QUEDA LIVRE

Trimestre de queda nos preços do arroz preocupa o setor.

O mercado brasileiro de arroz entrou na última semana do mês de outubro com a menor média de preços desde junho de 2009: R$ 25,55, segundo o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado. Segundo ele, o último trimestre do ano iniciou com ritmo lento nos negócios, com os engenhos sem necessidade de aquisição imediata e com os vendedores na defensiva, aguardando preços mais atrativos. 

No mercado gaúcho a média por saca de 50 quilos apresentou uma queda de 5,2% em relação ao final de setembro e de 5,3% frente a outubro de 2009. “Com um quadro de abastecimento ajustado, a fraqueza das cotações durante a atual temporada deve-se basicamente à pressão externa pela paridade de importação”, revela Bento. “Com preços internacionais em baixa e com o padrão monetário brasileiro valorizado em relação ao dólar, a possibilidade de compras externas a preços baixos impede qualquer recuperação no mercado doméstico”, sentencia. 

Para se ter uma ideia, no âmbito externo, a média de preços do arroz beneficiado 100% B na Tailândia nos sete primeiros meses do atual ano comercial brasileiro (março-setembro) recuou 17%, de US$ 565.00 por tonelada para US$ 470.00 por tonelada. Os tailandeses são os maiores exportadores do planeta e esta queda nas suas cotações obrigou os demais exportadores a realinharem suas cotações para baixo. Foi o caso dos Estados Unidos, que contam com o maior saldo exportável da história. 

Em agosto de 2009 a tonelada do arroz beneficiado (4-5%) nos Estados Unidos era cotada a US$ 540.00. No mesmo período de 2010 havia recuado para US$ 438.00 (-19%). Com esta situação internacional, os exportadores do Mercosul (Uruguai, Argentina e Paraguai) focaram suas vendas para o mercado brasileiro, onde as vantagens tributárias e logísticas possibilitavam negócios acima da realidade praticada pelos grandes players do Hemisfério Norte.

CÂMBIO
Em paralelo com os preços internacionais mais baixos em relação ao mesmo período do ano passado, a paridade de importação no Brasil era achatada pelo comportamento cambial (dólar/real). Nos sete primeiros meses da temporada anterior a média cambial foi de R$ 2,03 por dólar. Na atual recuou 12,2%, para R$ 1,78 por dólar. Convertendo-se as cotações médias praticadas no Rio Grande do Sul para moeda norte-americana, a atual temporada apresenta uma valorização de 13% em relação ao mesmo período da anterior, indo de US$ 13.66 para US$ 15.39 por saca. “Neste caso, se considerássemos a média das cotações em dólar da atual temporada e convertêssemos para o padrão monetário nacional, utilizando a média das cotações cambiais da temporada anterior, teríamos uma cotação de R$ 31,21 por saca de 50 quilos entre março e setembro de 2010”, revela Élcio Bento. 

Então, fica claro que a combinação das variáveis câmbio e preços internacionais exógenas ao abastecimento doméstico é que frustraram a expectativa dos agentes da cadeira orizícola de negociar num patamar de preços superior aos da temporada anterior. 

Fique de olho
A alta expressiva das cotações nos EUA a partir de outubro deve trazer modificações para a formação de preços no Brasil. Há um mês o arroz beneficiado norte-americano era cotado a US$ 440.00 por tonelada, contra US$ 500.00 por tonelada do mesmo produto no Uruguai. Na última semana de outubro o cereal norte-americano foi indicado a US$ 565.00 por tonelada (+28%). Esta alta significativa no mercado norte-americano abriu espaço para que os exportadores do Mercosul tirem um pouco o foco das vendas do mercado brasileiro. No Uruguai foi reportada exportação de arroz beneficiado a US$ 540 por tonelada FOB destinada a Porto Rico. Com isso, os exportadores do país vizinho elevaram o referencial de preços de US$ 510 por tonelada para US$ 530 por tonelada FOB. No arroz em casca também é possível ver uma maior firmeza nas cotações internacionais. Em Chicago a tonelada é cotada a US$ 314.00. No Uruguai a tonelada é cotada a US$ 290.00 por tonelada. 

Questão básica
Para Élcio Bento, analista da empresa Safras & Mercado, com uma redução superior a 1 milhão de toneladas na produção, o aperto no abastecimento ainda é uma variável a ser considerada. Enquanto existia a possibilidade de compra externa abaixo da realidade de preços praticados no mercado doméstico, este aperto passa despercebido. Porém, a intensificação da alta internacional pode ser o sinal de que a trajetória de queda no mercado doméstico está chegando ao final. A atuação do governo no mercado cambial para evitar uma apreciação mais acentuada da moeda brasileira em relação ao dólar é outro fator que corrobora para este sentimento. 

