Sai El Niño, chega La Niña

 Sai El Niño, chega La Niña

O resfriamento das águas do Pacífico é o primeiro sinal do fenômeno

Clima pode favorecer a lavoura de quem souber aplicar o manejo adequado.

 

Muda o fenômeno climático, mas a recomendação da pesquisa permanece a mesma: o preparo antecipado do solo é a melhor estratégia para evitar perdas com o clima.

O fenômeno La Niña (“A menina”, em espanhol), não ocorre todos os anos da mesma forma. Sua frequência é de dois a sete anos, com duração aproximada de nove a 12 meses, mas também pode durar até dois anos. Sua principal característica é o resfriamento (em média de 2 a 3 graus Celsius) fora do normal das águas superficiais do Oceano Pacífico (nas regiões equatorial, central e oriental).

À semelhança do El Niño, porém apresentando uma maior variabilidade do que este, trata-se de um fenômeno natural que produz fortes mudanças na dinâmica geral da atmosfera e afeta o comportamento climático no continente americano e outras regiões do planeta.

No Brasil este fenômeno apresenta três quadros distintos: inverno seco nas regiões Sul e Sudeste entre os meses de junho e agosto, temperaturas abaixo do normal para o verão na Região Sudeste e aumento das chuvas na Região Nordeste entre os meses de dezembro e fevereiro.

Mas, ao contrário do El Niño, que causou muitos prejuízos às lavouras gaúchas na última safra, os anos de La Niña geralmente são favoráveis para o arroz irrigado do RS (veja nesta edição a entrevista com o pesquisador em agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado, Silvio Steinmetz). “Será bom para quem souber aproveitar as oportunidades”, avisa o diretor técnico do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Valmir Menezes.

 

 

 

O que é o fenômeno climático La Niña?
La Niña (“A menina” em espanhol) é um fenômeno oceânico-atmosférico que ocorre nas águas do Oceano Pacífico (nas regiões equatorial, central e oriental). A principal característica deste fenômeno é o resfriamento (em média de 2 a 3 graus Celsius) fora do normal das águas superficiais nestas regiões do Oceano Pacífico.

O fenômeno La Niña não ocorre todos os anos e da mesma forma. Sua frequência é de dois a sete anos, com duração aproximada de nove a 12 meses (há casos que pode durar até dois anos). O La Niña afeta o comportamento climático no continente americano e outras regiões do planeta. 

 

 

 


Preparo antecipado: nesse caso, o céu não pode esperarPreparo do solo é desafio

Em termos técnicos, o maior desafio ao produtor de arroz do Rio Grande do Sul num ano de ocorrência do fenômeno climático La Niña é o preparo antecipado do solo, conforme recomenda a pesquisa. “Até o início de setembro o produtor precisa estar com o máximo de área já preparada. Em anos de La Niña costuma ocorrer seca depois de novembro. Assim, quem plantar depois desse prazo poderá ter problemas. No Rio Grande do Sul a semeadura deve iniciar em setembro, tão logo as condições de piso permitam as operações de plantio. Tem que semear até o final de outubro, de forma a aproveitar a umidade do solo para a germinação”, explica Valmir Menezes, diretor técnico do Irga. Plantando mais cedo, o produtor evita a necessidade de banhar a semente para a germinação, por exemplo – o que comprometeria parte de seu estoque de água para irrigar.

Também é preciso estar atento em relação à disponibilidade dos recursos hídricos na lavoura. “Quem tem pouca água ou depende de rios ou de barragens que podem secar ou reduzir seus níveis deve plantar mais cedo. A recomendação também vale para quem tem boa reservação de água, porque muitos mananciais vão estar mais secos em novembro. Neste caso, quem planta mais cedo, mesmo com pouca água, pode fazer a manutenção da lavoura”, informa.

Esta, aliás, é uma prática que já foi incorporada à rotina dos produtores de arroz de Santa Catarina, conforme explica o presidente do Sindarroz-SC, Jaime Franzner. “Aqui não é preciso recomendação alguma. O pessoal planta cedo por natureza, principalmente no Norte do estado, para colher em janeiro. No Sul é um pouco mais tarde, em setembro e outubro. No geral, apesar da ocorrência do La Niña, a expectativa é de colhermos uma safra normal, sem grandes problemas”, prevê o dirigente.

