Sob impacto

 Sob impacto

China: expectativa de grande safra e estoques gigantes

As ondas de choque da pandemia refletem na produção global

A pandemia de covid-19 atingiu o mundo moderno com as mais diferentes ondas de choque. Nenhum segmento passou incólume e os desdobramentos e efeitos seguem acontecendo. Com o arroz não é diferente. Há impactos em toda a cadeia produtiva e de comércio arrozeiro mundial.

Um dos primeiros efeitos, já que o vírus alcançou o hemisfério sul colhendo a safra 2019/20, foi o aumento de área semeada na Ásia na temporada 2020/21 e na América Latina, em especial no Mercosul, na temporada 2021/22. Segundo as últimas estimativas da agência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO/ONU), a produção mundial de arroz em 2021 deve aumentar 1%, para 780,5 Mt (518,2 Mt base beneficiado), contra 773 Mt em 2020. São números que refletem, em primeiro lugar, a expectativa de demanda que foi gerada e, em segundo lugar, os preços a que este cenário elevou o grão.

“A produção asiática aumenta graças à safra recorde da Índia. Na China, a safra se eleva em 1%, contra 0,5% em 2020. Na Tailândia, a colheita vai melhorar 3,5% e, no Vietnã, espera-se uma evolução produtiva de 0,7%”, registrou o economista Patrício Méndez del Villar, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), em seu boletim mensal sobre cenários de produção e mercados mundiais.

Destacou também que nos EUA, após o forte aumento em 2020, a produção teve uma queda de 10% em 2021. No Mercosul, as safras aumentaram, em especial no Brasil, onde se estima aumento de 4,5% sobre 2020. Na África subsaariana, as colheitas voltaram a sofrer com más condições climáticas. “Em Madagascar, a produção teria diminuído 3,5% em 2021”, revelou.

Fique de olho
O cenário mundial indica que na Ásia e na América do Norte, a menos que nova onda de consumo dê suporte aos preços, a temporada 2022 tenderá a registrar um recuo produtivo. Esse comportamento poderia ser capaz de neutralizar eventuais efeitos na maior oferta global do avanço de área e produção, ora registrado no Mercosul.

Teto máximo
Para o Brasil e os demais países de seu bloco econômico (Argentina, Paraguai e Uruguai), exportadores, talvez a melhor notícia do fim de 2021 é de que o comércio mundial manteve uma demanda fortalecida, embora longe dos padrões de 2020. Ainda como reflexo do fortalecimento do consumo, compras de pânico, antecipação de demanda e ações de segurança alimentar por boa parte dos países, em 2021, espera-se que o comércio mundial do arroz confirme aumento significativo, em 7,6%, para 49,1 milhões de toneladas métricas (base beneficiado). Eram 45,6 Mt em 2020, segundo a FAO.

No boletim InterArroz, o economista Patrício Méndez del Villar, do Cirad, afirmou que as necessidades de importação aumentaram em 10% no sul da Ásia, especialmente em Bangladesh, e que as compras chinesas subiram 8% em 2021. A África Subsaariana tem forte crescimento importador, em especial a Nigéria, Costa do Marfim e Senegal.

RECORDE
A Índia disparou na liderança do mercado exportador e espera estabelecer um novo recorde de vendas em 17,5 Mt, 20% acima do histórico 2020. Isso representa 35% do mercado internacional. Já a Tailândia verá os embarques caírem de novo, ficando em terceiro lugar, atrás de Índia e Vietnã, que crescerá 7%. “Em 2022, o comércio mundial pode aumentar mais 5% e atingir 51 Mt pela primeira vez”, observou Méndez del Villar.

Estoques
Os estoques mundiais no fim de 2021 devem aumentar 0,7%, até 187,1 milhões de toneladas (Mt), em base beneficiado, frente as 185,7 Mt registradas em 2020. “As reservas permanecem em níveis satisfatórios, a 36% do consumo global, no percentual médio de cinco anos. Este aumento deve-se ao maior estoque indiano graças às boas colheitas de 2021 e a sua política de estocagem”, frisou Patrício Méndez del Villar.

Por outro lado, espera-se que os saldos chineses, os maiores do mundo, diminuam 0,5%, embora sigam representando 70% do consumo anual. “Espera-se que as disponibilidades nos principais países exportadores aumentem em 5% em 2020/21 para 52 Mt, ou 28% dos estoques mundiais”, acrescentou.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter