Valorização das commodities favorece preço do arroz no mercado internacional

 Valorização das commodities favorece preço do arroz no mercado internacional

Camilo Feliciano de Oliveira: mestre em Economia e Desenvolvimento e analista de mercados/Irga

O ano de 2007 foi marcado pela forte valorização das commodities no cenário internacional. Alta nos preços internacionais do petróleo, minérios, ouro e principalmente dos produtos agropecuários determinou uma mudança nos padrões de preços vigentes no mundo. Três foram os fatores determinantes para este processo: o aumento da demanda mundial, a necessidade de utilização de combustíveis renováveis e a desvalorização do dólar frente à maioria das moedas. 

Ao longo do ano, praticamente todos os países tiveram suas moedas valorizadas frente ao dólar norte-americano, em uma tentativa extrema do Governo estadunidense em reaquecer sua economia através da desvalorização cambial, visando manter o nível de produção aquecido via aumento das exportações, visto que os efeitos da crise imobiliária – que já no início do ano apontava para sérios problemas para as companhias ligadas à construção civil e as instituições de crédito – aprofundavam-se. A principal economia mundial deu sinais preocupantes de desaceleração e os efeitos dessa aterrissagem da águia ianque poderão ser sentidos em todo o mundo ao longo de 2008. 

Aliada aos problemas nos Estados Unidos, a mudança verificada na estrutura produtiva do mundo, que teve a China como principal artífice, determinou um crescimento exponencial na demanda de diversos produtos, pressionando os preços no mercado internacional. Para manter o nível de crescimento acima de 10% ao ano, ao longo de praticamente uma década, o país consumiu de tudo, de aço para a construção civil a produtos agrícolas destinados à alimentação humana e animal. Além da China, com seus mais de 1,3 bilhão de habitantes, o mundo também verificou o crescimento econômico de diversos países considerados periféricos economicamente (figura 1). Entre eles destacaram-se a Índia, país populoso e pólo da terceirização de serviços, e a Rússia, maior produtora mundial de petróleo e responsável pela manutenção da energia na Europa. 

Figura 1: variação (%) do PIB entre 2001 e 2006: China, Índia, Rússia e mundo

Esse deslocamento no eixo produtivo do mundo foi responsável por um aumento do consumo mundial, de forma geral, e possibilitou que mesmo com a estagnação da Europa e com a retração dos Estados Unidos os demais países mantivessem o ritmo acelerado de crescimento e reduzissem o impacto da parada da economia norte-americana. Assim, o crescimento econômico dos países ditos periféricos garantiu o aumento da renda interna e, em conseqüência, uma mudança nos hábitos alimentares que determinou a migração de produtos tradicionalmente mais baratos para aqueles de maior valor agregado, incrementando o consumo de proteínas. Por isso, o consumo de carnes no mundo cresceu vertiginosamente, trazendo de arrasto o aumento da necessidade dos produtos destinados à ração animal, em que soja e milho figuram como principais componentes. 

Por fim, a busca por fontes alternativas de combustíveis deu vazão ao incremento dos cultivos destinados a múltiplos usos, como a soja e o milho, além de favorecer a produção de cana-de-açúcar em parte da América Latina e outros produtos como palma e mamona, em menor escala. O mundo decidiu reduzir sua dependência pelos combustíveis fósseis e, por conseguinte, trouxe uma concorrência por áreas de cultivo em que fontes de biocombustíveis passaram a disputar a área outrora destinada à produção de alimentos. Como conseqüência direta deste fenômeno tem-se o milho ampliando em 25% a produção nos Estados Unidos, para produzir etanol e, com isso, reduzindo a participação norte-americana no comércio internacional de soja e derivados, reflexo desta concorrência por áreas. Além disso, no Brasil a cana-de-açúcar avança sobre áreas de pecuária e cultivos tradicionais, principalmente no Sudeste e Centro-oeste, determinando, também no país, mudança na estrutura produtiva agropecuária. 

