Rio dos Sinos e a lavoura de arroz
Autoria: Produtores de arroz do Vale do Rio dos Sinos.
A pergunta ocorre sempre que a estiagem reduz a sua vazão e as manchetes anunciam: “O rio está seco”.
Na opinião dos arrozeiros, responsáveis por significativa fatia do PIB e retorno de ICMS de diversos municípios da região, o rio serve a todos os segmentos que fizerem bom uso de seus recursos. Especialmente o segmento que devolve a água em melhores condições que captou.
A lavoura está nas várzeas do Sinos há 110 anos. E nos últimos cinco adotou modernas tecnologias para racionalizar o uso da água e aumentar a produtividade. Os arrozeiros investiram R$ 1,7 mil por hectare em sistematização de solo e equipamentos que reduziram em 50% a captação de água. Diga-se de passagem, o único segmento que fez investimentos desta dimensão para reduzir consumo, preservar o rio e colaborar para que atenda com eficiência à demanda da população. A tecnologia é referência internacional e usa 0,8 litro de água por quilo de grão produzido. Infelizmente, antes de conhecer esta realidade houve quem preferisse atacar a lavoura para encontrar um bode expiatório.
É preciso elogiar o trabalho que a Companhia Rio-grandense de Saneamento (Corsan) faz na região, inclusive socorrendo municípios vizinhos com água tratada, que até fevereiro não gerou problemas em nenhum dos pontos de captação no Vale dos Sinos. A empresa realizou investimentos antecipados e planejamento estratégico, preparando-se para a estiagem do verão.
Também é necessário elogiar o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos por sua conduta como fórum legítimo de discussão técnica dos temas que reúnem todas as partes interessadas neste manancial e que tem como maior objetivo preservá-lo e, se possível, melhorá-lo.
Comitê este onde há cinco anos foi apresentado um estudo que mostrou 44 pontos possíveis de reservação de água no Rio dos Sinos, para minimizar os efeitos das estiagens e gerar energia elétrica.
Deve-se lembrar que ao longo do ano chove em média na região 1.800 milímetros, com ocorrência de enchentes. Mas nenhuma gota é reservada para o momento de escassez, por falta de investimentos públicos e privados. Estudos do Irga mostram que quando o Rio dos Sinos baixa a uma vazão de 16 metros cúbicos/segundo, a captação das companhias de abastecimento, lavouras de arroz e indústria consomem sete metros cúbicos/segundo, restando ainda nove metros cúbicos/segundo para desaguar no Guaíba. O volume que sobra não consegue arrastar esgotos e resíduos industriais não tratados jogados no rio. E isso, sim, gera risco aos peixes e à saúde humana.
A qualidade da água deste manancial, nas áreas de Novo Hamburgo e São Leopoldo, no verão é comparável ao Rio Tietê, em São Paulo, de tão poluída pelos dejetos recebidos. O que exige investimentos em tratamento de efluentes líquidos e reservação de água, e não apenas discursos vazios contra a lavoura.
Portanto deixamos claro que a lavoura de arroz não mata os peixes. Pelo contrário, oferece a eles um refúgio para reprodução e os devolve ao manancial para completarem o ciclo de vida. Estudos de instituições e universidades mostram que a lavoura devolve aos mananciais uma água de melhor qualidade, pois o cultivo irrigado atua como um tratamento natural: absorve minerais e matéria orgânica e degrada elementos poluidores com a ação de bactérias.
A lavoura de arroz é a única que cria um banhado artificial em pleno verão, devolvendo a água utilizada ao rio pela percolação e drenagem em pré-colheita. Também produz massa verde ao longo de todo o ano, contribuindo com o ecossistema. É bom lembrar o renomado ambientalista José Lutzenberger ao afirmar que a lavoura de arroz, bem conduzida, beneficia o meio ambiente.
Os problemas que vêm com a estiagem no Rio dos Sinos só serão solucionados de forma definitiva com duas ações: o tratamento de esgotos urbanos e resíduos industriais e a reservação de água. Isso exigirá do poder público mais do que discursos. Exigirá investimentos, planejamento e ações práticas. Os arrozeiros têm argumentos técnicos que embasam suas afirmações. É o que falta para quem quer acabar com a lavoura. Em vez de acusações que desviam o foco do problema é preciso unir esforços entre os atores deste processo no sentido de buscar recursos e resolver o problema definitivamente.