Recuo estratégico

 Recuo estratégico

Santana: mais rentável que a soja

Mesmo colhendo menos, o MT volta a ocupar a 3ª posição no ranking dos estados produtores.

Ao contrário do cenário positivo vivido pelos setores de milho, soja e algodão, a produção de arroz do Mato Grosso vem amargando quedas consecutivas. De acordo com o levantamento divulgado em abril pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), serão cultivadas nesta safra 687,4 mil toneladas do cereal. Na temporada passada foram 742,7 mil toneladas, 7,4% a mais que neste ano.

Acompanhando esta tendência, a área plantada também deverá diminuir (9,04%), mas a produtividade média aumentará 2,56% em relação à safra 2009/10. Ainda assim, o estado ocupará a terceira posição no ranking dos maiores produtores de arroz, que havia perdido para o Maranhão.

O presidente do Sindicato das Indústrias do Arroz de Mato Grosso (Sindarroz-MT), Ivo Fernandes Mendonça, explica que a valorização das demais culturas enfraqueceu a produção de arroz: “O mercado determina se haverá aumento, ou não, da produção".  Segundo o dirigente, a previsão para os próximos anos é de que o plantio do arroz no estado se mantenha estável.

A queda na produção do estado, na análise de Mendonça, acompanha a dinâmica de baixos preços pagos aos produtores nas safras passadas, aliada às restrições impostas pelos órgãos ambientais, que levaram muitos agricultores a abandonar a atividade e investir na soja. No entanto, com a recuperação dos preços do arroz e a crise mundial de alimentos, a cultura despertou novamente o interesse do produtor.

A volta por cima

Para o engenheiro agrônomo da AgroNorte Pesquisas e Sementes, Mairson Santana, o arroz, que parecia estar com os dias “contados”, ressurge com a possibilidade de se tornar a nova vedete do agronegócio nos próximos anos. Motivos para isso não faltam: os preços se recuperaram e novas tecnologias foram criadas. Além disso, o arroz está migrando para terras velhas, na rotação com a soja, favorecida pela descoberta de novas cultivares.

O agrônomo garante que o arroz hoje é mais rentável que a soja no estado. Ele explica que, se os rizicultores aplicarem as tecnologias disponíveis, poderão colher até 80 sacas de arroz por hectare, uma produtividade excelente. “O preço do arroz é menor que o da soja, mas a alta produtividade e os menores custos de produção compensam e chegam a dar lucro ao produtor”, avalia.

O CÁLCULO

Santana conta que o produtor que está plantando arroz no lugar da soja tem alcançado bons resultados no Mato Grosso, principalmente por causa dos gastos. “Para colher 75 sacas de arroz (4,5 mil quilos por hectare), o produtor desembolsa R$ 1,2 mil por hectare – custo financeiro total, incluindo aluguéis, máquinas e arrendamento da terra. Vendendo ao preço de R$ 30 a saca – cotação média da última semana –, o produtor consegue renda bruta de R$ 2,25 mil por hectare. Tirando-se as despesas (R$ 1,2 mil por hectare), ainda sobra um lucro de R$ 1,05 mil por hectare, coisa que na soja é algo impossível considerando-se os custos de plantio, que passam de R$ 1,3 mil para o produtor. Alcançando uma produtividade de 55 sacas por hectare (3,3 mil quilos por hectare) e vendendo cada saca ao preço de R$ 36, a renda bruta chegará a R$ 1,98 mil por hectare, ou seja, rentabilidade de R$ 680, o equivalente a 64,76% do lucro obtido com o arroz”, calcula.

O agrônomo destaca que há pelo menos quatro anos o arroz é mais rentável que a soja no estado. “Entretanto, poucos produtores perceberam isso e continuam insistindo somente na soja”, observa.

A cultura do arroz de sequeiro renasceu no Mato Grosso. Os rizicultores vivem um novo momento de alta e devem produzir, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 687 mil toneladas, o que volta a colocar o estado do Centro-oeste no terceiro lugar do ranking nacional, atrás apenas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Para o engenheiro agrônomo da AgroNorte Pesquisas e Sementes, Mairson Santana, o renascimento se deve, principalmente, a três fatores: melhoria na pesquisa que desenvolveu novas variedades, utilização de arroz na rotação de culturas e uso do cereal para recuperar pastagem de pecuária degradada. “Os produtores rurais voltaram a acreditar no arroz. Têm plantado bastante para fazer a rotação de cultura com a soja e para a recuperação de pastagem, mas isso não seria possível se não tivéssemos material de qualidade para dar retorno de produtividade e lucro”, destaca.

A variedade Cambará, desenvolvida pela AgroNorte, domina 70% do mercado mato-grossense. “O Cambará não teria tanto espaço no mercado se tivesse adquirido credibilidade com os agricultores durante os dias de campo realizados pela empresa. Fazemos vários tipos de divulgação, mas são os dias de campo que nos colocam em contato direto com quem produz”, acrescenta Santana.

Neste ano, a empresa rodou o estado para apresentar alternativas que permitem a cultura do arroz. As regiões norte e central do Mato Grosso apresentaram o arroz como alternativa para recuperar a pastagem degradada, problema que assola quase 70% dos pecuaristas mato-grossenses.

PESQUISA

A rotação de cultura foi apresentada no Dia de Campo em Sinop, cidade sede da empresa que fica 500 quilômetros ao Norte de Cuiabá, para 900 pessoas. Agricultores conheceram uma pesquisa de 10 anos que mostrou a viabilidade para se produzir duas safras num único verão. “Mostramos que é possível plantar arroz na safra, na safrinha e fazer dobradinhas com feijão e soja”, explica.

A ideia agradou ao sojicultor Lauri Calgaro, dono da Fazenda Araçatuba, na cidade de Vera, que pensa em plantar arroz na segunda safra. “Vou estudar a situação e tentar implantar na minha fazenda, pois pode ser mais uma fonte de renda na fazenda”, avalia. 

Produtores voltam a acreditar no arroz

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