Rumo à autossustentabilidade
Nesta entrevista exclusiva concedida à revista Planeta Arroz ele fala sobre infraestrutura logística, exportações e como as obras de reforma no Porto Marcio Rogério Pilger assumiu a presidência da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) em abril de 2013. Natural de São Jerônimo (RS) e formado em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), possui longa experiência na área de gestão pública. Também foi chefe de gabinete do prefeito de São Jerônimo e vereador e presidente da Câmara de Vereadores daquele município.
Nesta entrevista exclusiva concedida à revista Planeta Arroz ele fala sobre infraestrutura logística, exportações e como as obras de reforma no Porto de Rio Grande vão impactar na reestruturação da entidade responsável pela política oficial de armazenagem do Rio Grande do Sul.
Planeta Arroz – Qual é o foco do trabalho da atual diretoria?
Marcio Rogério Pilger – A gestão administrativa da Cesa foi identificada como a questão mais problemática. A estatal vinha atravessando uma situação muito delicada ao longo dos últimos anos devido a uma série de fatores. Já conseguimos alcançar resultados positivos, hoje estamos com os compromissos fiscais, trabalhistas, fornecedores e folha de pagamento todos em dia. É como disse o secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, Claudio Fioreze, a Cesa saiu da UTI e agora está no quarto. Nosso foco é sanar toda a questão do passivo, que ainda é gigantesca, e, concomitantemente, deixá-la pronta para ser autossustentável, sem repasse do Estado. Esta é a nossa grande utopia, fazer com que a companhia consiga andar com as próprias pernas e retome sua função pública.
Planeta Arroz – E como o senhor define este papel social?
Marcio Rogério Pilger – Sempre cito algumas unidades da Cesa, como a de Camaquã, por exemplo, onde trabalhamos muito com o arroz. Em função da tarifa do produto, em que o produtor paga pela armazenagem com o próprio grão, passa a existir outro tipo de relação entre a unidade armazenadora e o cliente. A companhia passa a desempenhar seu papel social no momento em que atende o agricultor que não tem um silo para armazenar seu produto e utiliza a estrutura da Cesa para esta finalidade. É também o caso da unidade de Rio Grande, que, por ser pública e tratar especificamente de arroz, atrai o interesse de todo mundo que quer exportar e busca ter acesso a um terminal para armazenar e posteriormente escoar seu produto. No meu ponto de vista, esta relação é fundamental.
Planeta Arroz – Qual a estrutura atual da Cesa?
Marcio Rogério Pilger – A Cesa está presente em 18 municípios do RS com 20 unidades em operação. Temos uma unidade frigorífica, em Capão do Leão, e três portuárias, em Rio Grande, Porto Alegre e Estrela, sendo que as demais são destinadas à armazenagem de grãos como arroz, milho e trigo. No caso do arroz, temos as unidades de Camaquã, Bagé e Cachoeira do Sul. A unidade do Porto de Rio Grande, por exemplo, tem capacidade estática para armazenar 51,5 mil toneladas de grãos e é por onde são escoadas cerca de 30% das exportações brasileiras de arroz.
Planeta Arroz – Como o senhor avalia a questão da logística do grão no país e no estado?
Marcio Rogério Pilger – Tenho conversado muito com a Associação Brasileira de Armazenagem (Abcao) e entendemos que a logística do grão vai estar no debate central das políticas públicas de qualquer estado produtor e dos próximos períodos eleitorais. No âmbito do RS, acreditamos que o papel futuro da Cesa não deverá ficar restrito somente à questão da armazenagem, e sim discutir a logística do grão. Municípios como Cruz Alta, Santo Ângelo, São Luís Gonzaga, Bagé, São Gabriel e Estrela possuem modais ferroviários e rodoviários. A ligação com o Porto de Rio Grande para exportação poderia ser feita também pelo modal ferroviário. Isso ajudaria a reduzir um pouco o fluxo de caminhões na estrada, mudando este formato, com redução de custo para o exportador.
Planeta Arroz – O que muda na Cesa com as obras de modernização do Porto de Rio Grande?
Marcio Rogério Pilger – Estamos otimistas. Atualmente, pelo terminal da Cesa no Porto de Rio Grande podemos carregar navios de até 14 mil toneladas. Depois das obras que preveem o aumento do calado vamos poder carregar navios muito maiores. Isso reconfigura o modelo de como as exportações de arroz estão sendo conduzidas no porto. Hoje, o exportador que está usando o terminal da Cesa carrega uma parte do navio ali e quando ultrapassa o limite de 14 mil toneladas precisa concluir o carregamento em outro terminal. Com a conclusão das obras e o aumento do calado, o custo dessa operação será reduzido porque o exportador vai conseguir carregar tudo conosco.
