Quo Vadis a rizicultura matogrossense?
Autoria: Carlos Magri Ferreira – Analista da Embrapa Arroz e Feijão (GO).
O arroz produzido em Mato Grosso é de suma importância no equilíbrio do abastecimento e na garantia da segurança alimentar dos brasileiros. No entanto, a cadeia produtiva desse cereal no Estado não reconhece seu potencial e papel social, bem como não aproveita as vantagens econômicas que essa atividade pode trazer para a economia. Por outro lado, a rizicultura também é uma importante alternativa para a necessária rotação de cultura nos sistemas de produção no Mato Grosso.
Nesse contexto, no último dia 29 de setembro, ocorreu em Cuiabá, na Famato, o IV Seminário da Cultura do Arroz do Estado do Estado de Mato Grosso. O evento foi realizado pelo Siar-Sul, Sindarroz, Sebrae-MT, Famato, Empaer-MT, Secretaria de Indústria e Comércio, Embrapa, Fapemat, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e FIEMT, com apoio do Produtor Reis, RiceTec, Agroleste, Cabeça Branca sementes de arroz, Arroz São João, Arroz Rizon, Agronorte e arroz Urbano.
Foram apresentadas cinco palestras. A primeira, “Estratégias de produção sustentável do arroz em Mato Grosso”, foi ministrada pelo Dr. Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado, Chefe Geral da Embrapa Arroz e Feijão. Pedro Machado destacou que atualmente o papel da agricultura está relacionado à segurança alimentar, busca por agroenergia, mitigação e adaptação à mudança global do clima, conservação da água; preservação e uso sustentável da biodiversidade. Lembrou que a agricultura também tem funções relacionadas com os serviços dos ecossistemas; como o ciclo de nutrientes, fornecimento de alimentos, água doce, fibras, madeiras, combustíveis e a regulação do clima, regulação das enchentes, controle de enfermidades e a purificação da água. Portanto, os rizicultures devem incorporar esses conceitos as suas práticas, não só por questões ambientais e sociais, mas também por aspectos econômicos, haja vista que está ocorrendo mudanças de comportamento dos consumidores.
O Dr Maçao Tadano (Diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal – DIPOV/SDA/MAPA) apresentou a palestra “Interface entre a classificação e a qualidade do arroz. Para justificar o papel do MAPA e as propostas na Instrução Normativa 06, apresentou como vantagens da classificação vegetal: a) garantir a qualidade do produto destinado ao consumo; b) harmonizar conceitos (fixar terminologias) e facilitar o comércio (uniformizar o diálogo), c) remunerar com preço justo o produto de melhor qualidade e apresentação; d) proporcionar ao consumidor informações sobre a qualidade do produto (subgrupo – classe e tipo no caso do arroz); e) controlar a qualidade dos produtos importados; f) facilitar a fixação de preços mínimos, promovendo a formação de estoques reguladores e atendimento aos programas sociais, g) proporcionar subsídios aos orgãos públicos e privados de pesquisa e assistência técnica.
O analista da Conab, Paulo Morceli, apresentou a palestra “Conjuntura e perspectiva do arroz para safra 2010/11”, mostrou que não há indícios de grandes alterações no cenário mundial, que apesar dos estoques de passagens no Brasil estarem baixos não há perigo de desabastecimento, que historicamente os preços do arroz de terras altas e arroz irrigado possuem o mesmo comportamento e que recentemente o arroz de terras altas passou a custar mais caro do que o irrigado. O analista da Conab disse ainda que na maioria das vezes quando o produtor armazena arroz esperando preços mais altos não é compensador, considerando o custo de carregamento (despesas com estocagem e outras). Que o custo de produção de saco de 50 quilos do arroz irrigado e de terras altas são semelhantes.
O diretor do Siar-Sul e empresário da indústria arrozeira, Mauro Cabral, apresentou a palestra “Perspectivas para a indústria do arroz em Mato Grosso”. De acordo com o dirigente do Siar-Sul, nos últimos 5 anos, o arroz em Mato Grosso melhorou 18% em termos de qualidade e que nos e últimos anos a cultura apresentou uma viabilidade acima da média para o produtor de arroz.