RELAÇÃO – Mas afinal, o que o arroz tem a ver com isso? E mais, em que a produção do cereal no Brasil, que abastece somente o mercado doméstico, pode ser afetada com estas mudanças? De certo ponto, realmente parece não haver correlação em relação aos efeitos destas mudanças macroeconômicas e produtivas no mercado interno do arroz.

Em que a produção do arroz no Brasil, que abastece somente o mercado doméstico, pode ser afetada com estas mudanças?

TERCEIROS – Todavia, foram justamente essas alterações que garantiram não haver importações de arroz de terceiros mercados (extra Mercosul). Se apenas isso não bastasse como argumento positivo, os demais países do Mercosul também puderam diversificar a venda de seus produtos para outros destinos que não o Brasil. Isso se deu devido à valorização internacional do preço de arroz e o aumento da demanda, que oportunizaram abertura de novos mercados para o arroz do Conesul. 

Além disso, houve aumento de demanda por arroz no mercado mundial. As projeções do Instituto de Pesquisas Norte-americano para Alimentação e Política Agrícola (Fapri) demonstram que no ano comercial 2007/2008 o comércio de arroz deverá crescer 9,1%, totalizando 40,7 milhões de toneladas (base casca). Esse aumento da procura determinou redução nos estoques mundiais e pressão sobre os preços no mercado internacional. Entre janeiro de 2006 e janeiro de 2007, a valorização do arroz beneficiado norte-americano, por exemplo, foi de 21,4%, o arroz em casca elevou sua cotação em 27,6% e o tailandês beneficiado, 16,3% no período (figura 2).  

Figura 2: preço FOB do arroz longo fino beneficiado (US$/t) norte-americano, tailandês e vietnamita nos meses de janeiro: 2002 a 2008

Para o ano comercial que se inicia, o cenário internacional deverá reservar a permanência da elevação de preços, resultado de uma produção mundial menor do que o consumo, intensificação do comércio de arroz entre os países e contínua redução dos estoques mundiais


Mercosul: produção retoma os níveis da safra 2005/2006 

O déficit hídrico que afetou o arroz irrigado na região durante a safra 2006/2007 foi superado. Chuvas acima da média ao longo do ano, garantiram a recomposição das reservas hídricas e a possibilidade de retomada da área de cultivo na Argentina, Uruguai e também no Brasil, especificamente no Rio Grande do Sul. Pontualmente, as lavouras de arroz irrigado nesses países devem apresentar alguma redução em relação à produtividade. Apesar de recompostas as reservas hídricas, outros fatores relacionados ao clima vêm contribuindo para a confirmação desta projeção. O mês de outubro de 2007 caracterizou-se por um período extremamente chuvoso, conseqüentemente foi responsável por postergar a semeadura do arroz, havendo um certo atraso em relação à época ideal de semeadura. Aliado a este fato, baixas temperaturas observadas em fevereiro também devem comprometer a produtividade de algumas lavouras. Entretanto, o aumento verificado na área semeada deve manter a produção acima da verificada na safra anterior. 

ARGENTINA – A Argentina semeou, segundo a Secretaria da Agricultura (SAGPyA), 184 mil hectares, uma elevação de 9,5% em relação à área semeada na safra 2006/2007. Em termos de produção a expectativa é de uma colheita aproximada de 1.250.000 toneladas, com uma produtividade superior a 6,7 toneladas/hectare. Confirmando-se este resultado, a produção de arroz na Argentina deverá elevar-se em 16,2% em relação à safra anterior (tabela 1).

Em termos de exportação, a projeção indica que a Argentina deverá comercializar com outros países cerca de 800 mil toneladas do cereal, visto que o consumo interno estimado é de 456 mil toneladas (base casca) e os estoques não devem se alterar de forma significativa. Se fizermos um paralelo entre as exportações de 2007 e as projeções para 2008, verifica-se que do total exportado pelo país entre janeiro e dezembro de 2007, foram enviadas para o Brasil cerca de 58%. Mantendo-se esta mesma proporção, o Brasil deverá ser o destino de 450 mil toneladas de arroz argentino ao longo do ano comercial 2008/2009. 

