Safra de incertezas
Produtor sabe quanto paga para produzir, mas não quanto receberá pelo arroz.
O Brasil reduzirá a sua safra de arroz em 2011/12, depois de ter sido autossuficiente pela segunda vez em sua história, na safra passada. Um país que consome 12,8 milhões de toneladas de arroz por ano, voltará a produzir menos do que isso para honrar acordos internacionais, estocar produto estrangeiro, gerar renda aos arrozeiros uruguaios, argentinos e paraguaios e ainda colocar tudo isso na conta do rizicultor e da sociedade brasileira.
Mais uma vez as lavouras brasileiras precisam recuar diante das regras de mercado, cuja conjuntura, no Brasil, em muito é definida pela interferência política e o sentimento de que, para ser líder na América Latina, o país precisa capitular frente às demandas dos países vizinhos e que a produção precisa pagar ainda mais pelas diferenças sociais, enquanto a classe política convive cotidianamente com denúncias de corrupção, uso indevido do dinheiro público, investimentos faraônicos sem o devido retorno à sociedade e demonstra total desconhecimento das reais necessidades da agropecuária nacional, que produz comida para o Brasil e para o mundo, o que deveria ser prioridade.
É sob a ótica desta safra de incertezas, semeada em 2011/12, mas que há muito vem sendo gestada, que a Planeta Arroz apresenta nesta edição algumas das alternativas encontradas pela cadeia produtiva do arroz para buscar o ajuste de mercado e uma remuneração que cubra os custos de produção a partir de 2012. São elas o aproveitamento alternativo do arroz – como ração animal e produção de etanol -, a ocupação de áreas de várzeas com soja adaptada a essas condições de clima e solo e uma campanha pelo aumento do consumo, além de um programa especial de exportações. O governo federal estuda, a pedido do ministro Mendes Ribeiro Filho, como amenizar o impacto das assimetrias do Mercosul e cogita inclusive estabelecer cotas de importação do bloco, como já ocorre com outros produtos.
Mas, é preciso também reduzir a incidência de tributos sobre a produção nacional, a fim de torná-la mais competitiva, interna e externamente. O que fazer a cadeia produtiva já sabe há muito tempo. O problema é quem fará, se o grande compromisso nacional, no momento, não é com a alimentação, mas com estádios de futebol.