Seriedade? Parece que nunca tivemos!!!!

Autoria: Fernando Lopa/Associação de Arrozeiros de Alegrete (RS).

Ao ver as últimas estimativas da CONAB para safra de arroz 2009-2010, fui acometido pela aquela sensação de desgosto misturada à de resignação de quando nosso time do coração perde para o arqui-rival.

Esta sensação não está relacionada com a correção ou veracidade dos números estatísticos ou o que pode estar ocorrendo por trás da divulgação da notícia, e sim a perplexidade ante a nossa incapacidade de corrigir erros dessa natureza no Brasil.

Primeiramente, sem analisar as “entrelinhas”, fico pensando como se sente o contribuinte em saber que os funcionários, pagos pela enorme carga tributária no Brasil, erram em 71%, repito 71%, o estoque de passagem da safra. Claro, há 10 anos atrás, até podíamos concordar, mas em tempos de “ I-Phone”, programação em “nuvem”, “orkuts” e “twitters” onde a informação chega num piscar de olhos… como errar um número em 71%?

Fico imaginando se fosse na nossa casa: “Sabe amor, sei que ganhamos R$ 1.000,00 por mês, mas eu me enganei naquela comprinha e aquelas 8 prestações do nosso armário não serão de R$ 300,00 mais sim de R$ 513,00”…ou aquela conta de luz “básica” com erro de 71% a mais no valor. O que sentimos? E numa empresa privada, nosso chefe faria o que? “Patrão, sabe aquela encomenda importantíssima para o exterior que eu disse ontem que tava tudo certo….pois é me enganei…produzimos 71% menos e não poderemos cumprir o contrato….”. Mas como dinheiro vem do tal “Caixa da União” e não “diretamente” do nosso bolso, aceitamos passivamente “erros” dessa natureza.

Pior é a admissão, com a maior naturalidade, do erro do órgão que abastece o governo e entidades internacionais de informações estratégicas para estabelecimento das ações de política agrícola. Nem ao menos um pedido de desculpas a cadeia orizícola, como pode?

Fico pensando, o quanto somos (ai leia-se o Brasil) “sérios” ? Se funcionários públicos concursados, tidos como especialistas. com especializações, muitas vezes pagas pelo contribuinte, erram um número estratégico de estoque de passagem de um grão tido como de segurança alimentar para diversos países do mundo.

Agora nas “entrelinhas”, é bom relembrar que já é contumaz, no arroz, a divulgação pela CONAB de notícias de recálculo do estoque de passagem para mais sempre que o mercado toma uma tendência de forte alta, e num ano de eleições então…já viu…tudo relacionamos com tudo!

Não seria melhor para todos nossos funcionários fazerem jus ao salário pago pelo contribuinte, e não pelo governo, e trabalhar com esmero e profissionalismo, buscando os dados reais, baseado na técnica e não em “achismos” ou em orientações políticas, e de preferência com a menor margem de erro possível (entendo que, o que eu estou falando seja dever de todo funcionário público, mas é bom relembrar, pois 71% de erro é difícil de entender). Desta forma, poderão desenvolver ações para realmente solucionar futuros problemas, sejam de preço ou abastecimento, evitando esses “sustos”, onde podem, até no curto prazo, ter o efeito que se busca (seja ele qual for), mas além de não resolver os problemas da cadeia orizícola, ainda podem trazer prejuízos para um dos elos, normalmente o produtor, é claro.

Depois dessa notícia cabe a nós produtores ficarmos, resignados, ouvindo as incansáveis piadinhas de nossos produtores hermanos castelhanos (e de outras línguas também), principais concorrentes ao nosso arroz e outros produtos agropecuários, sobre a falta de seriedade do controles agropecuários do nosso país.

Mas está chegando o Carnaval, então responderemos as piadinhas dos hermanos assim : “para que seriedade, essa parece que nunca tivemos, nosso negócio é mesmo sambar, afinal o produtor é sempre o que dança!!!