URUGUAI – Por sua vez, o Uruguai incrementou a área de cultivo em 37 mil hectares em relação à safra anterior. No total foram semeados 182 mil hectares com o cereal. Apesar de aparentemente a variação mostrar-se expressiva, quando se compara à área semeada atualmente e a área da safra 2005/2006, observa-se que a variação resulta em um incremento de 2,8%, ou seja, o Uruguai retoma a área com arroz que não foi possível cultivar na safra passada devido à estiagem. Como resultado, o país deverá produzir 1.320.000 toneladas, um aumento de 15,3% em relação à safra anterior. O reflexo das adversidades climáticas verifica-se na redução estimada da produtividade. Enquanto a safra 2006/2007 apresentou um rendimento médio no país de 7.881 quilos/hectare, a safra atual deverá obter rendimento médio de 7.257 quilos/hectare (tabela 2).

Para o Uruguai, o arroz representa o terceiro produto mais importante em sua pauta de exportações, representando 5,1% do total exportado pelo país no ano de 2005, segundo informações da Cepal. Assim, dos 3,4 bilhões de dólares exportados pelo país, o arroz respondeu por 173,6 milhões de dólares, representando um produto de extrema importância em termos de balança comercial e de inserção do país no mercado internacional. 

Por isso, o Uruguai, assim como a Argentina, vem apresentando uma diversificação em termos do destino de suas exportações. Enquanto no início dos anos 2000 o país destinava mais de 75% de suas exportações para o Brasil, agora a diversidade de mercados e os bons rendimentos recebidos no mercado internacional têm resultado em uma redução da dependência uruguaia em relação ao mercado interno brasileiro. 

Assim, menos de 50% das expor-tações uruguaias tem como destino o Brasil. Esta mudança reflete o bom momento do comércio internacional e ao mesmo tempo a eficiência da cadeia produtiva uruguaia em atender demandas internacionais. 

Desta forma, estima-se que ao longo do ano comercial 2008/2009 o Uruguai exporte cerca de 1.170.000 toneladas, destinando ao Brasil aproximadamente 550 mil toneladas de arroz. Atualmente, Europa e Oriente Médio têm sido, juntamente com o Brasil, os principais destinos do arroz uruguaio. 

PARAGUAI – O Paraguai, por sua vez, vem incrementando suas áreas com arroz e intensificando o comércio com o Brasil. Apesar de ainda apresentar a menor importância em termos de volume produzido de arroz no Mercosul, observa-se um relativo potencial para expansão da cultura nesse país. 

Assim como ocorreu com a soja, grupos brasileiros começam a explorar a produção orizícola no Paraguai devido às boas condições climáticas e de reservas hídricas em certas regiões do país. Além disso, os custos com terra (compra ou arrendamento) permanecem abaixo do observado nos demais países do Mercosul, servindo também de atrativo a novos investimentos na região arrozeira paraguaia. 

A preocupação do setor arrozeiro nacional é que ocorra o fenômeno verificado com a soja, em que a entrada de grupos estrangeiros no país inflacionou os preços, elevando o custo de produção e aumentando o êxodo rural no Paraguai. De toda forma, se verifica um aumento das exportações de arroz paraguaio para o Brasil, consolidando o país como terceiro maior exportador de arroz no mercado brasileiro. Entre janeiro e dezembro de 2007 o Paraguai foi responsável pela exportação de 80,4 mil toneladas, fornecedor de 8,1% do total de exportações de arroz ao Brasil. Para a próxima safra a pro-dução de arroz no país deve manter-se estável, com área semeada próxi-ma aos 35 mil hectares e produção de 150 mil hectares. Com isso, o Brasil será o destino de cerca de 85 mil toneladas de arroz paraguaio. 

