Produção mundial deve mostrar recuperação
Pós pandemia, o mundo produzirá mais arroz e aumentará seus estoques
O primeiro impacto da pandemia de Covid-19 na produção mundial de arroz já era prevista: quase a totalidade dos países produtores aumentará a área, produção e investirá em tecnologias para ampliar a produtividade e seus estoques de segurança. Claro que nem todos terão as melhores condições climáticas, financeiras e da própria estrutura fundiária e tecnológica para fazê-lo, caso de diversos países africanos, da Oceania, das Américas e até da Ásia. Ainda assim, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) prevê um avanço de 1,5% na colheita mundial em 2020, para 766,7 milhões de toneladas (Mt) em base casca (509,1 Mt, base branco) pelo investimento nas lavouras plantadas após o surto global da doença, com destaque para a Ásia e os Estados Unidos. A expectativa para 2021 é de que a alta se mantenha, impulsionada pelo Mercosul, EUA e Ásia.
Em 2019, a produção mundial teria sido de 755 milhões de toneladas (501,3 Mt base beneficiado), queda de 1% em relação a 2018. “Na atual temporada espera-se um aumento da produção chinesa e indiana graças à ampliação das áreas e melhor condição climática. No Sudeste Asiático, principalmente Tailândia, a produção deve aumentar, mas abaixo do esperado, devido à seca que afetou a segunda safra. No resto da sub-região, a produção deve ter um avanço por causa da preocupação com a segurança alimentar”, explicou o analista do mercado mundial Patrício Méndez del Villar, economista do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), de Montpelier, na França.
Na África Subsaariana, e principalmente nas regiões ocidentais, as chuvas foram abundantes, favorecendo o desenvolvimento das lavouras. Mas as inundações recentes, as piores em 60 anos, podem afetar as safras que começarão nas próximas semanas. As perspectivas de aumento da produção africana em 2,9% podem ser reduzidas. No Mercosul, a safra 2020 foi positiva, marcando um aumento global da produção de 3,2% em relação a 2019. Nos Estados Unidos, a produção deve melhorar 17% graças ao aumento das áreas plantadas. Contudo, as más condições climáticas que afetaram as regiões de cultivo de arroz atrasaram as colheitas, o que também pode afetar a qualidade do arroz.
Fique de olho
Os estoques mundiais de arroz ao final de 2019 aumentaram 4,8% para 184,7 Mt contra 176,3 Mt em 2018, o maior nível histórico. Essas reservas representam 37% das necessidades globais, ou 136 dias de consumo sem que nenhum grão seja colhido no mundo. “A melhora adicional se deve ao aumento das reservas na China e na Índia e a Indonésia”, acrescenta Patrício Méndez del Villar. Os países exportadores também teriam aumentado suas reservas em 2019 para 45 Mt (25% dos estoques mundiais). As estimativas para 2020 indicam uma redução de 1,3% para 182,4 Mt. Essa contração poderia continuar em 2021 com uma projeção de 182,0 Mt, ou 0,2% a menos que em 2020. O consumo deve manter-se entre estável e com um aumento de 1%, apesar da pandemia.
Comércio mundial
As estatísticas globais mostram eu em 2019, o comércio mundial caiu 9% para 44,2 Mt contra 48,5 Mt em 2018. Os principais importadores asiáticos, exceto Filipinas, reduziram as demandas pelo grão, em especial o longo fino. “Já as importações africanas teriam sido menores em 2019, apontando para 16,7 Mt contra 16,9 Mt em 2018”, explica Villar.
Para 2020, as novas projeções foram reduzidas apontando uma baixa de 0,3% para 44,1 Mt. Dentro desta relativa estabilidade do comércio mundial, notam-se contrastes na oferta de exportação. As vendas tailandesas devem cair em 30%, marcando o nível mais baixo dos últimos 20 anos. O Vietnã, que esperava superar a Tailândia, deve manter o terceiro lugar no ranking, pois também teve dificuldades tanto nas colheitas, por causa do clima, quanto na competitividade. A Índia deve registrar uma recuperação de 25% nas exportações, consolidando a liderança mundial.
“As primeiras projeções para 2021 indicam aumento significativo no comércio mundial de 6,9% para 47,1 Mt, 3 Mt a mais do que em 2020, ainda refletindo a maior demanda provocada pela pandemia”, observa o economista do Cirad.
Safra cheia nos EUA
Na última década, o Mercosul passou a concorrer com os Estados Unidos pelo mercado de grãos longos-finos na América do Sul, Central, do Norte, África e Oriente Médio, Europa, entre outros clientes. Como se trata de um mercado limitado, a concorrência é cada vez maior.
Em 2019, os Estados Unidos tiveram quebra de 15% na safra. Assim, chegaram a março de 2020 com estoques comprometidos para novas vendas, o que tornou-se ainda mais dramático a partir da pandemia da covid-19 e gerou valorização inesperados.
Isso gerou um aumento de 21% na área semeada, enquanto a produção total se elevou 22%, para 8,28 milhões de toneladas de arroz beneficiado. “O comportamento de 2019 e o de 2020 foram motivadores”, explica Dwight Roberts, presidente da Associação de Produtores de Arroz dos Estados Unidos (USRPA). “Onde o México, Iraque vão comprar”?
Ainda que a demanda por merenda escolar e restaurantes tenha queda nos EUA, há uma forte tendência de atender alguns países com as compras represadas. O Brasil exportou bem no primeiro semestre, mas no egundo tornou-se comprador. Para tradings s que operam no Brasil, é importante que os EUA comecem a vender, e bem, ainda em 2020 e permaneçam assim até a safra. “A volta do fluxo de negócios norte-americanos deve gerar uma boa precificação, associada ao nosso câmbio favorável, e um volume ajustado de oferta, são fatores que poderão determinar até mesmo os nossos preços internos”, explica um agente de negócios brasileiro.