Vem um El Niño aí!
A safra 2022/23 ocorreu sob a influência do fenômeno climático La Niña, que reduziu as precipitações sobre o sul do Brasil. Na metade sul do Rio Grande do Sul (RS), a fronteira oeste foi a que teve as maiores anomalias negativas, sendo que o município de Uruguaiana ficou com precipitação em 70% abaixo da normal climatológica (NC) entre os meses de setembro de 2022 e janeiro de 2023 (Figura 1).
Se não bastasse o baixo volume de precipitações, a temperatura do ar e a radiação solar foram elevadas, enquanto que a umidade relativa do ar ficou bem abaixo dos valores normais. Esses fatores levaram, principalmente, as regiões da fronteira oeste, da campanha e a região central a terem altos valores de evaporação da água do solo, com reflexos nos níveis dos reservatórios.
Os impactos da deficiência hídrica foram semelhantes ao da safra anterior, com abandono de áreas de arroz, principalmente na fronteira oeste. Perdas também foram relatadas em lavouras de soja em rotação, em sua maioria sem irrigação, que tiveram baixas produtividades devido à falta de chuvas regulares. O fator benéfico nesta safra foi a radiação solar, que esteve acima da NC, de outubro de 2022 até fevereiro de 2023.
A terceira La Niña consecutiva terminou e agora se está no período de neutralidade climática. Mas até quando? Provavelmente, não por muito tempo, visto que o aquecimento da água no Oceano Pacífico Equatorial está avançando. A região mais aquecida, por enquanto, é a Niño1+2, com anomalias acima de +2 °C, o que caracteriza um El Niño costeiro (Figura 2). A tendência é que esse aquecimento evolua para a região mais central do Pacífico nos próximos meses, caracterizando um El Niño clássico. Muito se especula sobre a intensidade do fenômeno, com alguns modelos indicando um super-El Niño. No entanto, é necessário cautela, pois ainda se está no período da barreira da previsibilidade (previsões a partir de junho tendem a ser mais assertivas) e, também, a oscilação decadal do Pacifico (ODP) está em sua fase negativa, o que tende a desfavorecer eventos de El Niño.
Mas, atenção, o El Niño pode acontecer mesmo com a ODP na fase negativa e apenas ter sua intensidade atenuada ou, até mesmo, a ODP pode virar e ficar em sua fase positiva. Isso já ocorreu antes. Por isso, a cautela é importante!
Segundo a Noaa, a expectativa é de que o El Niño se estabeleça no Pacífico no trimestre junho-julho-agosto, com 90% de probabilidade (Figura 3), e que tenha intensidade moderada ou forte. Com isso, os reflexos no aumento das precipitações deverão ser observados em meados de julho em diante. É importante lembrar que os maiores impactos, tanto do El Niño quanto da La Niña, ocorrem durante a primavera. Logo, diante desse cenário, é provável que a primavera seja chuvosa.
Segundo o Inmet, os meses de junho e julho de 2023 deverão ser de precipitações dentro da NC no RS. No entanto, episódios de chuva intensa poderão ocorrer e superar a média de cada um desses dois meses. Para as temperaturas, a previsão é de que fiquem entre dentro e acima da NC em junho e julho.
Salienta-se que o produtor fique sempre atento às previsões do tempo e do clima para tomar as melhores decisões no manejo de sua lavoura.
Jossana Ceolin Cera
Agrometeorologista consultora do Irga.