Sem euforia
Analistas alertam
que preço deste ano
pode não se repetir.
Ainda que não contemple a todos os produtores, a recuperação gradual dos preços do arroz em casca na temporada comercial 2018/19 pode gerar uma euforia desaconselhável na lavoura, segundo alguns dos principais analistas e dirigentes do setor no Rio Grande do Sul. O diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz, Tiago Sarmento Barata, destaca que as cotações melhores do que no ano passado não podem ser argumento para que os arrozeiros se motivem a ampliar área sem garantia de renda. “É preciso ter consciência que os problemas estruturais que ficaram mais evidentes com os preços baixos continuam os mesmos”, alerta.
Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura e Pecuária do RS, acrescenta que os custos de produção também estão subindo e que este é um fator que tem retirado a competitividade do arroz safra após safra. “Ao longo da história se discute preço do arroz e não muda nada. Mas, é importante que se discuta e reduza o custo de produção, é onde o arrozeiro pode melhorar sua renda, sendo mais competitivo”, assegura.
Para Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), a tendência é de que a próxima safra apresente redução na área. “Por mais que o preço se recupere este ano, o arrozeiro não está empolgado por causa do custo de produção que torna cada vez mais difícil alcançar rentabilidade na lavoura”, frisa.
Alexandre Azevedo Velho, vice-presidente da Federarroz, também espera queda no plantio, que começa em setembro. “Para os preços não caírem tanto na safra e termos alguma competitividade, pedimos que o governo do estado reduza as alíquotas do ICMS para vendas de arroz em casca a outros estados por 90 dias na colheita. Daria para reduzir em um milhão de toneladas o estoque interno do Rio Grande do Sul. As alíquotas de 12% ficariam em 7% e de 7% em 4%. Seria uma forma de reduzir a pressão de oferta na colheita e evitar um quadro de depreciação do preço do cereal”, argumenta Velho.
Segundo Tiago Sarmento Barata, do Irga, a crise que está inviabilizando a lavoura arrozeira se origina da falta de condição competitiva do grão gaúcho diante dos demais estados e também da queda do consumo de arroz, que alcançou 17% de decréscimo em 20 anos. Elenca, para sair da crise, a necessidade de o setor buscar a valorização do arroz como alimento saudável, diminuir a dependência das atuais condições de armazenamento e estocagem, estabelecer proteção comercial com a revisão dos acordos do Mercosul e adotar maior agressividade comercial.
A redução da alíquota do ICMS do arroz em casca é uma medida paliativa, mas a única com resultados a curto prazo.
Já o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, criticou a política praticada pela Secretaria Estadual da Fazenda, que não admite a possibilidade de redução do tributo estadual. “Falta inteligência tributária. A Sefaz faz a opção por perder, pois produto estocado não gera ICMS”, salientou, se referindo à grande quantidade estoque do produto. O presidente da Federarroz, Henrique Dorneles, prenunciou que a crise vai piorar. “Vamos ter saudade do ano que passou”, enfatizou. Dornelles entende que o “fator Brasil” vai continuar onerando o custo de produção. Ele entende que a importação de arroz do Paraguai com alíquota zero é outro grande problema a ser enfrentado pelos gaúchos. “Não há como concorrer contra isso sem modificarmos os acordos do Mercosul”, lembrou.
O que influenciará os preços
ALGUNS FATORES DE ALTA
1. Dólar valorizado
(câmbio favorável)
2. Exportações em alta
3. Safra estável
4. Renegociação das dívidas
5. Estoque de passagem enxuto
6. Consumo fortalecido
7. Isenção da cesta básica
ALGUNS FATORES DE BAIXA
1. Intenção de plantio em alta
2. Retomada das importações
3. Tabela de frete mantida
4. Queda nos preços mundiais
5. Desvalorização do dólar
6. Pressão do Mercosul
7. Redução do consumo
Fonte: Analistas