Safra recorde, mas…
Brasil bateu recorde na produção, mas busca o equilíbrio
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A safra brasileira de arroz 2003/2004 bateu um recorde histórico de produção e produtividade graças a uma conjugação de fatores positivos, como o clima, a agregação de novas tecnologias e a profissionalização do setor. Embora organismos governamentais, iniciativa privada e consultorias ainda não tenham chegado a um denominador comum sobre o real volume de arroz colhido no Brasil, há unanimidade em apontar esta como a maior safra brasileira de arroz de todos os tempos. Segundo a Conab, o Brasil plantou 3.585.400 hectares de arroz na safra 2003/2004, 12,3% a mais do que a safra anterior. A produção total, segundo a Conab, foi de 12.700.400 toneladas.
A principal empresa de consultoria agropecuária do Brasil, Safras & Mercado, indica uma safra nacional na faixa de 12,205 milhões de toneladas. Outros organismos apresentam números próximos. A produtividade média brasileira chegou a 3.542 quilos, puxados pelos grandes resultados de Santa Catarina, Roraima e Rio Grande do Sul. O reflexo desses resultados para o mercado do arroz, até o início de agosto, tem sido satisfatório para os consumidores, interessante para os supermercadistas, preocupante para a indústria e arriscado para os produtores. Assim, consolida-se a máxima de que uma boa safra só está completa quando o produtor consegue comercializá-la com rentabilidade.
O primeiro impacto no mercado foi a redução dos preços médios pagos pelo produto, seja em casca ou beneficiado, em relação aos valores pagos no ano passado. O consultor da Safras & Mercado, Aldo Lobo, explica que o comportamento do mercado de arroz, até julho, ficou entre estável e mais baixo, o que é natural diante de um quadro de safra cheia nos principais produtores do Mercosul (Brasil, Argentina e Uruguai). Ele lembra também que antes do Brasil colher esta safra, os preços estavam muito altos. Todavia, com a alta dos custos de produção, considera fundamental que o Brasil busque mercado para exportação, enxugando a oferta e elevando os preços internos, melhorando a margem de lucro e o potencial de investimentos na lavoura.
Por outro lado, além de ter produzido uma safra cheia e sofrer com a pressão da entrada de produto do Mercosul, o Brasil apresenta um fraco consumo de arroz. Para este ano esperava-se que a economia brasileira reagisse, o desemprego diminuísse e o consumo do arroz, produto de primeira necessidade, aumentasse. Porém, essas tendências ainda não se confirmaram e o consumo anual de arroz no Brasil vem crescendo a uma taxa média menor que a do crescimento populacional, o que deveria ser o contrário.
Questão básica
O diretor de mercado da Federarroz e consultor Marco Aurélio Marques Tavares destaca que o principal fator a ser observado nos números finais da safra divulgados pela Conab é o quadro de suprimentos, que indica um estoque final, em março de 2005, de pouco mais de um milhão de toneladas no Brasil. “Este é um indicativo de que o quadro de oferta e demanda está ajustado e os preços, que mantiveram uma média de R$ 30,00 a R$ 31,00 nos últimos dois meses para o arroz padrão, tipo 1, poderiam ser mais remuneradores”, explica.
Segundo ele, o fato de ter ocorrido uma alta artificial de preços no início da safra, que elevou a cotação do arroz com 58% de grãos inteiros para R$ 34,00, gerou a expectativa de uma média de preços igual ou superior ao ano passado, mas diversos fatores fizeram com que o mercado se ajustasse. O volume de produto ofertado pela boa safra do Mercosul e a presença de um resíduo significativo das importações de 2003 que entraram agora no primeiro semestre, somaram para o atual quadro de preços bastante próximos do custo médio de produção da safra passada: R$ 29,69.