Rodrigues desabafa e critica governo e “aproveitadores”

Ministro da Agricultura diz que fica no cargo enquanto os agricultores quiserem, mas confessa estar cansado de buscar soluções e tentar convencer o Governo Federal de que a crise na agricultura afetará toda a economia.

Pressionado por produtores que buscam uma solução definitiva do governo federal sobre o endividamento setor, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que “a crise está cada vez mais profunda”. E desabafou: “Estou cansado. É muito duro convencer o governo sobre uma crise que afetará toda a economia”, disse. “Sou agricultor e acredito nesse negócio. Mas, às vezes, perco a esportiva. Tenho trabalhado todos os dias, e não faço outra coisa para administrar isso”.

Amigos e aliados de Rodrigues, sobretudo no Congresso, têm falado sobre sua disposição em deixar o governo Lula. Na noite de segunda-feira, em evento na Bahia, o ministro deu um claro sinal sobre qual é seu limite de permanência: “Enquanto a classe rural quiser, estarei lá. Vocês [classe rural] são responsáveis por isso”. Rodrigues disse que a crise política, baseada em denúncias de corrupção e compra de votos no governo, pode afetar ainda mais o setor rural: “Se pegar a economia como um todo, vamos de cambulhada”. Mas ressalvou: “A crise ainda não afetou a agricultura. Só não resolve [a crise econômica do setor] porque [o governo] não tem dinheiro”. Mas criticou os “aproveitadores” da crise. “Quem não pagou até o ano passado é porque não quis pagar […] Tinha dinheiro e não quis pagar. Sempre tem o oportunista. Não podemos misturar o que é legítimo com o que é aproveitamento”, afirmou.

Os produtores lembraram que nem um centavo do pedido feito por Rodrigues à equipe econômica do governo federal, no começo deste ano, foi autorizado. O ministro, que pedia R$ 1 bilhão à comercialização da safra, afirmou que, “por razões alheias à nossa vontade ainda não temos nada publicado”. E voltou à tese do “cobertor curto” defendida pelo Ministério da Fazenda. Irritado ao ser confrontado com a lentidão do governo, Rodrigues lembrou a destinação de outros R$ 1 bilhão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para renegociação das dívidas dos produtores com seus fornecedores. Mas foi contestado – “ainda não avançamos um milímetro nisso. As tradings não querem dar seu aval”, reclamou o produtor Gilberto Göellner, que planta 20 mil hectares em Pedra Preta (MT) – e reconheceu: “Não tem havido boa vontade das indústrias […] Chamei 47 empresas para um reunião e eles disseram que iam colaborar, mas até agora nada foi feito”.

Pelas regras, as tradings têm que avalizar a troca de papéis que garantem as dívidas dos produtores nos bancos. “Houve um recuo. As indústrias têm que entender. Jamais vamos tirar o risco de quem já está nele”, reforçou o vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, Ricardo Conceição. “Reduzimos o spread [de 8,75% para 5% ao ano] e demos o dinheiro mais barato possível”, afirmou. As empresas alegam não ter autorização de suas matrizes no exterior e dizem que já têm garantias reais para executar os produtores. Ainda assim, Conceição informou haver R$ 227 milhões renegociados dentro das regras do FAT.

No desabafo, o ministro também criticou a falta de recursos para a defesa agropecuária. “O orçamento da defesa é ridículo. Tem faltado sensibilidade ao governo federal”. Segundo ele, porém, são poucos os governos estaduais dispostos a contribuir. “Alguns dizem: “Ah, mas eu não exporto nada e não tenho a ver com isso”. Temos problemas com quem não vacina e com o contrabando de gado de países que não vacinam”. Segundo Rodrigues, o governo “está muito preocupado” com a avaliação que a missão da União Européia fará do rebanho brasileiro. A UE rebaixou o status do país para a doença da “vaca louca” e pode restringir as vendas de carnes em função de falhas no combate a outras doenças. E criticou o modelo de rastreabilidade adotado pelo país. “Era fajuto, não era crível”, disse sobre esse que é um dos principais alvos da missão européia.

Sobre a abertura para as importações de defensivos genéricos, Rodrigues rebateu as acusações de que haveria uma decisão “indiscriminada” para o assunto. “A lei proíbe isso. Não vamos fazer dessa maneira”. Segundo ele, há um mutirão de técnicos da Agricultura, Saúde e Meio Ambiente para analisar 22 pedidos para importação. “Até fim de setembro vamos terminar tudo”, garantiu.

O ministro também deu poucas esperanças aos produtores que esperam a liberação final do plantio do algodão transgênico no país. “Não sai nada até não haver pesquisas e até agora não houve autorização para isso”. Ele admitiu ter havido dificuldades com os transgênicos no país, mas ressaltou o consenso sobre a regulamentação da Lei de Biossegurança. “Não acredito que o Meio Ambiente vá criar mais dificuldades. Agora, há convergências. Não vou meter o pau no meu governo”.

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