Um buraco na produtividade

Leiveiro e taipa alta: a combinação que dá muito prejuízo .

 Uma falha muito comum no preparo da área de arroz no Rio Grande do Sul gera o estabelecimento de uma “zona perdida” dentro da lavoura, fazendo com que o produtor deixe de obter melhores produtividades. Esta falha na formação da lavoura é uma conjugação de dois defeitos estruturais: taipa alta e leiveiro profundo. O leiveiro é a área de onde a entaipadeira retira a terra para a formação das taipas.

  

 

 

 

 
Estas, por sua vez, também são conhecidas na zona sul e parte da fronteira gaúcha como “marachas”. O leiveiro, ou cava, é a área mais profunda, compactada e de solo com menor potencial produtivo, segue paralelamente às taipas e apresenta-se com um espaço morto, improdutivo dentro da lavoura e que costuma represar a água das chuvas ou mesmo da irrigação.

Há mais de cinco anos, foram iniciados trabalhos de diagnóstico de “brechas” de produtividade na lavoura arrozeira gaúcha. Eles deram origem ao Projeto 10, desenvolvido preliminarmente pela Associação dos Arrozeiros de Dom Pedrito em parceria com o Instituto Riograndense do Arroz (Irga). A má- formação das taipas e a presença de leiveiros profundos foram apontados como uma das causas de restrição produtiva na orizicultura do estado.

O pesquisador do Irga, Valmir Gaedke Menezes, um dos idealizadores e atual coordenador técnico do projeto, explica que a presença de uma taipa muito alta com um “buraco” em cada lado é um dos grandes pecados contra a alta produtividade na lavoura. Nesse trecho do terreno não costuma existir plantas produtivas ou, se existem, apresentam-se em baixo volume e em meio a muitas plantas daninhas, tornando-se impossível de colher. Os leiveiros formarão um vácuo de produtividade, com má-formação do estande de plantas.

A exceção da fronteira-oeste, onde há uma notada melhor condução das taipas, pelas condições do terreno, é comum ver-se o arrozeiro realizar a semeadura em duas etapas. Uma no “quadro” e outra na taipa. A dupla operação é repetida na colheita, agregando custos, pois o arroz produzido nessa área, normalmente tem baixa qualidade. “Não se trata apenas do aspecto produtividade. Temos que avaliar o conceito de qualidade também”, acrescenta Menezes.

Nessas condições, a taipa se torna uma região de escape para a multiplicação de plantas daninhas e a entrada de pragas e doenças na lavoura. “Uma estrutura alta demais não poderá ser irrigada adequada-mente. Em anos secos, a água não chega. Torna-se o ambiente ideal para agentes nocivos à produtividade”, explica o pesquisador. O ambiente torna-se próprio para gerar hospedeiros e tornar-se um abrigo de pragas durante o ciclo da lavoura ou mesmo na entressafra. 

Lavoura ideal 

A situação ideal da lavoura, orienta o agrônomo Valmir Gaedke Menezes, é a formação de uma taipa baixa, sem leiveiro, em que toda a área seja aproveitada numa só operação de estabelecimento do estande de plantas e depois numa só operação de colheita. “A taipa tem que ser uma extensão produtiva da lavoura, não um problema. No nível de tecnificação e conhecimento que chegou a orizicultura gaúcha, cada centímetro tem que ser produtivo”, frisa.

Para atingir esta condição, é preciso trabalhar com entaipadeira bem regulada e em baixa velocidade. Os melhores resultados têm sido obtidos em operações com entaipadeiras de base larga, com 14 discos (os últimos são pequenos e curvos para rechegar a terra retirada do leiveiro) e um rolo de curvatura suave. Afora isso, outros implementos estão sendo lançados especialmente para rechegar a terra nos buracos de leiveiro. 

Questão básica 

A taipa tem que ser baixa, não precisa ter mais do que 10 a 15 centímetros, segundo o pesquisador Valmir Menezes, do Irga. No caso de um desnível maior, o indicado é a formação de mais uma taipa baixa e de base larga no trecho. “É muito melhor ter duas taipas produtivas incorporadas à área da lavoura do que ter uma inadequada que se torna um buraco na produtividade”, acrescenta.

 

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