Safra 2021/22 no RS terá, novamente, a presença de La Niña
No início de outubro de 2021, a Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration, Climate Prediction Center) confirmou que a La Niña estava de volta. A Figura 1 mostra a anomalia da temperatura da água da superfície do mar no mês de outubro de 2021 já com valores entre -0,5 °C e -1,0 °C. O trimestre ago-set-out teve anomalia de -0,7 °C, o que ainda configura o evento como fraco. Porém, a Noaa diz que pode chegar à intensidade moderada. De qualquer forma, o evento climático La Niña ocorrerá em duas safras seguidas. Os impactos disso são um déficit hídrico prolongado no Rio Grande do Sul (RS), visto que é desde o verão 2019/20 que o estado vem passando por períodos mais prolongados de tempo seco, prejudicando, principalmente, o setor agrícola.
No início da safra 2021/22 no RS, ainda no mês de setembro, as precipitações ocorreram em maior frequência e volume. Com isso, toda a metade sul ficou com precipitações acima dos valores da normal climatológica para o mês. Os níveis dos reservatórios, motivo de preocupação, até então, por parte dos orizicultores, se elevaram, ficando com 90-95% da capacidade na média.
Com o estabelecimento da La Niña no início de outubro, já se observou expressiva redução no volume e na frequência das precipitações no RS. Tanto é que a anomalia da precipitação do mês ficou negativa em toda a metade sul. Esse fator foi bom para o avanço da semeadura do arroz no estado, que está se encaminhando para o fim em muitos municípios. Já para a cultura da soja em rotação, a semeadura está avançando mais lentamente devido à falta de chuvas.
O período de maior influência do fenômeno La Niña é durante a primavera, ou seja, até dezembro existe maior risco de haver períodos de estiagem no RS. Durante o verão, outros parâmetros também ganham força, a exemplo da temperatura das águas do Oceano Atlântico Sul. Estando mais aquecido, poderá influenciar positivamente nas chuvas do RS, a exemplo do que ocorreu na safra 2020/21, em que as precipitações foram abaixo da média, mas ocorreram nos momentos oportunos. Outra ressalva que se faz é em relação ao mês de janeiro, que eventualmente traz chuvas mais volumosas e alguns modelos têm sinalizado isso para esta safra.
A expectativa é de que o fenômeno La Niña prossiga até o trimestre dez-jan-fev, com 87% de probabilidade e, a partir daí, comece a perder força (Figura 2). Ressaltando que, com a La Niña, existe maior probabilidade de as precipitações serem mais irregulares e em menor volume. Adicionalmente a isso, tem o período do verão, em que a evapotranspiração é maior. O que isso significa? Significa, à grosso modo, que os mesmos 30mm precipitados no verão não são os mesmos 30mm que precipitam no inverno, pois, durante o verão, essa água evaporará do solo muito mais rápido. Diante disso, os produtores de culturas de sequeiro, como a soja e o milho, devem ficar atentos à previsão do tempo e, caso tenham sistema de irrigação, fazer uso dele, se necessário.
Para o arroz, se não faltar água para a irrigação das lavouras, o fato de ter menos chuva e, consequentemente, mais radiação solar, seria uma ótima combinação, junto com o manejo adequado da lavoura, para o produtor ter sucesso na hora da colheita (altas produtividades). Já para as culturas de sequeiro em rotação, principalmente a soja, há um aumento da probabilidade de se ter deficiência hídrica durante seu ciclo, resultando em menores produtividades, caso o produtor não disponha de sistema de irrigação.
A previsão de alguns modelos aponta que o mês de dezembro de 2021 ficará com precipitações abaixo da média no RS. Janeiro de 2022 poderá ficar com chuva entre a normal ou até acima da normal em algumas regiões. Salienta-se que o produtor fique atento à previsão do tempo e do clima para tomar as melhores decisões no manejo de sua lavoura.
Jossana Ceolin Cera
Eng. Agrônomo, DoutorA em Agronomia
Meteorologista; consultora do irga