Safra gaúcha não deverá alcançar os 920 mil hectares semeados previstos inicialmente
Foto: Giovane Wrasse/Irga
(Por Cleiton Evandro, AgroDados/Planeta Arroz) Mesmo perto de concluir o plantio da safra, os números da semeadura de arroz no Rio Grande do Sul indicam que o Estado não deverá consolidar a área total estimada pelo Irga na intenção de plantio divulgada na Expointer, em setembro, de 920.081 hectares. A poucos dias do fim da janela recomendada de semeadura em parte das regiões, o avanço no campo mostra uma execução elevada, mas insuficiente para alcançar os 100% da meta inicial.
Levantamento do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) divulgado na noite deste dia 27 de novembro, quinta-feira, apontou esta tendência. Responsável por cerca de 70% do arroz produzido no país, o Rio Grande do Sul já contabiliza 849.111 hectares de arroz semeados, o que corresponde a 92,28% da área de intenção total.
À primeira vista, o índice sugere um quadro bastante avançado. Contudo, a combinação entre o estágio quase final da semeadura em cinco das seis regiões arrozeiras e o atraso relativo na Região Central reforça o diagnóstico de que parte da área prevista deve ficar pelo caminho.
Regiões avançam, mas esgotam espaço para expansão
De acordo com relatório da Divisão de Assistência Técnica e Extensão Rural (Dater), vinculada ao
Irga, todas as regiões arrozeiras, com exceção da Central, já se encontram em fase de finalização da
semeadura. Em vários casos, os percentuais se aproximam do teto operacional possível para esta
altura do ciclo.
Os dados regionais são os seguintes:
Zona Sul
Com 153.179 hectares semeados, já atingiu 97,85% da intenção de plantio. Praticamente não se vê lavouras em semeadura nesta região;
Fronteira Oeste
A maior região produtora gaúcha, contabiliza 250.282 hectares, equivalentes a 92,08% da área prevista. Pouquíssimos produtores ainda vão avançar na semeadura.
Planície Costeira Externa
Já implantou 92.384 hectares, chegando a 97,36% da intenção.
Planície Costeira Interna
Soma 133.479 hectares, o que representa 95,02% da área projetada;
Campanha Gaúcha
Registra 126.763 hectares semeados, alcançando 93,46% da intenção.
Nessas regiões, o espaço para ampliação adicional da área é hoje bastante limitado. A semeadura está, na prática, em fase de encerramento, e eventuais incrementos residuais dificilmente seriam
suficientes para alterar de modo significativo o quadro estadual.
Com a maior parte das áreas tradicionais já ocupadas e o calendário avançando, a base de
comparação com a intenção de plantio apresentada na Expointer passa a depender, de forma
decisiva, do desempenho de uma única região: a Central.
Atraso na Região Central reduz chances de atingir 100% da intenção
A Região Central é o principal foco de atenção no momento quanto à semeadura do arroz no Rio Grande do Sul. Nesta região as operações de plantio alcançaram 93.014 hectares, o que corresponde a apenas 77,05% da intenção total – o índice mais baixo entre todas as regiões.
Trata-se de uma região que apresenta um perfil de produção diferente das demais: concentra pequenas propriedades, a topografia permite repetidas inundações em áreas de lavouras entre setembro e o início de dezembro, e o manejo de plantas daninhas, como o arroz vermelho, é focado em permitir até três brotações – e eliminações – do banco de sementes no solo, a cada 15 dias. Também é a área mais atingida no Rio Grande do Sul pela dificuldade de acesso ao crédito para arrozeiros e foi a mais atingida pela superenchente de 2024, o que não apenas afetou economicamente aos produtores, mas também as condições do solo.
Esse descompasso em relação às demais áreas produtoras exerce um peso considerável sobre o
resultado estadual.
Enquanto Zona Sul, Planícies Costeiras, Campanha e Fronteira Oeste operam com níveis próximos ou acima de 90% da intenção, a Central ainda mantém cerca de um quarto da área projetada sem semear.
Para que o Rio Grande do Sul pudesse chegar próximo dos 100% da intenção divulgada na
Expointer, seria necessário que:
1. A Região Central avançasse rapidamente dos atuais 77,05% para patamares próximos à totalidade da área prevista, em um período muito curto; e
2. As demais regiões, já perto do limite operacional e do fim da semeadura, ainda ampliassem
sua área plantada além do padrão usual para esta fase da safra.