Planeta Arroz – Paralelamente às obras do porto estão previstos investimentos no terminal da Cesa?
Marcio Rogério Pilger – Sim. Algumas já estão em andamento, como a obra do tombador, que já está 70% concluída. O clima chuvoso não está ajudando, mas o trabalho está sendo feito. Também vamos investir na reforma das células de armazenamento para ampliar nossa capacidade estática das atuais 51,5 mil toneladas para 60 mil. Neste aspecto, é importante lembrar que o sistema de armazenamento da Cesa apresenta uma grande vantagem, que é a segregação do produto, no caso do arroz, de acordo com a sua variedade e classificação, já que são mais de 60 células. Não há, portanto, mistura de um grão com o outro. Outra etapa importante é o alfandegamento, cuja licitação já foi aberta. Também estamos desenvolvendo tecnologias para o monitoramento do grão, como termometria, tudo digitalizado. Vai estar tudo bem moderno para a safra do ano que vem.
Planeta Arroz – O terminal, portanto, não deverá operar durante este período de obras. Já existe uma previsão sobre o prazo de início e término do trabalho e como isso vai afetar as exportações de arroz?
Marcio Rogério Pilger – A Superintendência do Porto de Rio Grande vai nos notificar o tempo que for necessário, talvez 90 dias antes do início da obra. Claro que vamos parar de operar nesse período de obras, que deve durar seis meses. São quatro etapas e a primeira é a nossa. Mas vai ser um tempo interessante para a Cesa. Se isso ocorrer em setembro deste ano significa que vamos poder voltar a operar em março de 2015 já com uma capacidade maior de carregamento. Em compensação, a nossa parte vai ser a primeira a estar pronta no ano que vem. Nesse meio tempo vamos trabalhar para melhorar a unidade no que diz respeito ao recebimento e à expedição. Acredito que deva atrapalhar um pouco as exportações, mas não muito, em função do volume exportado. É uma operação muito complexa, mas para comer o ovo é preciso quebrar a casca. Além disso, a Superintendência do Porto deverá destinar um espaço para o arroz nos terminais da Termasa e Tergrasa.
Planeta Arroz – Vai ser possível ampliar o volume das exportações?
Marcio Rogério Pilger – Vamos tomar como referência o Porto de Paranaguá (PR), onde a meta das empresas que lá atuam é operar 10 vezes a sua capacidade estática. Para uma unidade que trabalha com soja, cuja capacidade estática é de 210 mil toneladas, a meta para 2014 é exportar 2,1 milhões de toneladas. A Cesa, em 2012, operou seis vezes a sua capacidade diante de toda a conjuntura que a unidade de Rio Grande se encontra. Isso é muito próximo da meta do Porto de Paranaguá. Então vejamos: estamos terminando a obra do tombador, que vai dar uma agilidade no recebimento do grão. Com isso já podemos pensar em receber em torno de 400 toneladas por hora em Rio Grande.
Com o aumento do calado e com alguns ajustes, que já estamos em processo licitatório, poderemos expedir e carregar um navio. Isso representa uma agilidade muito grande em um dia de trabalho, sendo que pode-se operar em dois turnos, dia e noite. Considerando nossa capacidade estática atual, que é de 51,5 mil toneladas, com previsão de ser ampliada para 60 mil toneladas, se conseguirmos chegar a 10 vezes, é meio milhão de toneladas.
Planeta Arroz – Qual a sua visão do segmento arroz na pauta das exportações brasileiras?
Marcio Rogério Pilger – Temos conversado muito com a Associação das Indústrias de Arroz Parboilizado (Abiap) sobre a importância do arroz industrializado no desenvolvimento do Rio Grande do Sul, sobretudo na Metade Sul. Em âmbito nacional, este papel ganha contornos ainda mais relevantes pela importância econômica e social do grão. Vemos o momento como muito favorável para a cultura orizícola, especialmente em relação aos preços, que evoluíram muito nos últimos três anos. Mas acredito que ainda há uma pauta muito importante para ser discutida no tocante à consolidação de políticas públicas voltadas para o setor, como, por exemplo, garantir a exportação de arroz industrializado, especificamente o parboilizado, de maior valor agregado.