Tempo bom para o arroz do litoral
Litoral norte busca denominação de origem ao arroz.
Para os veranistas que rumam às praias do litoral norte do Rio Grande do Sul, as lavouras de arroz formam uma paisagem de encher os olhos. Mas é a qualidade do cereal produzido na região que chama a atenção dos maiores mercados consumidores do país e de indústrias beneficiadoras de outros estados. Agora a meta é o mercado externo.
A orizicultura na região ocupa uma área plantada de 125 mil hectares e produz anualmente 800 mil sacas. O arroz das lavouras norte-litorâneas apresenta rendimento de até 67% de grãos inteiros, o que agrega ao produto em casca preços até 10% maiores que a média do estado.
Este diferencial qualitativo, para Marco Aurélio Tavares, vice-presidente da Federarroz e presidente da Associação dos Arrozeiros de Santo Antônio da Patrulha (AASAP), está relacionado a uma série de fatores, a começar pela localização geográfica, vias de acesso (BR 290) e logística de transporte. “Isso faz com que indústrias de outros estados, como Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais, tenham grande interesse por este arroz”, explica.
Do ponto de vista agronômico, Tavares destaca o uso de cultivares apropriadas, clima favorável e menor amplitude térmica – menor oscilação de temperatura entre o dia e a noite -, brisa litorânea permanente e também um gradiente de umidade relativa do ar mais estável. “Isso contrasta muito com a fronteira, onde há temperaturas diferenciadas durante o dia e a noite, o que provoca quebra no grão”, diz.
O excelente resultado final do arroz do litoral norte deve-se também ao fato de 80% da armazenagem e secagem estar na mão dos produtores, que têm maior gestão no processo. Segundo dados oficiais, no Rio Grande do Sul, 15% da armazenagem e secagem pertencem aos produtores, índice que chega a 25% na Argentina e 45% nos Estados Unidos.
Apesar disso, a região apresenta produtividade inferior em comparação a outras do estado. Nesta safra a média projetada fica em 130 sacas por hectare. Tavares explica que a recomendação da pesquisa, além da moderna tecnologia aplicada à lavoura, é antecipar o plantio: “Isso permite potencializar a produtividade da lavoura e, colhendo mais cedo, o produtor tem menor dificuldade para secagem do grão e aeração, além de facilitar o manejo da próxima lavoura”.
INPI – Com base nessa conjunção de fatores, produtores e representantes de cooperativas e de indústrias do litoral norte estão solicitando ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) que o arroz produzido na região obtenha a denominação de origem (DO). A certificação, que confere tipicidade única ao produto, de acordo com aspectos climáticos, de solo e vegetação, tem como objetivo agregar valor ao grão da região para atrair compradores do mercado externo. O pedido foi encaminhado em 28 de janeiro e, se aprovado, colocará o arroz na posição de primeiro produto brasileiro a obter a certificação. Uma identidade que na prática o mercado já conhece.
MERCADO PROMISSOR
Em 2007, pela primeira vez na história da indústria do arroz do Mato Grosso, as empresas precisaram comprar o cereal em casca do Rio Grande do Sul para suprir a demanda das fábricas. A qualidade do grão produzido no litoral norte, as vantagens logísticas da região e a proximidade dos grandes centros de distribuição foram fatores que atraíram também uma das maiores empresas de beneficiamento de arroz do Centro-oeste e fabricante da marca Tio Ico. A indústria, ainda em fase de implantação no estado, já beneficia e ensaca uma média de 30 mil a 40 mil sacas do grão por mês, desde agosto do ano passado.
De acordo com o sócio-proprietário da empresa, Joel Gonçalves Filho, a implantação de uma unidade industrial no Rio Grande do Sul foi a estratégia encontrada para expandir os negócios e recuperar o mercado. “No Mato Grosso estamos em uma posição desfavorável, principalmente em relação aos custos com transporte”, avalia. Agora, além de abastecer a capital gaúcha e a região metropolitana, atende os mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. Para o empresário, a experiência está sendo positiva, mas a capacidade de produção da fábrica já está no limite. “Vamos precisar fazer investimentos”, garante.