomendação: o início da semeadura da safra 2021/2022 de arroz irrigado e das culturas em rotação, principalmente a soja, está próximo. Com isso, o produtor deve aproveitar os períodos de tempo seco para a realização das operações de preparo de solo, se ainda não o fez. Esta antecipação é importante, para não haver atraso nas semeaduras do arroz e da soja. As operações relacionadas à melhoria da drenagem da área, que inclui também a limpeza de drenos já existentes, devem ser realizadas assim que possível.
Condições meteorológicas ocorridas em julho de 2021 no RS
Diferentemente de junho, o mês de julho de 2021 foi de precipitações em baixo volume e pouco frequentes. As regiões da Campanha e da Zona Sul foram as que registraram os maiores volumes acumulados, que variaram de 50 a 80mm (Figura 1 A), mesmo assim abaixo da média climatológica. As demais regiões do Rio Grande do Sul tiveram volumes acumulados menores que 50mm. Em virtude disso, todo o Estado ficou com precipitações abaixo da Normal Climatológica (Figura 2 B). Os baixos volumes de precipitação preocupam os criadores de gado, pois as pastagens sofreram com as geadas e com a falta de umidade no solo, e os produtores de arroz, cujos reservatórios de água ainda estão longe de seus níveis ideais.
Mapa da precipitação acumulada e da anomalia da precipitação durante julho de 2021 no RS
Figura 1. Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante o mês de julho de 2021 no RS em relação à média climatológica (relativa ao período 1981-2010). As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: INMET.
Com relação às temperaturas, houve duas ondas de frio intensas que ingressaram no RS, como se pode observar nos gráficos da Figura 2. As temperaturas mínimas foram negativas em alguns locais do Estado, com formação de geada. As duas massas de ar polar foram intercaladas com períodos de temperaturas mais elevadas que, ao redor do dia 25/7, se aproximaram de 30 °C em algumas regiões. Na média geral do mês, as temperaturas mínimas ficaram abaixo da Normal Climatológica (NC) em todo o Estado. Já as máximas ficaram dentro da Normal.
Temperaturas máxima e mínima diárias, respectivas normais climatológicas e precipitação pluvial diária em julho de 2021
Temperatura máxima e mínima diária (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC, linhas pontilhadas) (°C) (relativas ao período 1981-2010) e precipitação pluvial diária (mm) referente a julho de 2021, em cinco municípios da Metade Sul do RS, que representam cinco das seis regiões arrozeiras do RS. Observação: devido à falha nos dados da estação meteorológica, a Planície Costeira Interna não foi representada na figura. Fonte de dados: INMET.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas
As condições Neutras do ENOS (El Niño-Oscilação Sul) seguiram predominando durante o mês de julho de 2021, segundo o relatório da NOAA-CPC (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center), divulgado no dia 12 de agosto de 2021.
A Temperatura da Superfície do Mar, na região Niño3.4, esteve com valores em neutralidade (-0,3 °C) em julho de 2021. Já a região Niño1+2 continuou com pequena área com anomalia positiva (+0,5 °C). Quando essa região tem anomalias positivas bastante intensas, ela favorece a entrada de frentes frias mais potentes e que geram maiores volumes acumulados de precipitações.
As águas no Oceano Atlântico Sul apresentaram temperatura próxima aos valores neutros e isso, também, não favoreceu as chuvas no RS.
Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar em julho de 2021
Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de julho de 2021. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no RS. Fonte: Adaptado de CPTEC/INPE.
O padrão de temperatura das águas subsuperficiais, na região do Oceano Pacífico Equatorial foi um dos poucos parâmetros com maiores mudanças no mês de julho. A evolução temporal da anomalia da temperatura das águas subsuperficiais (Figura 4) mostra que uma bolha de água com temperaturas abaixo da média ganhou força e, segundo os mapas da Temperatura da Superfície do Mar da última semana, já aflorou na superfície. Este é um indicativo de que o resfriamento em superfície deverá retornar. Se isso será suficiente para configurar um novo evento La Niña “são outros 500”!
Vale lembrar que esse aporte de água fria precisa ser razoavelmente intenso e persistente, para que a La Niña retorne. Além de outros parâmetros.
Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300m). Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.