Vai esfriar!

Especialista desmistifica fenômeno do aquecimento climático .

A o contrário do que se tem sido discutido e divulgado pela mídia, o mundo deverá passar por um resfriamento global nas próximas duas décadas. A afirmação é do professor associado da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e diretor do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat), Luiz Carlos Baldicero Molion.

A convite do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Molion esteve em Porto Alegre para a conferência de abertura do 6º Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado (CBAI), na qual abordou o tema “Aquecimento global: mitos e verdades”. A ideia, segundo ele, é desmistificar o fenômeno do aquecimento climático pelo aumento dos gases do efeito estufa que são produzidos na orizicultura, como o metano (CH4).

Nesta entrevista, concedida com exclusividade à Planeta Arroz, Molion explica que, apesar dos arrozais estarem aumentando em área, a concentração de metano vem caindo, contrariamente às expectativas. De acordo com o especialista, o aumento de gás carbônico (CO2) deve provocar uma fertilização e consequente aumento de produtividade dos cereais.

Molion observa que nos últimos oito anos a temperatura média global, medida por satélites, tem decrescido em decorrência das águas do Oceano Pacífico permanecerem, em média, mais frias. O resfriamento se manifesta principalmente por meio de invernos com uma frequência maior de entrada de massa de ar polar, como tem ocorrido no Hemisfério Norte. “Os indícios nos levam a concluir que esse resfriamento poderá perdurar por cerca de 20 anos. Isso é muito pior do que seria um aquecimento, em particular para o Rio Grande do Sul, que poderá apresentar redução de chuvas em janeiro e fevereiro e invernos com eventos de geadas severas”, destaca.

EFEITO ESTUFA

O metano é um gás de efeito estufa 21 vezes mais eficiente que o CO2 em absorver a radiação térmica (calor) emitida pela superfície terrestre. Ele é o chamado “gás dos pântanos” e é resultante da fer-mentação anaeróbia da matéria orgânica, notadamente a vegetal. Sua concentração começou a ser medida no início dos anos 1960 e estava aumentando desde então.

Esse aumento foi atribuído ao aumento das atividades agropecuárias, particularmente as plantações de arroz inundado, e à pecuária de animais ruminantes.

Contribuem também os cupins e os alagamentos em várzeas de rios, que são imensos no caso da Amazônia, e manguezais. Desde 1998, entretanto, a concentração desse gás se estabilizou e nos últimos oito anos apresentou um crescimento negativo, ou seja, um decréscimo e não aumento na atmosfera.

Os estudiosos do assunto não sabem qual seria a razão para essa diminuição, uma vez que os arrozais e o plantel dos animais ruminantes continuam a aumentar no mundo. Ficou claro, então, que não são as atividades humanas que controlam a concentração de metano.

Possivelmente um dos controladores sejam os oceanos, que quando se resfriam, como está acontecendo desde 1999, absorvem mais esse gás. Assim, os arrozeiros e os pecuaristas podem dormir tranquilos porque eles não estão contribuindo para o fictício aquecimento global. (LCBM)

ESPECIALISTA – Luiz Carlos Baldicero Molion é graduado em Física pela USP e doutor em Meteorologia e Proteção Ambiental pela Universidade de Wisconsin, USA, com pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, em Wallingford, Inglaterra. Foi cientista-chefe nacional de dois experimentos com a Nasa sobre a Amazônia e diretor de ciências espaciais e atmosféricas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/ MCT).

É membro do grupo gestor da Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (MG/CCl/OMM) como representante da América do Sul. Atualmente é professor associado da Ufal e diretor do Instituto de Ciências Atmosféricas (Icat).

ENTREVISTA

Planeta Arroz – Que fatores indicam que teremos um resfriamento global nas próximas décadas?