MERCOSUL – Argentina, Uruguai e Paraguai deverão apresentar uma produção conjunta de 2.720.000 toneladas, um incremento de 15,2% em relação à safra anterior. Este aumento da disponibilidade de produto deverá se refletir nas exporta-ções para o Brasil, visto que com a perspectiva de manutenção do câmbio valorizado frente ao dólar no mercado nacional o mesmo mantém-se atrativo em termos de importação do cereal. O que deve amenizar este efeito é a permanência da valorização dos preços do arroz no mercado interna-cional, além do aumento da demanda no mundo. Com isso estima-se que o Brasil será destino para 1.085.000 toneladas de arroz proveniente do Mercosul ao longo do ano comercial 2008/2009, representando um pequeno incremento em relação ao volume importado em 2007/2008.

 

Mercado brasileiro: balança comercial amplia déficit

O ano comercial 2007/2008 se caracterizou por uma ampliação no déficit da balança comercial do arroz. A contínua valorização cambial do real frente ao dólar norte-americano, conjugada com a melhoria dos preços do arroz no mercado doméstico, provocou avanços no volume importado do cereal. No final de janeiro de 2007 a cotação da moeda norte-americana estava em R$ 2,12/dólar. No mesmo período de 2008, o valor passou para R$ 1,76/dólar, uma variação negativa de 17% (figura 3). Comparativamente, enquanto no mês de janeiro de 2007 o arroz estava sendo comercializado no Rio Grande do Sul a uma média de R$ 21,06/50 quilos, significando em dólar US$ 9,89/50 quilos, no mesmo período do ano de 2008 a cotação do arroz ficou em R$ 25,23/50 quilos, o equivalente a US$ 14,22/50 quilos. Estes preços determinaram uma variação positiva de 19,8% em moeda local e 43,8% na moeda norte-americana. Esta magnitude de incremento dos preços em dólar tornou o mercado brasileiro extremamente atrativo para o recebimento de arroz estrangeiro, que somente não apresentou volumes mais acentuados de internalização do arroz devido à grande valorização do grão no mercado internacional.

Figura 3: cotação da moeda norte-americana no Brasil entre 1º de setembro de 2005 e 11 de fevereiro de 2008

Mesmo assim, as importações deverão superar 1,05 milhão de toneladas de arroz, quantia 26,7% superior às de março de 2006 a fevereiro de 2007. Neste ano comercial, até janeiro/2008, o volume que entrou no Brasil foi de 999,1 mil toneladas (base casca). Comparado aos dois últimos anos comerciais, as importações aumentaram 48,9% em relação a 2005/2006 e 27% em 2006/2007 (tabela 3). 

Das importações em 2007/2008, o Uruguai respondeu por 53,1%, a Argentina com 38,4% e o Paraguai com 7,9%. O Mercosul foi responsá-vel pela envio ao Brasil de 99,4% do arroz importado. Em relação à classificação, 75,5% das importações foram de beneficiado, 19,7% descascado ou integral e apenas 4,6% de arroz em casca. Agosto e outubro apresentaram os maiores volumes de importação, 124 mil toneladas e 120,1 mil toneladas respectivamente. 

ELEVAÇÃO – Para o próximo ano comercial projeta-se pequena elevação das importações. Apesar da estimativa de safra indicar aumento na produção do cereal no Brasil, este fenômeno ocorrerá nos demais países do Mercosul. A maior disponibilidade de produção refletirá nas compras externas, projetando internalização ao redor de 1,1 milhão de toneladas. 
Mesmo que Argentina e Uruguai mantenham o foco na venda para terceiros mercados (extrabloco), o provável maior volume do grão disponível para comercializar tende a ampliar as importações de arroz no Brasil, mesmo que em pequeno volume. Resta verificar se as projeções de safra se confirmarão tanto no Brasil como nos demais países do bloco. 