 

Mercado interno 

Além destas variáveis exógenas, é interessante destacar uma movimentação que ocorre no âmbito doméstico e que também pode indicar uma exaustão da tendência de queda, segundo o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento. Indústrias do Mato Grosso estão arrendando produção no Rio Grande do Sul para enviar arroz beneficiado com suas marcas para o mercado do Centro-oeste. Esta operação justifica-se pela escassez de oferta na região e pela alta das cotações, que estão acima de R$ 40,00 por saca de 60 quilos. No mercado gaúcho as indústrias encontram oferta de até R$ 24,00 por 50quilos (R$ 29,00 por 60 quilos). 

Até o momento esta demanda adicional não foi suficiente para dar um maior dinamismo ao mercado gaúcho, mas não pode ser ignorada. Se junta a estas variáveis uma possível atuação governamental. Por tudo isso, a tendência é que as cotações se recuperem em relação ao fundo do poço que atingiu em outubro. De qualquer forma, esta possível recuperação tem como limite a paridade de importação que até agora não permite grandes elevações.

 

Pressão externa define o mercado

 A comercialização da safra 2009/10 (ano comercial 2010/11) teve como principal característica o aperto no abastecimento doméstico e a pressão externa pela paridade de importação, dados os preços internacionais mais baixos e a força do real frente ao dólar. Na próxima temporada, ao que tudo indica, o abastecimento interno tende a ser mais tranquilo. Números de Safras & Mercado mostram que no ciclo comercial 2010/11, que vai do último mês de março até fevereiro de 2011, a oferta interna foi de 12,598 milhões de toneladas (1,038 de estoques de passagem e 11,560 de produção). Este montante é 302 mil toneladas inferior ao consumo, estimado em 12,9 milhões de toneladas. Daí a alta necessidade de importação. Na próxima temporada a oferta deve ser superior a 14 milhões de toneladas, superando o consumo doméstico em mais de 1 milhão de toneladas. Sendo assim, a esperança é que haja algum suporte pelos preços internacionais e/ou câmbio na formação dos preços domésticos. Olhando-se apenas para o âmbito externo, considerando que entre janeiro e julho estaremos em entressafra no Hemisfério Norte, a tendência é que a janela para exportação esteja mais acessível e, da mesma forma, a pressão pela paridade de importação seja menor. Se isso não ocorrer, poderemos ter um ano complicado para a comercialização. Tanto que o setor produtivo já pedirá recursos visando a comercialização da próxima safra na ordem de R$ 1,5 bilhão.

Uma pergunta
Élcio Bento, o que levou os preços ao fundo do poço em outubro?
“A justificativa está na paridade de importação. A combinação de preços internacionais enfraquecidos e de câmbio valorizado derruba a paridade de importação e achata as cotações no âmbito doméstico. No início de outubro de 2009 o grão em casca no principal fornecedor brasileiro (Uruguai) era cotado a US$ 300 por tonelada. No início do mesmo mês de 2010 a US$ 270.00 por tonelada, o que corresponde a uma retração de 10%. No lado cambial, a moeda norte-americana, que era trocada por R$ 1,80, recuou para R$ 1,66 (-7,7%). Então, convertido para o padrão monetário brasileiro, o cereal uruguaio recuou 17%, de R$ 540,00 para R$ 448,00 por tonelada. Já o preço do arroz no mercado gaúcho em dólares é apenas 0,46% inferior ao praticado no mesmo período do ano passado, vindo de US$ 15.67 por saca para US$ 15.60”.

 

É preciso cautela na hora de comercializar o arroz

A estratégia de grande parte dos produtores foi a de aguardar uma possível alta internacional e os reflexos sobre o mercado doméstico. Assim, lançou mão dos EGFs para garantir o fôlego financeiro e postergou as negociações. Segundo o analista Élcio Bento, da Safras & Mercado, até outubro a estratégia não se mostrou eficiente, pois a relação das variáveis (preços internacionais e câmbio) foi contra a recuperação dos preços. “Neste final de outubro a recuperação externa já mostra que existe espaço para elevação no âmbito doméstico. Para que esta elevação se efetive, contudo, é preciso que os engenhos voltem às compras”, afirma.
Bento lembra que o produtor precisa tomar cuidado para não se colocar de forma muito retraída esperando sempre preços mais altos, pois o espaço até a entrada da próxima safra é pequeno. Se a recuperação se efetivar, é preciso negociar e aproveitar o momento mais aquecido para evitar uma concentração de vendas quando a entrada da próxima safra estiver próxima, com pressão de oferta.

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