Um “país” arrozeiro

Se fosse uma nação, o RS teria a maior produtividade do mundo
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O Rio Grande do Sul, estado com 11 milhões de habitantes e 5 milhões de hectares de várzeas férteis, se fosse um país, disputaria a liderança em produção de arroz no Ocidente com os Estados Unidos e seria o mais eficiente do mundo em produtividade. Na safra 2010/11, o estado mais ao sul do Brasil colheu 8,832 milhões de toneladas de arroz em casca, um avanço de 20,6% sobre os 7,320 milhões da temporada passada. O resultado, segundo a Conab, foi alcançado sobre a área de 1,162 milhão de hectares, 7,3% maior que os 1,08 milhão de hectares de 2010/11.

A evolução, portanto, também é associada ao avanço de 12,1% no rendimento por área da cultura, que passou de 6.781 quilos por hectare para 7,6 mil quilos por hectare. O clima, que permitiu a semeadura de área recorde no melhor período recomendado e manteve o nível das barragens para a irrigação das lavouras, foi diretamente responsável pelas dimensões da colheita. Mas a consolidação de números que colocam o Rio Grande do Sul no topo das Américas em produção de arroz é construída há uma década, com a evolução da lavoura.

Neste aspecto, três fatores têm sido fundamentais: a profissionalização dos produtores e da mão-de-obra empregada na lavoura – dentro de conceitos de alta produtividade e por meio da transferência de tecnologias de centros como Irga e Embrapa e empresas privadas -, a disponibilização de variedades que respondem bem a essa carga tecnológica e a limpeza de muitas lavouras comprometidas por pragas ou invasoras com a adoção de métodos como o sistema Clearfield® e variedades híbridas.

O estado também destaca-se pelo diferencial de qualidade das variedades nobres, de alto rendimento industrial, que constituem o mercado especial do tipo “extra”. O excedente de quebrados, que antigamente precisavam entrar no mercado nacional, agora se tornou um grande negócio na exportação para a África.

“O Rio Grande do Sul se profissionalizou na lavoura e está se profissionalizando no comércio internacional como um fornecedor respeitável, eventualmente superando exportadores tradicionais, como Argentina e Uruguai”, reconhece o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Renato Rocha.

Gargalo no escoamento

Segundo o presidente do Irga, Cláudio Pereira, o grande problema do RS, que representa 64,3% da produção brasileira, é o escoamento. Com um consumo anual de 500 mil toneladas, o estado precisa enviar para o Brasil e o mundo 8,2 milhões de toneladas, sem contar os estoques do governo federal e privados.

Pereira aponta que, da porteira para dentro, o arrozeiro gaúcho faz um grande trabalho, mas enfrenta problemas estruturais, como a alta carga tributária brasileira, os juros, a dificuldade de acesso ao crédito oficial, o fato de mais de 60% dos produtores serem arrendatários, os gargalos para a exportação, inclusive dentro do país, e a concorrência do Mercosul, onde se paga menos da metade dos impostos que um produtor brasileiro pelos insumos, máquinas e equipamentos.

Ele entende que esses problemas estruturais é que fazem com que o produtor gaúcho alcance uma das maiores produções das Américas e a maior produtividade média do mundo amargando um prejuízo de até R$ 10,00 por saca, o que representa mais da metade do custo médio de produção dos principais concorrentes.

“A ordem, nesta e nas próximas safras, é reduzir custos. Enquanto isso, o setor trata de buscar alternativas de escoamento, seja com medidas de apoio à estrutura de exportação ou com o direcionamento do arroz de menor qualidade para rações animais ou para a produção de etanol”, argumenta Pereira.

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