 

A hora do beneficiado

As exportações de arroz no ano comercial 2007/2008 apresentam resultado inferior aos dois últimos períodos. No ano 2005/2006, entre março e janeiro, foram exportadas pelo Brasil 373,3 mil toneladas do cereal, no ano seguinte (2006/2007) o volume se elevou: 407,8 mil toneladas. No período atual as exportações somaram 287,9 mil toneladas, resultado que, apesar de inferior aos dois últimos anos, é satisfatório visto que a relação real x dólar foi desfavorável às exportações e ocorreu uma recuperação dos preços internos (tabela 4). 

O principal destino do produto nacional é o noroeste da África, Benin e Senegal. Em conjunto, estes países somam 52,9% do arroz exportado entre março de 2007 e janeiro de 2008. Agregando-se o quarto principal destino, a Gâmbia, essa região africana participa com 63,4% do total comercializado. O terceiro principal importador foi a Suíça, com 19,9% das compras de arroz do Brasil (tabela 4). 

TIPO – O fato positivo deste ano foi a mudança do tipo de produto enviado ao exterior. Quando o Brasil retomou as exportações em 2004, o principal produto negociado era o arroz quebrado. Apesar de seguir representando o maior volume vendido, nota-se que as exportações de arroz beneficiado ampliaram-se. Entre março de 2006 e janeiro de 2007, do total exportado, 78,3% foi arroz quebrado e 21% beneficiado (figura 4). Já de março de 2007 a janeiro de 2008 o quebrado atingiu 58% e o beneficiado, 41,6% (figura 5). Assim, o arroz beneficiado chegou à exportação de 119,8 mil toneladas, sendo 77,2 mil toneladas de parboili-zado e 42,6 mil toneladas de arroz branco, mostrando que a qualidade do produto brasileiro começa a despertar interesse no mercado externo, com clientes constantes.

 

Brasil repetirá volume exportado: 300 mil toneladas

Para 2008/2009 é prevista a manutenção do volume exportado de arroz em torno de 300 mil toneladas. Dependendo do comportamento da taxa de câmbio, pode até haver incremento nos volumes negociados pela continuidade da elevação dos preços do arroz no mercado internacional. O cenário mundial indica que, em termos de políticas de sustentação de preço, seria o melhor momento para o Governo brasileiro apoiar um programa de fomento às exportações, que teria no mercado interno exatamente o efeito gerado por Aquisição do Governo Federal (AGF). E teria a vantagem de ajudar a conquistar novos mercados, diversificando os compradores de arroz do Brasil; o produto comercializado não retornar ao mercado interno e, ainda por cima, custa muito menos ao erário público dispor de um valor de equalização para exportação do que a aquisição e manutenção do produto em estoques públicos.

 

O que esperar para a comercialização da safra 2007/2008

O quinto levantamento de safra, divulgado em fevereiro de 2008, aponta incremento na produção de arroz no Brasil em relação à safra anterior. A área chega a 2.962,8 mil hectares cultivados, variação de -0,2%. A produtividade média estimada é de 4.055 quilos/hectare, incremento de 6,3%. A produção é projetada em 12.013.500 toneladas, aumento de 697,6 mil toneladas em relação à safra anterior. A Região Norte manterá a produção do ciclo passado e o Sudeste e o Centro-oeste estão reduzindo a produção em 3,2% e 15% respectivamente. As regiões Sul e Sudeste são responsáveis pelo aumento de produção, ampliando em 8,8% e 19,9% a quantidade a ser colhida (figura 6). Caso se confirmem estes números, a Região Sul responderá por 69,7% da produção nacional e o Rio Grande do Sul produzirá 59,3% do arroz brasileiro. O deslocamento no eixo de produção, concentrando o cultivo no arroz irrigado, demonstra a impossibilidade dos arrozeiros do Sul em substituir a produção em momentos de excesso de oferta. 

