Uma mulher do arroz

 Uma mulher do arroz

Beatriz: vida profissional dedicada ao melhoramento do arroz brasileiro

No final de julho a doutora em Biologia Vegetal Beatriz da Silveira Pinheiro deixou a chefia-geral da Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, após quatro anos no cargo. Nesta entrevista a pesquisadora apresenta um pouco de sua trajetória e faz um balanço das ativida-des do Centro Nacional de Pesquisa em Arroz e Feijão, da Embrapa, durante sua gestão.
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PLANETA ARROZ – O que des-taca em sua trajetória como pes-quisadora?

Beatriz – A maior parte da minha carreira foi desenvolvida na Embrapa, baseada na unidade de Goiás e atuando com arroz de sequeiro, mas iniciei como pesquisadora em 1972, em melhoramento de arroz irrigado, no programa conjunto Irga-Ipeas, no Rio Grande do Sul. Orgulho-me de ter realizado os primeiros cruza-mentos do programa, dos quais um resultou na cultivar BR Irga 411. Em 1974, já na Embrapa, fui encarregada de conduzir em Goiânia a primeira geração de inverno do programa conjunto de melhoramento. Em 1975 iniciei mestrado em Fisiologia Vegetal, na Universidade da Califórnia, Davis, EUA. Retornando ao Brasil em 1977, fui atuar no CNPAF, onde me juntei à equipe de melhoramento de arroz de sequeiro para definir parâmetros e metodologias de avaliação para tolerância à seca e dar apoio à seleção.

PA – Daí surgiu o arroz de terras altas?

Beatriz – Desse programa resultaram, dentre outras, as cultivares Rio Paranaíba, Guarani e Caiapó, de grande participação em área cultivada na região. O trabalho da equipe de melhoramento levou ao desenvol-vimento das cultivares de tipo de planta moderno e grãos longo-finos, desencadeando um novo cenário para o cultivo, sob a denominação de “arroz de terras altas”. Em 1989 concluí doutorado em Biologia Vegetal, na Universidade de Campinas (SP). Além das atividades de apoio ao melhoramento passei a dedicar-me também a estudos para o melhor entendimento do compor-tamento da planta de arroz sob deficiência hídrica, em parceria com instituições da Comunidade Eco-nômica Européia.

PA – Mas a senhora também sempre trabalhou ligada à área adminis-trativa…
Beatriz
– Sem dúvida. Ao longo da minha carreira estive fortemente engajada em administração da pesquisa nos programas de gestão da Embrapa. Atuei como coordenadora do Programa Nacional de Pesquisa Arroz, membro e secretária executiva da comissão técnica do Programa Grãos. Em 2001 assumi a chefia adjunta de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Arroz e Feijão, em 2003 candidatei-me à chefia-geral, função que assumi em 2004 e cumpri por quatro anos. Minha posse como chefe da unidade ocorreu, coinciden-temente, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

PA – Quais os trabalhos que se destacam durante sua gestão como chefe-geral?

Beatriz – Considero a renovação do quadro técnico como de especial importância. Incorporamos 11 jovens pesquisadores e cinco analistas em áreas clássicas da pesquisa, como também em novas áreas, como valoração de recursos genéticos, e pós-colheita, modelagem, mudanças climáticas e sistemas agroecológicos, o que está permitindo uma maior inserção da instituição em redes de pesquisa nacionais e internacionais. Ampliamos a nossa capacidade de pesquisa nas áreas de biotecnologia e química de alimentos, de solo e de planta. Marcadores moleculares estão sendo utilizados na determinação de variabilidade genética e formação da Coleção Nuclear de Arroz da Embrapa.

PA – Há trabalhos importantes também com relação ao feijoeiro, parceiro inseparável do arroz na mesa…

Beatriz – Sim. Em feijoeiro estamos conduzindo estudos visando evitar o escurecimento dos grãos, aumentar a qualidade da proteína, o teor de fibras e de micronutrientes, a chamada biofortificação. Estamos trabalhando também no ajuste fitotécnico e perfeita inserção dos nossos produtos no sistema de produção, envolvendo técnicas de manejo cultural e fitossanitário, que propiciem aumento de renda e redução do impacto ao ambiente. A produção de sementes de feijão com irrigação subsuperficial vem se revelando como uma possibilidade atrativa para várzeas tropicais. Além disso, atuamos na transferência de tecnologia para multiplicadores da assistência técnica aos pequenos produtores rurais, um projeto financiado pelo Incra, com ênfase na agricultura de base ecológica.

PA – E um programa de me-lhoramento que tem grande demanda dos produtores do Centro-oeste?

Beatriz – O programa de melho-ramento de arroz da Embrapa lançou várias cultivares nos últimos anos. Como destaques podemos citar BRS Jaçanã para o ambiente irrigado tropical, BRS Querência e BRS Fronteira para o ambiente irrigado subtropical e BRS Sertaneja para o sistema de terras altas. Além disso, estamos investindo em um projeto para o desenvolvimento de híbridos de arroz irrigado em parceria com o Cirad, da França.

PA – E ainda há o programa pelo consumo…

Beatriz – Certamente. Outro destaque são as ações visando reverter a queda de consumo do arroz e do feijão, no contexto da campanha Arroz e Feijão: o Par Perfeito. A iniciativa foi muito divulgada pela mídia.

PA – Mais algum destaque que a senhora queira fazer? 

Beatriz – Finalmente, quero destacar que não descuidamos da gestão administrativa e da capacitação e motivação dos recursos humanos. Fizemos ampliações e reformas em nossa sede, visando melhores condições de trabalho e bem-estar para nossa equipe.

PA – Quais os rumos da sua carreira a partir de agora? 

Beatriz – Deixo a chefia, mas não pretendo aposentar-me de imediato, pois ainda tenho muita energia para seguir contribuindo com as cadeias produtivas de arroz e feijão. Assim, tenho planos de fazer um MBA em gestão da inovação tecnológica e a partir desse conhecimento ajudar na definição da agenda de PD&I da Embrapa.

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