TODOS NA REDE PARA GARANTIR O ARROZ NA PANELA

 Em diversos fóruns e instâncias que tratam de assuntos relativos à cadeia produtiva do arroz, frequentemente são abordadas questões de planejamento e coordenação das ações de pesquisa e transferência de tecnologia. Um exemplo disso é a agenda estratégica vinculada à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz no Mapa. O avanço de propostas para criar um programa coletivo esbarra na falta de informação sobre o quadro institucional e profissional atuante.

O tema de colaboração fica evidenciado nas crises, quando a necessidade de se otimizar os recursos disponíveis torna-se prioritária de maneira generalizada. Ao se tratar da cadeia produtiva do arroz há um agravante, pois o principal estado produtor – Rio Grande do Sul – está enfrentando adversidades adicionais à situação econômica que o país se encontra.

O enfrentamento das questões levantadas nos parágrafos anteriores passa necessariamente pelo bom desempenho do setor da pesquisa agrícola, seja instituição pública, privada ou universidade. Nesse aspecto, o sucesso não depende somente da capacidade de a instituição gerar tecnologia, mas também da aptidão para atingir eficiência no aproveitamento dos recursos físicos, financeiros e humanos, bem como na habilidade para conseguir uma boa administração e planejamento técnico tendo como foco alcançar as metas e objetivos estabelecidos. Por outro lado, para alcançar êxito nessas questões depende-se da capacidade de realizar a leitura correta das demandas atuais e futuras.

Diante desse quadro é que foi tomada a iniciativa pela Embrapa de levantar as competências do setor orizícola no Rio Grande do Sul visando obter subsídios para criar uma rede de pesquisa e transferência de tecnologia para o arroz. Nesse artigo são apresentados os resultados e propostas para atingir o objetivo final.

Foi estabelecido um roteiro para a consecução da proposta para mapear as competências do setor orizícola do Rio Grande do Sul. Primeiramente estabeleceram-se áreas de conhecimento a ser consideradas para promover o desenvolvimento da cadeia produtiva do arroz. A definição foi feita a partir de emendas de disciplinas de cursos da área agrícola da Universidade Federal de Viçosa. Desse modo chegou-se numa matriz composta de 12 áreas de concentração: i) administração; ii) qualidade de grãos, segurança alimentar e saúde; iii) recursos genéticos; iv) melhoramento genético vegetal; V) biotecnologia aplicada ao melhoramento de plantas; vi) fisiologia e ambiência ambiental; vii) fertilidade e solos; viii) usos sustentáveis de recursos naturais; ix) engenharia agrícola; X) controle de insetos-pragas, doenças e plantas daninhas; xi) gestão da inovação; xii) transferência de tecnologia. Essas áreas foram subdivididas em 107 linhas de atuação.

A segunda iniciativa foi fazer um levantamento das organizações e instituições que atuam na cadeia produtiva do arroz no Rio Grande do Sul. Foram identificadas as seguintes instituições: Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Pecuária Sul, Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A matriz foi preenchida na Embrapa Arroz e Feijão e enviada para as unidades da Embrapa localizadas no Rio Grande do Sul para ser aprimorada. Portanto, os posicionamentos das unidades da Embrapa na matriz foram feitos pelos próprios empregados enquanto os dados de outras instituições foram obtidos indiretamente, ou seja, foram os pares dessa instituição que indicaram o nome dos profissionais, suas competências e atividades que desempenham. Nas sete unidades abordadas foram identificados 97 profissionais que trabalham em pelo menos uma linha de atuação. Outro procedimento adotado para preencher a matriz foi a consulta ao currículo disponível na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Observa-se na figura 1 a distribuição dos técnicos nas respectivas instituições. Ressalta-se que mais da metade dos técnicos faz parte do quadro de empregados da Embrapa. Por outro lado, observa-se a significativa participação do Irga (17) e a grande contribuição das universidades (29), que são importantes na realização de pesquisas e na formação de recursos humanos.

Na figura 2 observa-se que entre as áreas do conhecimento, a agronomia é a formação dominante. Salienta-se que as outras áreas também são muito importantes na construção do conhecimento e geração de ciência.

Na figura 3 observa-se que a qualificação é alta e que 66% dos indivíduos possuem título de doutores.

Tal grau de estudo, é um componente importante, pois fortalece a robustez e a confiabilidade das pesquisas.

Figura 1: Distribuição dos profissionais por instituições

Figura 2: Distribuição de frequência (%) dos profissionais por curso de formação

Figura 3: Distribuição de pessoas por nível de formação

Pela figura 4, a expertise do grupo fica ainda evidente devido ao grande número de profissionais (69%) possuir graduação há mais de 10 anos.

A figura 5 trata da frequência de expertise, tendo como referência a Embrapa Arroz e Feijão. Observa-se uma fragilidade: o fato de que 16% das áreas de concentração estão totalmente descobertas, ou seja, não há expertise em nenhuma das instituições participantes da pesquisa, sendo a maior debilidade na área da engenharia agrícola. Outro aspecto a ser considerado é que há concentração em certas áreas, como o melhoramento genético de plantas. Observa-se ainda na figura 5 que 44% das expertises estão nas instituições parceiras da Embrapa Arroz e Feijão, enquanto 33% das expertises presentes na Embrapa Arroz e Feijão existem também em ao menos outra instituição. Por outro lado, 6,6% das expertises existem somente na Embrapa Arroz e Feijão.

Figura 4: Distribuição dos profissionais por período de formação


Figura 5: Frequência de expertise

A continuidade e aperfeiçoamento da matriz de competência pode se transformar num instrumento de suporte à tomada de decisões, pois permite identificar interesses e demandas coletivas, pontos cruciais que obstaculizam a cadeia produtiva do arroz. Por outro lado, reforça e estimula a integração institucional, com reflexos na melhoria do aproveitamento dos recursos humanos e financeiros. Portanto, poderá ser uma ferramenta que subsidiará o fortalecimento da Rede de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) do Arroz no Rio Grande do Sul e, posteriormente, em outras regiões no Brasil.

Evidentemente, a implantação real da rede depende de decisão dos gestores das instituições, porém cabe aos técnicos fazerem o trabalho visando sensibilizar aqueles que ainda não perceberam os benefícios que uma rede pode ocasionar para a cadeia produtiva e sociedade. Para a sequência do trabalho sugerem-se as seguintes fases: i) criar um grupo de trabalho que terá como missão revisar a matriz, consultando as instituições que não se pronunciaram diretamente e, no caso da Embrapa, confirmando as informações iniciais; ii) analisar a matriz consolidada, identificando fortalezas e fraquezas existentes, lacunas/gaps e sobreposições de temas; iii) apresentar a matriz nas sete instituições; iv) complementar a matriz levantando infraestruturas de apoio e laboratórios das empresas/instituições; v) apresentar os resultados do grupo de trabalho às empresas/instituições e, posteriormente, para outros segmentos organizados da cadeia produtiva do arroz; vi) consolidar um documento com sugestões priorizando pesquisas e ações de transferência de tecnologia; vii) realizar uma rodada de negociações com as empresas/instituições visando o estabelecimento e composição de parcerias para o fortalecimento da Rede de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Arroz na Região Sul.

CARLOS MAGRI FERREIRA
PESQUISADOR DA EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO

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