Reação em cadeia
A forte recuperação dos preços ao produtor
nos últimos meses
cria boas perspectivas
para a nova safra
que vem por aí
.
O ano de 2012 está sendo positivo para os produtores brasileiros de arroz, principalmente para aqueles que tiveram condições de comercializar a safra no segundo semestre. Os preços do cereal registraram uma forte recuperação nos últimos meses, chegando a ser negociado na faixa de R$ 40,00 a saca de 50 quilos nos principais centros produtores do sul do país, que representa cerca de 75% da produção nacional. No Mato Grosso, onde os estoques acabaram no início do segundo semestre, este valor superou os R$ 50,00 para a saca de 60 quilos.
Na avaliação do analista da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, Tiago Sarmento Barata, foi um ano de correção da desvalorização acumulada no período anterior. Segundo ele, faltando ainda quatro meses para a entrada da próxima safra, a cotação média do cereal em casca no Rio Grande do Sul sofreu uma valorização de 45% desde o início do ano comercial.
Para Barata, o ano também foi especial por estabelecer um novo formato de coordenação e formação dos preços na cadeia produtiva. “Mais do que se via anteriormente, o produtor passou a ter maior capacidade de negociação. Isso se deve, em grande parte, à maior participação das exportações na conjuntura do mercado do arroz brasileiro. Enquanto os preços forem competitivos haverá liquidez, enxugando excedentes e minimizando a sua pressão baixista nos preços”, estima.
Outro fator que contribuiu para este cenário, na opinião do analista, foi a valorização com posterior manutenção do dólar acima de R$ 2,00. “Em razão da alta do dólar, nos primeiros cinco meses do ano comercial, a cotação do arroz brasileiro na moeda americana permaneceu estável, apesar da valorização do produto em reais. Ou seja, a competitividade do arroz brasileiro no mercado externo não sofreu nenhum prejuízo neste período porque a valorização foi absorvida pela valorização do dólar em relação ao real”, compara.
NATURAL
De acordo com o analista, a valorização do arroz beneficiado foi uma consequência natural à alta do cereal em casca, e também pode ser vista como uma recuperação em relação ao patamar extremamente desvalorizado que vinha sendo praticado até então. “Por ainda ser o arroz um alimento básico da alimentação da população brasileira, componente de maior importância na dieta da população de mais baixa renda, é também natural que haja pressão por parte da sociedade para que o produto permaneça o mais acessível possível aos consumidores”, observa.
Conjunto de fatores garante a alta
O economista do sistema da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, atribui a evolução dos preços a uma série de fatores. “A produção brasileira sofreu uma forte queda em 2012, fechando em 11,6 milhões de toneladas. A redução foi de 15% na comparação com as 13,67 milhões de toneladas colhidas na safra 2010/11. A crise no setor e a migração parcial para a soja em várzea foram as principais razões para a queda na produção. Além da menor produção, ainda houve um grande salto nas exportações, que superaram 2 milhões de toneladas, enquanto as importações recuaram 20%, ficando em 900 mil toneladas”, explica.
Diante da produção menor, exportações em alta e importações em baixa, Antônio da Luz avalia que os estoques de arroz devem fechar 2013 em níveis baixíssimos. “Estes fundamentos altistas se refletem no preço, que, no caso do Brasil, descolou-se completamente do preço internacional”, observa.
Mas para o economista, o mercado internacional também deu uma mãozinha para alavancar os preços internos. “A produção mundial de arroz teve um incremento importante em 2012, mas o consumo cresceu ainda mais que a produção”, revela. Com base nesse cenário, espera-se uma queda nos estoques mundiais para 2013.
QUESTÃO BÁSICA
A produção do Mercosul, principal exportador para o mercado brasileiro, teve queda de 16% em 2012. E para 2013 se espera uma produção ainda menor. “Até o momento, o Mercosul não apresenta condições de abastecer o mercado brasileiro a ponto de gerar tendência de mudança nos preços, pois os estoques também estão baixos nos países do bloco”, estima o economista Antônio da Luz, da Farsul.