Rumo à consolidação

 Rumo à consolidação

Irrigação em sulcos mostra melhores resultados para o cultivo do milho

Manejo correto de drenagem e irrigação
é a chave para o sucesso
do milho no sistema de rotação com o arroz
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O cultivo do milho em microcamalhões no sistema de rotação com o arroz irrigado é uma alternativa para o controle do arroz vermelho que também pode ajudar a ampliar a renda nas propriedades. Experimentos conduzidos com milho pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em várias regiões gaúchas mostram que é possível obter até 13 mil quilos deste grão por hectare. Atualmente a área com o cereal em rotação corresponde a pouco mais de mil hectares, mas pesquisas do Irga, algumas com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), apontam para a ampliação gradativa do sistema nos próximos anos.

“Estamos indo para o terceiro ano do Projeto Milho, agora com questões mais consolidadas. Conseguimos superar o objetivo inicial, que era produzir 10 mil quilos por hectare, e acredito que podemos chegar tranquilamente aos 15 mil quilos por hectare. Hoje, temos um conjunto de experiências que formam quase um pacote tecnológico melhor adaptado às condições de várzea para o cereal”, observa o pesquisador do Irga, Rodrigo Schoenfeld.

Segundo ele, um aspecto fundamental para o sucesso do milho irrigado no sistema de rotação é o estabelecimento da densidade de semeadura ideal. “Avançamos bastante nesta questão a partir do trabalho desenvolvido em parceria com a Ufrgs, que contou com 10 alunos envolvidos em projetos de pós-graduação e iniciação científica. Com base nos resultados obtidos, podemos recomendar ao produtor trabalhar com 80 a 100 mil plantas de milho por hectare irrigado em área de arroz. Mas é importante lembrar sempre que não se arrisca milho sem irrigação”, avalia.

Para a próxima safra, o Irga pretende conduzir o Projeto Milho dividindo o trabalho em três linhas de pesquisa: manejo, doenças e irrigação e drenagem. “A ideia é mostrar em nosso Dia de Campo, na estação experimental do Irga em Cachoeirinha (RS), cuja edição de 2015 será internacional, unidades experimentais de milho integrando todas as práticas de manejo consolidadas até agora. Vamos demonstrar diferentes expectativas de produtividade, com baixo, médio e alto nível de manejo. Em relação a doenças, já tivemos um ensaio no ano passado, mas continuamos testando se é necessário ou não o uso de fungicida como estratégia para manter a produtividade do grão”, informa Schoenfeld.

AVANÇOS

Os avanços obtidos pela pesquisa também são visíveis no manejo correto do uso da água. “O cultivo do milho em área de arroz no sistema de rotação apresenta mais dificuldades que a soja devido ao fato de o cereal ser mais dependente da drenagem e da irrigação. Pelo segundo ano consecutivo os experimentos têm demonstrado que a irrigação por sulco é mais eficiente que a irrigação por aspersão. Em outras palavras, com um mesmo volume de água se produz mais milho irrigado por sulco do que por aspersão. No sulco se irriga uma área muito menor, isto é, concentra muito mais a irrigação, sem alteração de produtividade entre as plantas no mesmo sulco. Por aspersão, ao contrário, tem que molhar até longe das raízes”, compara o pesquisador.

De acordo com Schoenfeld, os experimentos também avaliaram o desempenho da cultura a partir da irrigação com o uso do microcamalhão: “Comparamos os dois tratamentos, com e sem irrigação, para avaliar a produtividade no início, meio e fim do sulco. Constatamos que o uso do microcamalhão com irrigação não registrou diferença de produtividade ao longo de todo o sulco. Já no segundo tratamento, sem microcamalhão, com irrigação, usando a mesma quantidade de água, a produtividade se manteve igual no início e no meio do sulco, mas diminuiu no final. Estamos avançando. No dia em que conseguirmos controlar o milho em área de várzea poderemos dominar qualquer cultura”, garante.

CULTURA ESTRATÉGICA

Manejo adequado é determinante para o sucesso de cultivos alternativos em área de arroz

As pesquisas com o milho irrigado no sistema de rotação com o arroz mostram que o cultivo do cereal pode ser uma boa estratégia para as pequenas propriedades como fonte de renda e de alimentação para os animais. “Neste cenário de preços, é uma opção interessante, já que é possível produzir 220 sacas por hectare a um custo de 130, 140 sacas. É um bom negócio, desde que, é claro, o produtor tome os devidos cuidados em relação ao manejo da água”, estima Schoenfeld.

O mesmo, segundo ele, vale para o contexto das médias e grandes propriedades. “Não vejo como fechar esse círculo de integração lavoura e pecuária (ILP) sem o milho. Não vejo como um produtor de arroz que planta soja e cria gado manter a estrutura da pecuária sem o milho. Se ele destinar, por exemplo, 100 hectares para o milho irrigado, poderá produzir 20 mil sacos de milho. Quantos animais ele vai poder alimentar com isso? Que outra cultura vai produzir tanta proteína e comida de qualidade em uma pequena área?”, questiona o pesquisador.

CUIDADO ESPECIAL

O pacote tecnológico desenvolvido pela pesquisa recomenda que o produtor plante o milho Bt (resistente a algumas lagartas) RR (resistente a herbicida) reservando 10% da área para refúgio ou repouso com milho não Bt. “É importante que o produtor preserve a tecnologia Bt em razão de problemas causados pela lagarta-do-cartucho. Já tivemos ocorrências de quebra da resistência da tecnologia por este inseto, o que praticamente inviabiliza a cultura do milho nas áreas afetadas. No entanto, a maior dificuldade é encontrar no mercado milho não Bt para cultivar nessa área de refúgio, como recomenda o pacote, uma vez que, na quase totalidade, os híbridos produzidos pelas empresas expressam esta característica”, alerta Rodrigo Schoenfeld.

FIQUE DE OLHO
A outra recomendação para quem vai produzir milho nesta safra é ficar atento ao clima. “Em ano de El Niño não se deve arriscar uma cultura de sequeiro em área de enchente. O melhor é conduzir o plantio em áreas mais altas porque os custos envolvidos na cultura do milho e também na soja são muito altos”, ressalta o pesquisador do Irga.

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