Soja e milho avançam na várzea

 Soja e milho avançam na várzea

Terras de arroz : culturas alternativas mudam a paisagem gaúcha

Culturas alternativas são
vistas como um grande avanço agronômico e econômico para áreas
de arroz
.

O cultivo da soja RR e do milho em áreas de várzea do Rio Grande do Sul, tradicionalmente utilizadas para a cultura do arroz, tem crescido nas últimas cinco safras de verão como alternativa de diversificação de culturas e opção extra de renda. O primeiro impacto dessa mudança é econômico, pois implica na reestruturação da propriedade em termos de sustentabilidade financeira. O segundo é tecnológico, já que principais fatores limitantes para que estas culturas sejam produtivas e rentáveis neste sistema são a deficiente drenagem natural do solo e a ocorrência de frequentes períodos de estiagem, o que acarreta alternância entre o excesso e o déficit de umidade no solo.

Estabelecer as bases de um manejo adequado que permita potencializar e estabilizar o rendimento tanto da soja quanto do milho em solos arrozeiros tem sido o foco das pesquisas conduzidas pelo Instituto Rio Grandense do Arroz e pela Embrapa Clima Temperado.?

A soja e o milho são as principais culturas produtoras de grãos utilizadas na diversificação do sistema de produção agrícola nas várzeas do Rio Grande do Sul, em rotação com o arroz irrigado. Além do aspecto econômico, constitui-se em uma ferramenta eficaz no controle de doenças, pragas e invasoras, como o arroz vermelho. Na safra 2012/13, as lavouras de arroz no estado cobriram 1.066.600 hectares, sendo que a área de soja RR cultivada em várzeas foi estimada em 300 mil hectares, de acordo com dados do Irga. Para a próxima safra, a área de soja RR deverá alcançar 400 mil hectares.

O cultivo de milho em várzea, ainda em fase experimental nesta temporada, mas com boa resposta à tecnologia aplicada, também tem sido visto como uma alternativa econômica muito interessante, uma vez que o RS vem acumulando déficit de produção deste grão nas zonas de sequeiro. Em termos econômicos, ambas as culturas remuneram em função dos bons preços. A diferença se dá na comercialização. A soja, por ser uma commodity de grande demanda, tem comprador garantido e uma melhor estrutura de comercialização. O milho tem que achar comprador.

Manejo: sistemas de irrigação e uso de camalhões reduzem os riscos das culturas na várzea

Produção em dobro
Produtores que plantam soja em terras baixas costumam multiplicar a área

Para a pesquisadora na área de melhoramento genético de soja Ana Cláudia Barneche de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado de Pelotas (RS), a soja tem se apresentado como cultura com maior expansão de área cultivada em rotação com o arroz irrigado. “Quem planta 50 hectares em um ano tem, normalmente, dobrado essa área no ano seguinte. Nas grandes propriedades, este aumento é ainda maior, em razão do retorno financeiro. O milho é mais complexo que a soja, pois precisa de irrigação e exige mais cuidado no manejo em relação ao excesso e estresse hídrico. Na comparação com a soja, as perdas no milho podem ser muito maiores quando o clima não é favorável”, avalia.

A Embapa Clima Temperado iniciou os primeiros testes com soja na década de 1970, quando a instituição foi criada (na época se chamava Embrapa Terras Baixas). A pesquisa foi reforçada há cinco anos, com uma maior ênfase no Programa de Melhoramento da Soja para áreas de arroz, com o desenvolvimento de novas cultivares. O trabalho de pesquisa com a soja é amplo, de acordo com Ana Cláudia, abrangendo as áreas de melhoramento, manejo (drenagem, drenos superficiais e profundos, camalhões), compactação de solos, integração lavoura e pecuária e irrigação.

O Programa de Melhoramento de Milho desenvolvido para terras baixas também foi retomado pela instituição, mas com um novo enfoque, conforme explica a pesquisadora de melhoramento genético em culturas anuais Beatriz Emygdio: “A expectativa de expansão do cultivo de milho em terras baixas para os próximos anos e o potencial mercado de sementes que se vislumbra nesse cenário dificilmente justificariam o lançamento de uma cultivar de milho para cultivo exclusivamente em áreas de várzea. A ideia hoje é identificar cultivares que, além de adaptação às demais regiões edafoclimáticas do RS, tenham também aptidão para cultivo em terras baixas. O programa de melhoramento de milho com foco para solos hidromórficos deixou de ser regional e passou a ser considerado no âmbito do projeto nacional de melhoramento de milho”, informa.

Outra peculiaridade do cultivo de milho em terras baixas, de acordo com a pesquisadora, é a importância de cultivares híbridas e de cultivares transgênicas. “Resultados de pesquisa já demonstraram claramente as vantagens dessas tecnologias para o cultivo de milho bem- sucedido nessas condições. A irrigação é outro fator que não pode deixar de ser considerado quando o objetivo é alcançar elevados patamares de produtividade. Nossos resultados têm demonstrado que o milho cultivado em terras baixas com irrigação pode produzir até 70% mais que o milho cultivado sem irrigação”, aponta Beatriz.

Décadas de pesquisa
A Embrapa Clima Temperado, que desenvolve pesquisas com sulco/camalhão desde a década de 1980, também vem obtendo resultados promissores com esta técnica em áreas sistematizadas com e sem declive para estes cultivos. O sistema consiste na estruturação da lavoura para a irrigação por sulcos, obtendo-se, ao mesmo tempo, grande benefício em drenagem, com o cultivo sobre os camalhões formados entre os sulcos.

Esta técnica, como sistema complementar de drenagem superficial do solo, tem se mostrado muito eficiente mesmo nos cultivos em áreas sistematizadas sem declive, onde não existe um gradiente para escoamento superficial da água. O principal requisito para a irrigação por sulcos é que o terreno tenha uma declividade constante e uniforme, requerendo geralmente a sistematização do terreno.

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