SOJA: BUSHEL PERTO DO RECORDE HISTÓRICO, MAS NÃO É SUFICIENTE

Os preços da soja, no Brasil, iniciaram o ano superando marcas nominais históricas (no Rio Grande do Sul, superaram R$ 200,00/60kg), mas recuaram a níveis entre R$ 170,00 e R$ 186,00/saco durante março e abril. Tal recuo deu-se pela forte valorização do real que, por algumas semanas, trabalhou entre R$ 4,60 e R$ 4,70 por dólar. Se é a paridade de poder de compra adequada, não se esperava que fosse alcançada tão rapidamente.

Todavia, como dá-se por efeito especulativo, com capital estrangeiro buscando altos juros balizados pela Selic nos últimos meses, é natural que a volatilidade cambial continue elevada em 2022, em particular considerando as eleições que se aproximam. Ou seja, o real valorizou-se, mas não pela melhoria dos fundamentos de nossa economia, os quais, ao contrário, continuam ruins.

Assim, bastaram novas diatribes políticas internas, o recrudescimento da guerra Rússia x Ucrânia e o retorno de fechamentos na economia chinesa, devido a novos surtos da covid-19, para que, ao fim de abril, o câmbio voltasse a bater em R$ 5,00 e superar a marca em maio. O Banco Central interveio no mercado cambial, vendendo dólares, demonstrando não ter interesse em deixar a moeda brasileira ir muito além do teto dos cinco reais. Se conseguirá, é outra história!

Mesmo assim, os preços da soja no mercado gaúcho mantiveram-se firmes, pressionados pela quebra de safra, devido à seca, e fatores externos já elencados.

Tal firmeza dá-se pela associação de outros fatores que compõem o preço: forte elevação em Chicago e prêmios importantes nos portos brasileiros. No último caso, relacionados à quebra de safra, que superou 20 milhões de toneladas entre o esperado e o que realmente deverá acontecer.

Mas a grande questão está na Bolsa de Chicago! O bushel da oleaginosa, desde o início de março, quando consolidou-se a quebra na América do Sul (Argentina e Paraguai registram perdas); e a guerra na Europa, com disparada dos preços do petróleo, a qual puxou as cotações do óleo de soja em Chicago (no dia 27/4 a libra-peso, naquela bolsa, bateu recorde, fechando em 87,80 centavos de dólar); e quando o plantio da soja nos EUA, em abril, enfrenta seca, superou US$ 17,00. As cotações no fim de abril estão próximas do recorde de setembro de 2012, ao alcançar US$ 17,71.

A média de abril de 2020, quando a covid-19 iniciava seu percurso sobre o mundo, foi de apenas US$ 8,43/bushel. Em 24 meses, o valor do bushel de soja, em Chicago, mais do que dobrou, fechando o dia 27/4/22 em US$ 17,26. Somando-se tal valor à média atual dos prêmios, o bushel de soja, nos portos gaúchos, ultrapassa os US$ 19,00. Algo jamais visto no mercado nacional.

Mas, um alerta: como a história mostra, esse mercado é volátil e deve reverter tal quadro altista assim que as condições gerais apresentarem-se propícias. Mais dia, menos dia acontecerá. Enfim: apesar dos fatores positivos à formação do preço de nossa soja, em termos reais, o valor médio no Rio Grande do Sul, na última semana de abril/22, de R$ 186,86/saco, deveria estar em R$ 189,70, a partir de seu valor nominal de R$ 170,90 da última semana de abril/21.

Apenas levando-se em conta a inflação (IPCA), o saco de soja, no fim de abril, vale menos do que valia um ano atrás. Enquanto isso, os custos de produção subiram 51%. Certos tipos de adubo, como o cloreto de potássio, subiram 155% entre as duas últimas safras. Assim, mesmo com Chicago em torno das máximas históricas e prêmios elevados, os produtores brasileiros, em geral, e os gaúchos, em particular, perderam rentabilidade nesta última safra. No caso daqueles que estão na parte sul do país, a realidade é ainda pior. A seca reduziu sensivelmente a produtividade das lavouras e potencializa as perdas.

Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR/UNIJUI, doutor em Economia Internacional, coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).

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