Produtores pedem prazo para o pagamento das dívidas de investimentos

Enquanto avaliam perdas da safra, produtores pedem prazo de 30 dias e anunciam bandeira pelo bônus de adimplência.

produtores pedem prazo para o pagamento das dívidas de investimentos

Produtores e presidentes de sindicatos rurais de Mato Grosso, reunidos ontem em Cuiabá, decidiram oficializar ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Ministério da Fazenda um prazo de cerca de 30 dias para o pagamento das dívidas de investimentos que começam a vencer neste mês. A proposta do ‘fôlego’ visa garantir a condição de inadimplente sem que haja qualquer sanção cadastral junto aos órgãos de proteção de crédito.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Rui Ottoni Prado, o pedido desta carência já é de conhecimento do Ministério da Fazenda.

– Tudo indica que teremos uma safra melhor do que a registrada no ano passado em relação à produtividade. Porém, sabemos que as chuvas prejudicaram várias lavouras localizadas no eixo da BR-163, ao norte e médio norte do Estado, mas este prazo é justamente para que tenhamos no final do mês um diagnóstico do impacto das chuvas, principalmente sobre a soja – explica Prado.

Segundo ele, é prematuro apontar perdas neste momento.

“Temos realidades diferentes entre os sojicultores. Há quem tenha registrado um bom desempenho e há quem esteja contabilizando prejuízos – acrescenta.

Para pedir prazos maiores ou condições diferenciadas de negociação ao governo federal, os produtores entendem que precisam ter todas as informações e comprovar a necessidade deste ou daquele prazo.

Mesmo cauteloso Ottoni revela que, juntamente com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), propostas “pós-fôlego” estão sendo discutidas.

– Prefiro não especular prazos adicionais para o reescalonamento de dívidas do setor, mesmo porque isso será fruto do impacto que observarmos nas lavouras. Mas uma coisa é certa, vamos trabalhar muito para conseguir premiar os produtores que puderem honrar os compromissos assumidos com bônus de adimplência – acrescenta. A extensão de prazos para até 180 dias não foi confirmada pelo ruralista.

O que ele antecipa é a premiação do produtor. O bônus de adimplência será uma forma de premiar o produtor que pode quitar seu compromisso. Não há dúvida de que vamos buscar uma forma de reescalonar débitos daqueles produtores que tiverem necessidade de prazos adicionais. As duas frentes estarão na nossa pauta {numa referência à Aprosoja e à Famato}).

As prestações de custeio da safra atual começam a vencer a partir do mês de junho. A sojicultura 06/07 demandou investimentos de cerca de R$ 5,75 a R$ 6 bilhões no Estado. De acordo com números da Aprosoja/MT, o custo por hectare plantado ficou em torno de R$ 1,100 e foram cultivados 5,25 milhões de hectares nesta temporada.

ARGUMENTOS – Para as lideranças rurais do norte e médio norte do Estado, os prejuízos já estão contabilizados: excesso de chuvas para soja e estiagen para o milho.

– Os produtores não terão condições de pagar as parcelas das dívidas que já começaram a vencer. Precisamos de um prazo para discutir e achar uma forma de prorrogar as dívidas, pois os produtores não vão ter renda. Acredito que vamos conseguir bancar apenas o pagamento das dívidas oriundas da safra deste ano. É preciso também rediscutir as taxas de juros, que estão extorquindo o patrimônio dos produtores – afirma o presidente do Sindicato Rural de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), Antônio Galvan.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Sorriso (460 quilômetros ao médio norte de Cuiabá), Nélson Luiz Piccoli, o objetivo é evitar execuções judiciais pelos bancos que financiaram as operações de investimento. O município é o maior produtor de soja do mundo, com cerca de 600 mil hectares destinados à oleaginosa.

Segundo ele, a região norte tem problema diferente do resto do Estado, pois a lucratividade foi afetada. Piccoli aponta que os dois maiores municípios produtores de grãos do país – Lucas do Rio Verde e Sorriso – terão queda de produtividade em função das chuvas no período da colheita, entre meados de janeiro e fevereiro.

PRAZOS – O superintendente de Varejo do Banco do Brasil (BB), em Mato Grosso, Renato Barbosa, admitiu ontem a possibilidade de conceder novos prazos para o pagamento das dívidas relativas a investimentos aos produtores que comprovarem prejuízos com a safra deste ano.

– Por enquanto, a nossa visão é de que não há necessidade de fazer uma prorrogação ampla e geral para o pagamento das dívidas – afirma Barbosa.

O Banco entende que o problema é restrito a alguns produtores e, por isso, está fazendo um levantamento para ver quem, de fato, poderá ter direito à prorrogação.

Segundo Barbosa, o BB está com uma equipe de 15 agrônomos fazendo uma radiografia do que está acontecendo no Estado.

– Depois deste levantamento é que poderemos fazer uma análise real da situação e identificar as áreas [lavouras] que tiveram problemas. Até agora, porém, não há nenhuma sinalização neste sentido. – afirmou.

O superintendente informou que os produtores que tiveram problemas devem procurar uma agência do Banco do Brasil e solicitar a prorrogação. Para tanto, eles terão de comprovar os prejuízos que tiveram na lavoura.

– Vamos analisar caso a caso. Inclusive, iremos fazer a vistoria nas lavouras indicadas pelos produtores. Este é um procedimento normal do Banco, que não depende de ninguém. Só entendemos que o benefício não poderá ser estendido a todos.

Barbosa adiantou que eventuais quebras de safra serão analisadas individualmente e a prorrogação deverá contemplar apenas dívidas de investimentos, cujos prazos já estão vencendo. Ele entende que não há necessidade de dilatação dos prazos para as dívidas de custeio, que começam a vencer a partir de junho.

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