Retorno da La Niña atrasa e pode ter seu início só em 2025

Com um outono caracterizado por chuvas acima da média climatológica em grande parte do Rio Grande do Sul, o inverno começou com precipitações levemente superiores à climatologia, ultrapassando 250mm no Nordeste, Centro-Leste e na Região Metropolitana de Porto Alegre em julho.

O fenômeno El Niño é conhecido por sua grande influência sobre as condições climáticas do Rio Grande do Sul. Os anos de ocorrência desse fenômeno estão relacionados ao regime de chuvas e com a produtividade do arroz gaúcho. Sob El Niño, embora haja o reabastecimento das reservas de água do solo e reservatórios para irrigação, o período de semeadura pode atrasar e, na floração, há redução na disponibilidade de radiação solar. O efeito é inverso sob La Niña, quando a radiação solar direta é mais intensa e mais difícil a manutenção dos reservatórios.

Desde o início do ano, os modelos oceânicos já apontavam para o enfraquecimento do El Niño e o possível estabelecimento da La Niña. Em fevereiro, os modelos indicavam, em mais de 60% de probabilidade, o início a partir de julho-agosto-setembro. Mas, com o passar dos meses, as previsões começaram a adiar o retorno. As últimas projeções sugerem La Niña de fraca intensidade, com temperaturas variando entre -1 e -0,5°C, iniciando em setembro-outubro-novembro, de curta duração, podendo decair ainda no primeiro semestre de 2025 (fig. 1).

Com chuvas previstas, espera-se a manutenção da umidade do solo, favorecendo o armazenamento hídrico. O saldo da precipitação menos evapotranspiração (fig. 2) mostra a constância da umidade no solo para o trimestre agosto-setembro-outubro, favorável à semeadura. A previsão também é de 10 a 14 dias mensais de chuva na região de terras baixas (fig. 3). Para o verão, na floração, espera-se configuração mais clara de La Niña e o volume de chuvas deve iniciar a diminuir.

Portanto, é crucial que o arrozeiro esteja atento às atualizações nas previsões climáticas e de tempo para programar o manejo da lavoura. Informar-se permitirá ajustar as práticas agrícolas conforme o clima, garantindo, assim, uma melhor produtividade e eficiência no cultivo.

Figura 1 – Projeções climáticas dos modelos de previsão para a anomalia da TSM para a região do El Niño. Fonte: International Research Institute for Climate and Society da Columbia Climate School
Figura 2- Armazenamento de água no solo (P-ETP) previsto para os meses de agosto (AGO), setembro (SET) e outubro (OUT). Fonte: Daniel Caetano (Milibar Meteorologia e Ciência de Dados)
Figura 3- Dias de chuva previstos para os meses de agosto (AGO), setembro (SET) e outubro (OUT). Fonte: Daniel Caetano (Milibar Meteorologia e Ciência de Dados)

Dr. Daniel Caetano Santos
Meteorologista da UFSM

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