 

Efeitos do La Niña no clima:
Entre os meses de dezembro e fevereiro:
>>> Aumento das chuvas na Região Nordeste do Brasil;
>>> Temperaturas abaixo do normal para o verão no Sudeste do Brasil;
>>> Aumento do frio na Costa Oeste dos Estados Unidos;
>>> Aumento das chuvas na Costa Leste da Ásia;
>>> Aumento do frio no Japão.

Entre os meses de junho a agosto:
>>> Inverno seco na Região Sul e Sudeste do Brasil;
>>> Aumento do frio na Costa Oeste da América do Sul;
>>> Frio e chuvas na região do Caribe (América Central);
>>> Aumento das temperaturas médias na Região Leste da Austrália;
>>> Aumento das temperaturas e chuvas na Região Leste da Ásia.

 

Fonte: Centros de meteorologia

 


Silvio SteinmetzENTREVISTA

O que esperar do clima em 2010

Em geral, anos de La Niña são favoráveis para o arroz irrigado no Rio Grande do Sul, principalmente para aqueles produtores que dispõem de níveis adequados de água nos reservatórios. Nesta entrevista para a Planeta Arroz, o pesquisador em agrometeorologia Silvio Steinmetz, da Embrapa Clima Temperado em Pelotas (RS), analisa os possíveis efeitos deste fenômeno nas lavouras gaúcha e recomenda que os produtores fiquem atentos aos prognósticos para não serem pegos de surpresa.

Planeta Arroz – Está confirmado o fenômeno La Niña em 2010?
Silvio Steinmetz – De acordo com as instituições nacionais que elaboram o prognóstico climático, como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e o Centro de Previsão de Tempo/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPtec/Inpe), está havendo um resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, indicando a ocorrência do fenômeno, que poderá causar chuvas abaixo da média histórica nos próximos meses no Sul do Brasil.
No plano regional, o boletim climático, de 20 de julho de 2010, elaborado pelo 8º Distrito de Meteorologia (Disme/Inmet) e Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas (CPPMet)/Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), indica que no trimestre agosto/setembro/outubro teremos final de inverno com temperaturas e precipitação abaixo do padrão. Esse boletim é elaborado mensalmente para o trimestre seguinte. Em meados de agosto teremos o prognóstico para setembro, outubro e novembro, e assim por diante.

Planeta Arroz
– Como o produtor pode acompanhar os prognósticos climáticos?
Silvio Steinmetz – A recomendação é que os interessados acompanhem esses prognósticos, que são divulgados pelo Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs) através da página na internet www.agrometeorologia.rs.gov.br e por instituições como o Instituto Rio-grandense do Arroz (www.irga.rs.gov.br) e Embrapa Clima Temperado (www.cpact.embrapa.br/agromet).

Planeta Arroz – É possível avaliar quais os efeitos do fenômeno La Niña na lavoura de arroz?
Silvio Steinmetz – Vai depender muito da intensidade do fenômeno e de como ele afetará o regime pluviométrico nos próximos meses. Em geral, anos de La Niña são favoráveis para o arroz irrigado no RS, principalmente para os produtores com níveis adequados de água nos reservatórios. O menor número de dias chuvosos ou nublados proporciona níveis mais elevados de radiação solar, que são diretamente relacionados com maiores produtividades. Em geral, há menor incidência de doenças e maior resposta à adubação nitrogenada de cobertura. Antes do início de cada safra o Copaaergs divulga em site uma série de recomendações visando minimizar o impacto negativo ou tirar o melhor proveito possível das condições climáticas previstas para a safra. Por isso recomenda-se que acessem o site indicado.

Planeta Arroz
– Em 2009, com o El Niño, a região mais atingidas foi a central. Com La Niña qual seria a extensão do fenômeno?
Silvio Steinmetz – Pelas características dos modelos que são usados para elaborar os prognósticos climáticos, é difícil indicar as regiões que serão mais afetadas. Entretanto, um indicativo do que poderá ocorrer em cada um dos três meses do trimestre é fornecido através do boletim climático do Copaaergs (www.agrometeorologia.rs.gov.br). Quanto à extensão do fenômeno, não dá para ter uma noção clara com tanta antecedência. Entretanto, em geral, em anos de La Niña chove abaixo da média climatológica na Região Sul e acima da média na Região Norte do Brasil.

Planeta Arroz – O fenômeno é benéfico para a cultura do arroz?
Silvio Steinmetz – Pessoalmente, gostaria que esse evento tivesse características que favorecessem a obtenção de altos níveis de produtividade no arroz irrigado. Por outro lado, que não fosse tão intenso a ponto de prejudicar as culturas de sequeiro, também muito importantes para o estado do Rio Grande do Sul.

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