SOJA: CAUTELA PARA 2023

Passada a colheita dos EUA, que se fixou ao redor de 117 milhões de toneladas (Usda), os olhos se voltam para a safra sul-americana. De uma expectativa que mirava um novo recorde histórico, com a produção total regional podendo chegar perto de 220 milhões de toneladas, agora se fala em volume menor devido ao clima na Argentina e sul do Brasil.

Nessas condições, as cotações internacionais, via Bolsa de Chicago, que iniciaram 2022 em US$ 13,44/bushel (primeiro mês cotado), saltaram para o quase recorde no início de junho, ao baterem em US$ 17,69, puxadas pela guerra Rússia x Ucrânia, voltaram a recuar em outubro diante da pressão da colheita estadunidense e da redução das compras chinesas, atingindo US$ 13,67/bushel. Mas subiram novamente no fim do ano, atingindo a US$ 15,19/bushel no fechamento de 2022.

Assim, o bushel de soja em Chicago, diante das dificuldades climáticas sul-americanas, inicia 2023 valendo quase dois dólares a mais do que um ano antes. Essa é a boa notícia!

Por outro lado, no Brasil, os preços internos da soja perderam força. E nessa parte o câmbio joga um papel importante. Houve uma valorização média do real no período, já que em janeiro de 2022 o mesmo valia R$ 5,71/dólar, fechando dezembro a R$ 5,28. Com isso, o saco de soja, em termos médios, que iniciou janeiro/22 valendo R$ 169,73, inicia janeiro/23 a R$ 171,21. Ou seja, um aumento de apenas 0,9%, enquanto a inflação oficial bate ao redor de 5,8%.

Se é verdade que o custo de produção diminuiu graças à redução no preço dos fertilizantes em particular, a queda destes foi bem menor do que o necessário para compensar essa estagnação nos preços da soja. Sem esquecer que, entre março e abril do ano passado, a soja, por conta da guerra no leste europeu, chegou a ser cotada ao redor de R$ 205,00/saco.

Soma-se a isso os enormes prejuízos climáticos da seca passada (perda ao redor de 55% em relação ao esperado). E o quadro é o mesmo também nas regiões onde a produção passada foi normal.

No Mato Grosso, por exemplo, maior produtor nacional de soja, o custo total, atualizado, de produção desta nova safra subiu para R$ 8.312,87/hectare. Nos últimos três anos, o mesmo disparou 109,3% (cf. Imea). Enquanto isso, o preço do saco de soja, tomando a região de Campo Novo do Parecis como referência, subiu 105,2% no mesmo período. Já entre o início de 2022 e o início de R$ 2023 o aumento foi de 10,5%, com o valor do saco passando de R$ 143,00 para R$ 158,00 no período, enquanto o custo de produção, calculado ainda em julho/22, já havia subido 50,5% em relação a 2021/22 (Imea).

A grande vantagem sobre o sul é que o Mato Grosso sofreu menos com as intempéries, especialmente no último ano. Pelo sim ou pelo não, em produtividade média normal, a safra de soja brasileira de 2023, em termos econômicos, representa ganhos menores. Pelo custo de produção atual indicado e o preço médio deste início de 2023, o produtor mato-grossense precisará de 52,6 sacos para cobrir tais custos.

Já no Rio Grande do Sul, a Fecoagro local alertava, ainda em meados do ano passado, que “a soja indica uma perda por parte do produtor, na relação de troca, de 32,8% em número de sacas necessárias para pagar o custo total de produção, que era de 29,1 sacas na safra anterior, e, agora, (2022/23) aponta uma necessidade de colher 38,64 sacas”. Assim, enquanto na última safra, devido à seca, uma grande maioria de produtores gaúchos fechou no vermelho, para esta nova safra, se o clima deixar, haverá lucro, porém, insuficiente. Portanto, cautela é a palavra de ordem para esta nova colheita que logo mais se inicia.

TABELA 1: VALOR MENSAL MÉDIO DA SOJA EM CHICAGO
(US$/BUSHEL)
MÊS/ VALOR (*)
DEZEMBRO/21 12,89
JANEIRO/22 14,00
FEVEREIRO/22 15,88
MARÇO/22 16,79
ABRIL/22 16,82
MAIO/22 16,77
JUNHO/22 16,90
JULHO/22 15,50
AGOSTO/22 15,69
SETEMBRO/22 14,60
OUTUBRO/22 13,81
NOVEMBRO/22 14,42
DEZEMBRO/22 14,74
(*) Primeiro mês cotado na Cbot
OBS: um bushel corresponde a 27,21 quilos.
Fonte: Ceema/PPGDR/Unijuí, com base na Cbot.

Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR/Unijuí, Doutor em Economia Internacional, Coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema/Unijuí)20

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