Enquanto o Rio Grande do Sul e Santa Catarina só produzem o arroz nas regiões destinadas a esse cultivo (várzeas), os produtores de sequeiro alternam a cultura conforme as condições de mercado. Neste ano, com forte valorização da soja e do milho os estados do Centro-oeste e Sudeste ampliaram a área destas culturas em detrimento do arroz. Não obstante o arroz irrigado apresentar uma produção estável em relação a fatores climáticos, os produtores do arroz de sequeiro têm na diversificação a possibilidade de reduzir os riscos inerentes à monocultura. Assim, a região sul do Brasil vem, ao longo dos últimos anos, garantindo o abastecimento de arroz no mercado doméstico, reduzindo o risco de desabastecimento e garantindo a segurança alimentar do país. 

Preços médios serão superiores

Mesmo com uma provável produção de arroz maior nesta safra, a comercialização tende a apresentar preços médios superiores aos observados no ano comercial 2007/2008. Isto porque os estoques iniciais encontram-se 37,7% menores do que no mesmo período do ano anterior e estão concentrados nas mãos do Governo Federal (tabela 5): 1.450.000 toneladas de arroz. A iniciativa privada tem 350 mil toneladas, que representam estoque privado inicial de 2,6% em relação ao consumo. 

Este gradual ajuste de estoques vem melhorando as condições de preços no mercado interno. Em 2006, a média de preços pagos aos produtores do Rio Grande do Sul foi de R$ 20,16/50 quilos, no ano de 2007 chegou a R$ 21,63/50 quilos, valorização de 7,3%. Mesmo assim, um resultado abaixo do preço mínimo estabelecido pela União, de R$ 22,00. Um fator que contribuiu para este movimento nas cotações foi a intervenção do Governo no mercado no início da colheita, através de AGF e principalmente contratos de opção, mecanismos que possibilitaram ao produtor obter renda durante a colheita, funcionando também como um indicador de mercado futuro. A preocupação neste ano remonta à não-votação e aprovação do orçamento federal, o que impossibilita a utilização de mecanismos de aquisição, sendo possível somente instrumentos de equalização como o PEP, Prop, Pepro e outros. Apesar disso, os patamares de início da safra são outros, enquanto o preço em fevereiro de 2008 situa-se acima de R$ 25,00/50 quilos, nos dois anos anteriores estavam abaixo de R$ 19,00/50 quilos (figura 7). Assim, mesmo sem intervenção imediata do Governo, a possibilidade de queda nas cotações do cereal abaixo dos níveis apresentados em fevereiro dos anos anteriores é muito reduzida. 

Figura 7: preço do arroz em casca no Rio Grande do Sul (saco de 50 quilos), indicador do arroz (Esalq/BM&F), de 1º de setembro de 2005 a 12 de fevereiro de 2008, e preço líquido no exercício dos contratos de opções públicas de 2007

 

Valorização dependerá da axa cambial e mecanismos do Governo 

Os primeiros indicativos demonstram que a despeito de um aumento na produção e no provável volume das importações, o ano comercial 2008/2009 deverá apresentar preços médios acima do ano anterior, com redução de cotações durante o período da colheita e recuperação ao longo do segundo semestre. A magnitude desta valorização dependerá basicamente do comportamento da taxa cambial e da liberação dos mecanismos de comercialização e venda de estoques utilizados pelo Governo Federal. O ajuste maior entre oferta e demanda, com redução dos estoques de passagem, e a valorização do arroz no mercado internacional devem garantir um ano comercial um pouco mais favorável aos produtores de arroz do país. Todavia, esta melhoria tem como possível teto o preço de paridade do arroz de terceiros mercados, atualmente situado na faixa entre R$ 26,00/50 quilos e R$ 26,50/50 quilos, e sobremaneira o preço em que o Governo ofertará seus estoques no mercado. No ano comercial 2007/2008 o preço de comercialização dos estoques públicos no Rio Grande do Sul se situou em R$ 25,50/50 quilos. 

Já o piso de preço dependerá do ritmo da colheita na Região Sul, a liberação de recursos para aquisição, equalização e empréstimos (EGF) aos produtores e o tamanho dos débitos junto a fornecedores nos meses iniciais do ano. Um ano provavelmente melhor, porém necessitando de cautela e atenção aos movimentos cambiais e aos do Governo Federal.

 

 

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