São Miguel e o arroz da Depressão Central

 São Miguel e o arroz da Depressão Central

Autoria: Cleiton Evandro dos Santos – Jornalista e Analista de Mercado da Planeta Arroz.

Ele pode atrasar, ele pode adiantar, mas nunca falha. Quando chega, São Miguel mostra a que veio.

Me criei na beira do Rio Jacuí sabendo que no final de setembro ou início de outubro tinha a "Enchente de São Miguel", assim batizada porque 29 de setembro é dia de São Miguel Arcanjo.

Ele, claro, é "São Miguel", que este ano "chegou mais cedo".

Já vi uma vez o Jacuí, mais expressivo rio gaúcho, atorado em janeiro, de cruzar a pé abaixo da Ponte do Fandango – o que o Robispierre Giuliani registrou em fotos.

Mas, em setembro/outubro, mais cedo ou mais tarde, ele desce bufando com a crescente e vai represando os rios da volta, Soturno, Botucaraí, Irapuá, Irapuazinho, Piquirí, Capané, Capanézinho, Iruí, Divisa, Santa Bárbara, Vacacaí, Vacacaí-Mirim, São Nicolau, Amorim, Pardo, Pardinho, Bexiga e tudo o mais.

E botando água na várzea. Interrompendo as barcas, espantando o gado pras coxilhas, fazendo a festa de ratões e capivaras.

Por isso – e pra manejar o arroz vermelho, dando tempo de umas duas ou três brotações pra eliminar o banco de sementes – a Depressão Central planta arroz sempre mais tarde.

Porque os rios avançam sobre as várzeas, as vezes até em novembro. E se plantar cedo pertinho do rio, não se escapa de uma enxurrada ou do arroz ficar alguns dias – as vezes semanas – completamente submerso.

Por isso até a soja em várzea atrasa. O investimento exige que se busque o menor risco possível. E na beira do Jacuí, até novembro, o risco é excesso de água.

A luta não é só para domar a terra e as plantas, mas para se adaptar ao que o clima oferece.

Então, antes de dizer que o arrozeiro da Região Central "não aprende e planta atrasado", conheça um pouco mais a sua realidade.

Nem sempre se pode fazer as coisas do jeito que se quer. Muitas vezes, só resta fazer do jeito que é possível e que as forças da natureza permitem.

A foto é do meu amigo e comandante aviador Leomar Flavio Alves, lá do Agudo!!

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