Superar os gargalos, encontrar o equilíbrio
Arroz no navio
é garantia de
preços rentáveis ao
produtor nacional.
Na análise do presidente da Câmara Setorial Nacional do Arroz, Francisco Lineu Schardong, que também é diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), as exportações de arroz são fundamentais para manter o equilíbrio dos preços no mercado interno, uma vez que tradicionalmente o Brasil importa o cereal dos seus parceiros do Mercosul, onde os custos de produção são mais baixos por conta das vantagens tributárias.
“A diferença entre o que se gasta para produzir e o que se ganha com a saca do cereal é de pouco mais de R$ 1,00. Os produtores gaúchos e os catarinenses têm um custo maior de transporte, de impostos, de carga tributária, o chamado custo Brasil. E do lado uruguaio o custo é menor. Um trator que no Brasil é vendido a R$ 100 mil, no Uruguai sai por R$ 70 mil. Nós somos o único país no mundo que tributa no custo de produção. Quando vamos plantar a lavoura já é cobrado imposto. Isso dificulta muito a concorrência com outros países”, avalia Schardong.
Além da carga tributária, a falta de infraestrutura portuária adequada para escoar o cereal com maior agilidade é outro gargalo às exportações brasileiras de arroz.“O Porto de Rio Grande ainda não está capacitado para receber navios de grande porte e também não dispõe de um shiploader (equipamento que permite o carregamento sem movimentação do navio, atingindo todos os pontos de cada porão). Também por questões portuárias não podemos, por exemplo, exportar arroz ensacado, que tem um grande mercado no Oriente Médio. Esses e outros entraves logísticos precisam ser resolvidos em curto prazo”, observa o gerente de projetos do Brazilian Rice, André Anele.
O projeto Brazilian Rice, criado em 2012, tem sua atuação voltada à capacitação de empresas com perfil exportador, no estudo de novos mercados e na promoção do arroz brasileiro no exterior. Anele explica que, a partir de convênio firmado com a Abiarroz, a Agência Brasileira de Promoção e Exportação de Alimentos (Apex-Brasil) e o Irga, o projeto tem se dedicado a divulgar a qualidade do arroz produzido no país em feiras e eventos internacionais, chamando a atenção de mercados alvo na América do Sul, na Europa e na África, além de qualificar as indústrias para a exportação.
O vice-presidente de mercados e política agrícola da Federarroz, Daire Coutinho, reconhece que a exportação de arroz deixou de ser um tema exclusivamente da cadeia produtiva para tornar-se uma política de governo que abrirá muitas novas oportunidades para o setor. Mas, de acordo com o dirigente, além de ações como as que estão sendo construídas pelos poderes públicos e instituições de suporte às exportações, é importante que haja investimentos em infraestrutura. “Mais do que ingressar em novos mercados, precisamos mantê-los. E, para isso, os investimentos em transporte e logística e as políticas de suporte às vendas externas e desoneração tributária são vitais”, ressalta.
Boas perspectivas para 2014
O ano de 2014, ao que tudo indica, será favorável às exportações brasileiras de arroz, podendo ultrapassar o volume comercializado em 2013. A estimativa é do presidente da Abiap, Marco Aurélio Amaral Júnior: “Temos uma boa safra, o dólar está alto e os preços estão estáveis. O trabalho realizado pela Abiap e Abiarroz em conjunto com a Apex-Brasil está surtindo efeito. Estamos levando nosso produto para as feiras internacionais e isto está atraindo o interesse de muitos países que são compradores em potencial. Cada vez mais empresas de trading querem se instalar no RS para participar deste mercado”, aponta o dirigente.
Conforme o dirigente, mercados como a Ásia e o Oriente Médio são mais difíceis de serem conquistados e fidelizados em razão da distância. “A África, no entanto, tem a vantagem de estar mais próxima devido às condições geográficas. Isso também vale para os mercados da Europa e das Américas, como Caribe, Haiti, Bolívia e México. Para Cuba, já temos dois navios com previsão de saída, um em 25 de fevereiro e outro em 25 de março”, diz Marco Aurélio.
Para o presidente da Abiap, o México é outro cliente em potencial para o cereal brasileiro. “Os EUA, que são fornecedores tradicionais daquele país, não conseguem mais atender o padrão de qualidade que eles exigem por conta de três safras consecutivas que foram frustradas. Isso abre boas perspectivas para o Brasil”, aposta. O sistema de escoamento dos Estados Unidos, que usa chatas ao longo de rios e mistura os diversos padrões e variedades de arroz colhido, também reflete nesta queda de qualidade no mercado internacional.
O presidente da Federarroz, Henrique Osório Dornelles, informa que um passo importante nessa direção já foi dado: “Ainda não havia um protocolo de comercialização para o arroz entre os dois países. Nós trabalhamos com o Mapa para avançar nessa questão, fizemos este protocolo e hoje o Brasil está apto para exportar para o México, ou seja, estamos qualificados como possíveis exportadores”, assegura. Agora o desafio é realmente consolidar as primeiras vendas e embarques e obter a confiança de seus consumidores.