Soja: preços e custos em novos patamares

Autoria: Argemiro Luís Brum.

Desde meados de 2014 o mercado da soja está desenhando um novo quadro internacional e nacional. Tal realidade se consolidou nesse primeiro semestre
de 2015. A mesma é composta de dois elementos centrais: preços internacionais mais baixos em relação à média compreendida entre julho de 2007 e junho de 2014; preços internos fortemente dependentes da variação cambial no Brasil, que ficou mais aguda a partir do final do ano passado, contrabalançados por custos em forte elevação, igualmente puxados pelo câmbio.

Tal quadro exige muita cautela e agilidade dos produtores rurais. Cautela para considerar a necessidade de produtividade adequada para compensar a nova relação receita x despesas, em um quadro de mercado mais realista. Agilidade para aproveitar os momentos de preços futuros elevados e, em condições normais, acima da curva média que se prenuncia.

Um recado que serve particularmente aos produtores de soja nas várzeas de arroz, onde a produtividade média é menor em relação às regiões tradicionais de produção. 

Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que, diante dos baixos preços do arroz gaúcho, dependendo da gestão realizada na soja, a mesma pode sim continuar como um interessante complemento de renda regional na Campanha rio-grandense. Em termos de preços da soja no mercado internacional, o recente relatório do USDA (10/07) indicou um valor médio aos seus produtores, para o ano de 2015/16, em US$ 9,25/bushel.

Em comparação ao comportamento do mercado nas últimas décadas, o quadro é o seguinte:

a) entre 1972 e meados de 2007, a média do bushel de soja ficou em US$ 6,69, havendo apenas em quatro curtos momentos valores que giraram em torno dos US$ 10,00/bushel;

b) entre julho de 2007 e dezembro de 2010, a média de Chicago subiu para US$ 10,70, caracterizando o início de um ciclo anormal de altas no valor da commodity, na esteira da grande crise econômico-financeira de 2007/08 que ainda se faz presente no mundo;

c) entre janeiro de 2011 e junho de 2014 esse processo se aprofunda, com a média subindo para US$ 13,99/bushel, sendo que em 2012 a mesma ficou em US$ 14,63;

d) a partir daí o ciclo indica, em princípio, o seu término, pois a média do bushel nos últimos 12 meses (julho/14 a junho/15) voltou a cair para US$ 10,28, com uma tendência de novas quedas nos meses vindouros em caso de safra normal nos EUA.

Nessas condições, nestes últimos 12 meses o que vem salvando a soja, como já frisamos em artigos anteriores, é o câmbio brasileiro. De fato, enquanto o bushel de soja perdeu, ponto a ponto, 23,5% de seu valor, o Real se desvalorizou 40,9% (com o recuo de Chicago, se não tivesse ocorrido a desvalorização cambial no período, o produtor de soja gaúcho, em meados de julho/15, estaria recebendo ao redor de R$ 44,00/saco no balcão e não os R$ 63,00 realmente praticados).

Em termos nominais, a soja passou de R$ 27,34/saco na média do primeiro semestre de 2007, para R$ 63,82/saco na média do primeiro semestre de 2014. Ou seja, um aumento de 133,4% no período. Por sua vez, a média dos 12 meses compreendidos entre julho/14 e junho/15 recuou para R$ 58,02/saco, ou seja, 9,1% em relação ao primeiro semestre de 2014. Assim, a queda só não foi maior justamente devido à desvalorização do Real no período, a qual compensou largamente o recuo em Chicago.

Isso posto, o quadro para a próxima safra de soja indica um comportamento de preços mais apertado. Em termos cambiais, em não havendo novos tropeços econômicos internos e externos, o câmbio parece ter batido no seu limite de desvalorização para este ano (o mercado aponta um câmbio de R$ 3,25 no final de 2015 e de R$ 3,35  no final de 2016).

Por outro lado, em termos de Chicago há ainda um espaço para um pouco mais de retração nos preços da soja, desde que a safra dos EUA venha a ser normal (o relatório do dia 10/07 aumentou a projeção de produção, apontando agora 105,7 milhões de toneladas nos EUA, o que seria a segunda maior da história daquele país – colheita com término em novembro – e 318,9 milhões de toneladas em termos mundiais). Como a demanda tem crescido menos do que a oferta nestes últimos tempos, a pressão baixista é a considerar (obviamente, uma frustração de safra nos EUA reverte o quadro).

Desta forma, a preços nominais, considerando a média esperada em Chicago e o câmbio a um patamar médio de R$ 3,30 para os primeiros quatro meses do próximo ano, o preço da soja no balcão gaúcho caminha para valores médios ao redor de R$ 59,00 a R$ 61,00/saco. Como as ofertas futuras, para maio/16, estão ao redor de R$ 70,00/saco nesse meados de julho/15, está aí um momento de o produtor gaúcho ser ágil visando garantir uma média final de preços mais elevada.

Afinal, se considerarmos a inflação oficial entre o primeiro semestre de 2007 e o primeiro semestre de 2015 (61,5%) a soja teve um ganho real importante. Isso não está garantido no momento da colheita da próxima safra a julgar pelo comportamento dos preços futuros e, principalmente, da inflação nacional, em constantes e importantes altas desde meados do ano passado.

Enfim, outro elemento em jogo é que, se por um lado o câmbio auxiliou a sustentar os preços da soja nos últimos 12 meses, igualmente é verdade que o mesmo elevou consideravelmente os custos médios de produção. Entre julho/14 e junho/15 os mesmos se elevaram ao redor de 12%. Isso significa que, na tendência, a rentabilidade do produtor de soja gaúcho venha a ser menor nesta próxima colheita da oleaginosa.

Mais um motivo para não se deixar passar os picos de alta da oleaginosa no mercado de vendas futuras, tipo esse que ocorreu na primeira quinzena de julho.

 

Argemiro Luís Brum é professor da Unijuí, doutor em Economia Internacional, analista de mercado e coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema/Dacec/Unijuí)

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