Fernando Lopa
Vice-Diretor Secretário
Associação dos Arrozeiros de Alegrete

9 Comentários

  • Concordo com o Fernando Lopa. Um erro de 71% num ambiente agroindustrial é uma aberração quando parte de orgão especializado para fazer os calculos de passagem. Fica o alerta para não acreditarmos de primeira mão nos numeros divulgados. O que não entendo é como a Federarroz ou mesmo organismos proprios dos produtores como sindicatos rurais e associações, não tenham um mecanismo de checagem dos numeros, ficando à mercê destas informações inveridicas. É bom criar um indicador…

  • A prepotencia dos funcionarios da Conab é q faz este erros acontecerem. Minha idéia é q a Fedearroz fizesse um levantamento sério, e colocasse para o governo sem medo. Sr. Fernando temos um lado também para discutir que as vezes o produtor esconde informações, aumenta algumas para forçar a valorização do produto, isso também fica no ar, conversando com muitos analistas de mercado, eles passam essa desconfiança, em seguida os EUA vai dar a projeção da safra brasileira de arroz para nos humilhar mais um pouco e vai fechar com erros minimos, isso tb vai dar samba pra gringo rir de nos.

  • Caro Fernando, alguem devera estar sendo beneficiado com estas noticias erradas da conab, e tambem alguem devera estar levando alguma compensaçao financeira para divulgar estes dados com esta margem de erro tao elevada,no brasil todas hipoteses sao viaveis, um abraço.

  • Fazem muitos anos que os uruguaios e argentinos reclamam da veracidade das informações divulgadas pela CONAB…

  • O que precisamos é começarmos nos unir, toda a cadeia produtiva, e dar um basta nessas barbaridades que cada vez mais estão se banalizando no nosso país, onde o a seriedade das instituições e governo já foi esquecida a muito tempo e quem sempre é sacrificado é o agricultor, que paga todas as contas, e não tem voz ativa pra nada. Até lá vai roncando a cuíca…

  • Erros como este e tantos outros que continuam desacreditando nosso país e principalmente contribuindo pra que a cadeia produtiva do arroz e seu elo de sustentação composto pelos sistemas produtivos, continuem sem a força que deveria ter na comercialização de seu produto.
    Fátima Marchezan
    Mestre em Agronegócios (UnB)

  • Quanto à Conab já tive oportunidade enquanto estagiava na Embrapa sede, que ir à Conab de Brasília em busca de informações e sair de lá como entrei: sem informações. Na pesquisa para o mestrado não foi diferente e a diferença de dados estatísticos entre a Conab e o IBGE, então, me deixou à beira da loucura tamanha a diferença de números. A certeza que fiquei nestas incursões nos bancos de dados e entrevistas in loco foi de que eles não sabem ou recebem orientações para não divulgar ou divulgar números que interessem, porque estes funcionários públicos concursados recebem ordens de superiores que ocupam cargos de confiança, concursados ou não, mas que foram designados conforme a política atual de governo.
    E aí o produtor e demais elos da cadeia do arroz precisam dançam conforme a música…
    Fátima Marchezan
    Mestre em Agronegócios (UnB)
    Fátima Marchezan
    Mestre em Agronegócios (UnB)

  • Manipulam o mercado para levarem vantagem é servergonhice por tdos os lados. Como trabalhar no meio de uma corja.

  • SO NAO EXISTE SERIEDADE, como tambem deslealdade de nosso governo que subsidia os produtores de arroz instalados no Uruguai. Basta ver que uma colhetadeira , ex,. New holand 5090 frabricada ali em Curitiba, Brasil , somos obrigados a pagar R$ 480.000.00 e ali no pais vizinho, pela mesma maquina, fabricada aqui , o produtor Uruguaio paga R$ 280.000,00. Isso acontece com toda a linha de maquinas fabricadas no Brasil. Depois somos obrigados a vender nosso produto pelo preço que o produtor Uruguaio determina, poi a importaçao do produto não é taxada, mas a exportação das maquinas para eles o Brasil é bonzinho e nao cobra os mesmos impostos que pagamos. ATÉ QUANDO CONTINUAREMOS EXPLORADOS?????

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