Luiz Carlos Baldicero Molion – "Dois grandes controladores do clima global são o sol, a grande fonte de calor para o planeta, e o Oceano Pacífico, que ocupa 35% da superfície terrestre. Como a atmosfera é aquecida pela superfície, a variação da temperatura superficial do Pacífico controla o clima global. Entre 1947-76, o Pacífico esfriou e, coincidentemente, o clima global resfriou. Desde 1999 o Pacífico está mostrando que está resfriando novamente e esse resfriamento pode perdurar por mais 20 anos. Por sua vez, o sol apresenta um ciclo de 90 anos, e esse ciclo vai atingir um mínimo nos próximos 22 a 24 anos, até o ano 2032-34. Ou seja, além do Pacífico, o sol estará contribuindo para o resfriamento global nessas próximas duas décadas".

Planeta Arroz – Por que o resfriamento seria pior que o aquecimento e de que maneira isso afetaria a cultura do arroz?

Luiz Carlos
– "O resfriamento será mais sentido durante o inverno devido a uma frequência maior de entrada de massas de ar polar e geadas severas. Pelo que sei, não há evidências que temperaturas de inverno afetem o cultivo do arroz. Não me refiro, portanto, à temperatura média, e sim à disponibilidade de água. No período em que o Pacífico ficou frio, entre 1947-76, ocorreu, em média, uma redução da precipitação e, paradoxalmente, aumento das temperaturas máximas no Rio Grande do Sul, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro. É a redução da precipitação e da disponibilidade de água que pode afetar a produção".

Planeta Arroz – Qual cenário para os próximos anos em relação à orizicultura no tocante às mudanças climáticas?

Luiz Carlos – "Não deveríamos chamar de mudanças, e sim de variabilidade climática. Se o Pacífico permanecer frio nos próximos 20 anos e o clima se comportar como no período de 1947-76, haverá uma redução de chuva nas regiões tropicais do planeta, que inclui o Rio Grande do Sul. Porém, regiões fora dos trópicos, como a China, Canadá, EUA e Europa, de maneira geral, sofrerão um aumento na frequência de geadas severas, tanto tardias (primavera) como precoces (outono), e isso deve afetar o plantio e a colheita dos cereais como um todo".

Planeta Arroz – De que maneira o aquecimento global pode prejudicar a produtividade do arroz?

Luiz Carlos – "Dizer que o aquecimento global vai prejudicar a produtividade, ou seja, que o aumento de temperatura vai tornar estéreis as espiguetas do arroz – as hastes delgadas que contêm as flores do arroz – e os rendimentos do grão despencarão, é uma hipótese de caráter especulativo e não tem fundamento científico.
Ao contrário, em estudos feitos com oryza sativa mostrou-se que a temperatura ótima para realização da fotossíntese esteve entre 29,5°C e 37°C, com média de 33,5°C para o dobro de CO2 na atmosfera. Outros ensaios, no Sri Lanka, com o dobro de CO2 e temperaturas tropicais (30°C- 33°C) mostraram aumentos de 27% a 39% na produtividade.
Na Amazônia e no Pantanal, onde as temperaturas são infernais, encontrase o oryza glumaepatula (arroz roxo), que é uma espécie diploide de arroz silvestre nativa do Brasil, com grande potencial de emprego em programas de melhoramento genético do arroz para suportar altas temperaturas, se for o caso. Assim, não há evidências de que teremos problemas com aumento de CO2 e temperaturas altas".

Planeta Arroz – E o contrário: de que maneira as lavouras de arroz, no caso do Rio Grande do Sul, afetam ou influenciam nas mudanças climáticas?

– "Os orizicultores podem dormir de consciência tranquila! Não há efeito algum sobre o clima global. Pode haver um pequeno efeito local, muito restrito espacialmente e benéfico. Com relação à emissão de metano (ver nota), não há evidências de que a orizicultura do mundo esteja contribuindo para a variabilidade da concentração de metano, que, registrese, vem diminuindo nos últimos 20 anos enquanto arrozais e pecuária ruminante continuam a aumentar".

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