Em termos de futuro, Mauro tem a visão de que a Região Sul continuaria abastecendo todo o Brasil com arroz irrigado. No entanto, Mato Grosso teria condições de atender várias regiões do Brasil com arroz de terras altas. O ideal seria que a Região Sul atendesse o mercado internacional com parte da sua produção e os estados centrais completariam o abastecimento do mercado interno. Embasou sua proposta apresentando dados de preços comparativos de frete nacional e internacional, corroborando a viabilidade econômica da proposta.
Propostas para a cadeia do arroz em Mato Grosso: a) reativar o Fundo do Arroz (Lei 7607/01); b) criar a câmara setorial estadual do arroz; c) organizar uma instituição representativa dos Produtores de arroz; d) indicar uma instituição para representar a categoria dos rizicultores do Mato Grosso na Câmara nacional do Arroz do MAPA em Brasília.
O engenheiro agrônomo Seneri Kernbeis Paludo representou o diretor presidente da Famato, Dr Rui Carlos Ottoni Prado, e apresentou a palestra “Produção de arroz em Mato Grosso: Desafios e perspectivas”. Seneri ressaltou que atualmente a participação do Estado é 6% e que chegou produzir 20% da produção nacional.
Para o diretor da Famato, as principais necessidades da rizicultura matogrossense são: investimentos em tecnologia; disponibilização de novas variedades, aprofundamento e transferência de resultados de pesquisa e desenvolvimento do arroz de terras altas; estabelecimento e aperfeiçoamento de política de apoio à comercialização (PEP, PEPRO, AGF, Preço Mínimo); atuação institucional na classificação do arroz. Por fim, considera essencial a criação do Fundo do Arroz – Fundarroz.
Comparado o IV Seminário com anteriores, chega-se a conclusão que está havendo uma evolução na abordagem dos temas e que começam aparecer convergência de idéias. Por outro lado, os questionamentos e desafios estão em consonância com as atividades propostas no projeto “Desenvolvimento de tecnologias para a cadeia produtiva do arroz de terras altas em Mato Grosso”, que está sendo liderado pela Empaer-MT e conta com financiamento da Fapemat. O projeto tem duração prevista até 2013. O planejamento estratégico da Famato contempla produzir e industrializar no estado, no caso do arroz, essa entidade se propõe fazer o link entre esses elos da cadeia produtiva. Além disso, a Famato colocou à disposição sua estrutura para difundir propostas e tecnologia até os produtores
Conforme disse o diretor da Famato, “os agentes envolvidos na transformação da rizicultura matogrossense não devem perder o foco, pois as oportunidades são maiores que os desafios”. Com esse espírito foi definida uma nova reunião para tratar e encaminhar os seguintes assuntos: a) realizar, via IMEA, levantamentos e divulgar dados sobre a rizicultura matogrossense; b) intensificar as ações para divulgar as possibilidades da integração lavoura e pecuária; c) levantar informação sobre o Fundo do Arroz – Fundarroz. Nessa reunião, também serão identificados pontos levantados no seminário com aderência aos propostos no projeto “Desenvolvimento de tecnologias para a cadeia produtiva do arroz de terras altas em Mato Grosso” e estabelecer uma agenda estratégica.
3 Comentários
temos de autuar junto ao governo ao menos a pratica de um preço minimo razoavel e que funcione, pois quando de nossas colheitas ficamos a merce de especuladores e baixa violenta de preços.
Neste seminário tinha somente um produtor e nenhum representante do Sindicato das Industrias de Arroz de Mato Grosso. As Palestras foram excelentes.
Sr. Carlos. Acesse o meu blog http://www.jorgefagundes.com.br/blog e comente os artigos e também colabore postando os seus artigos.
Abraço,
Jorge Fagundes
o custo de arroz de terra alta ou sequeiro é muito mais baixo que de irrigado ou inundado nao tem comparaçao.e preço minimo deveria entao ser por regiao.