Na prática, ambos os movimentos esbarram em restrições de tempo, clima e de manejo agronômico.
Fim de novembro como limite técnico e produtivo
A equipe técnica do Irga acompanha a finalização da semeadura com atenção redobrada, justamente porque a época de plantio é considerada um dos principais fatores na expressão do
potencial produtivo da lavoura. O gerente da Dater, Luiz Fernando Siqueira, destaca que a
conclusão dos trabalhos dentro da janela recomendada é determinante para o desempenho da
safra:
“Alinhada ao manejo inicial da lavoura, a finalização da semeadura no mês de novembro é de
extrema importância. São pontos-chaves para a construção conjunta de uma boa safra”.
Esse posicionamento técnico ajuda a explicar por que a intenção de plantio não tende a ser perseguida a qualquer custo até o fim do ano. À medida que se avança para fora da janela ideal,
cresce a resistência dos produtores em insistir na abertura de novas áreas, em razão do maior risco
de queda de produtividade e de retorno econômico. Ainda que na safra passada, um fenômeno de expressiva radiação solar entre o final de janeiro e março tenha contribuído para um recorde produtivo por área nas lavouras do Rio Grande do Sul. Essa não é a regra geral.
Diante disso, a tendência é que a intenção de semeadura funcione como um teto teórico, e não
como um compromisso obrigatório. Com o calendário pressionado e a Região Central ainda
atrasada, os dados consolidados até o momento indicam que: o Estado deve encerrar a semeadura entre 97% (892,5 mil hectares e 98% (902 mil hectares) da intenção cumprida, mas sem alcançar integralmente a área projetada em setembro, embora extraoficialmente algumas lideranças gaúchas apostem em uma área pouco superior a 850 mil hectares.
A Emater/RS – Ascar, projeta que a produtividade média das lavouras sul-riograndenses deve ficar em 8.752 quilos por hectare. Por esta soma, a produção total chegaria a 8,053 milhões de toneladas se confirmada a intenção de plantio de 920.081 hectares semeados. No entanto, a projeção de AgroDados/Planeta Arroz, sugere uma produção entre 7,85 milhões e 7,93 milhões de toneladas.
Em síntese, o Rio Grande do Sul caminha para manter uma área expressiva de arroz, reafirmando
sua condição de principal produtor nacional. Porém, os números atuais, somados ao limite técnico
da janela de semeadura, apontam com consistência que a intenção de plantio apresentada em pesquisa do Irga, não será totalmente materializada em área efetivamente semeada nesta safra.




3 Comentários
Falei que iam errar feio… Redução de 20%… Já o estrago feito no mercado e os reparos ao produtor quem irá arcar? Pagamos taxa CDO para eles agirem contra nós… Esse país está perdido… Sem rumo… Sem valores!!!
Não é atraso! Pessoal não conseguiu repactuar as dividas nos bancos, não tem mais garantia real para dar para tirar os custeios, estão vendendo arroz a $ 50 pilas… Não há nenhum estímulo para plantar! E tão certos… Gastar 90 contos prá vender abaixo de 50 no próximo ano que graça tem ???
Outro dia vi uma entrevista do presidente das industrias de arroz de SC, Rampinelli, reclamando que as industrias com esses preços vão ter muito prejuízo, mas o referido Sr esqueceu que aqui na região de Eldorado do Sul e Triunfo ele foi o primeiro a puxar os preços para baixo durante a colheita, e não foi coisa de R$ 1,0 real, coisa de R$ 4,0-5,0, cada botada, fora que aqui na sua industriaa beira da BR 290 toda hora chegando arroz importaddo, para manter o preço aqui não tem mas comprar de fora tem? Me pergunto que credibilidade tem este Sr, ralar o produtor daqui é bom agora quer apoio. Se eu fosse produtor influente levantaria uma campanha sem arroz para ele, tem dinheiro pagar avista para buscar no exterior mas aqui é 30-60-90 dds, se for bom pra mim foda-se o produtor daqui tinha que tomar um respeito.