Sem ver navios
Brasil abdica de vender até 500 mil t e exportações caem
Mesmo prevendo exportar quase 1,2 milhão de toneladas de arroz este ano, base casca, o Brasil deixou de vender 500 mil t que pesarão no estoque de passagem e nas cotações domésticas. Traders ainda tentam entender as razões dos produtores gaúchos não venderem o grão a preços históricos de US$ 16,00 a US$ 18,50 por saca ao exterior no primeiro semestre.
“Arrozeiros que não quiseram vender em abril/maio a R$ 82,00/R$ 85,00, em outubro/novembro ofertaram a saca a R$ 70,00, mas não havia demanda e os patamares eram de R$ 65,00 no porto”, disse um exportador. O comprador não espera. Outros países disputam o contrato. Se o Brasil não tem preço, compram nos EUA, no Mercosul, na Ásia. “Ficamos sem ver navios”, ironizou o trader. O Brasil perdeu presença na Venezuela, Cuba, Estados Unidos, Iraque, Peru e países africanos.
Para piorar, o frete marítimo aumentou até 720% em contêineres e 500% em granéis. A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) apontou que de janeiro a outubro o país exportou 958 mil t. Em 2020, foram 1,68 milhão de t, base casca.
O diretor de Assuntos Internacionais da Abiarroz, Gustavo Trevisan, vê as vendas externas em 2021 dentro do esperado. Em 2019, o Brasil exportou 1,43 milhão de t. “Em 2020, a pandemia gerou uma demanda atípica. Em 2021, voltamos ao volume normal, com o desafio da crise logística que aumentou os custos”, pontuou. Na soma de fatores, avalia que o resultado mostra reconhecimento mundial à qualidade do arroz brasileiro.
O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, considera que a competitividade em 2022 é fundamental. “A exportação ajuda a estabelecer um piso nacional, e isso é importante”. Ele busca na esfera governamental prorrogar as isenções na cota de 75 mil t de exportação ao México até 28 de fevereiro, e mais 300 mil t para 2022/23. A redução de 15% na safra norte-americana e os baixos rendimentos industriais verificados neste concorrente, somados à retração dos preços locais, podem tornar o Brasil competitivo no comércio mundial.