Vilão, pois sim!!
Crise mundial elevou o preço dos alimentos.
Vilão, no Brasil, só faz sucesso em novela de TV. Pois no calor das discussões sobre a crise mundial de alimentos não faltou até quem apontasse o arroz como um dos principais responsáveis pela inflação que já elevou em até 52% o custo da cesta básica nos últimos 12 meses. Mas uma análise mais apurada dos números mostra que a recente alta nos preços do cereal não reflete a situação do produto no mercado interno brasileiro.
Nos últimos cinco anos o preço na prateleira teve uma queda de 32% e o consumidor tem pago menos pelo cereal. Segundo levantamento do Irga, com base em dados do Dieese, o valor médio de comercialização de um quilo nas capitais do Brasil foi de R$ 1,85 entre janeiro e junho. Em 2003, por exemplo, para adquirir um quilo do produto o consumidor gastava em média R$ 2,72.
Para o vice-presidente da Federarroz, Marco Aurélio Tavares, o problema está na desinformação de muitos setores da sociedade, inclusive do Governo. “Apesar de ser um dos itens que mais subiram na cesta básica (49,65% em 12 meses), o arroz contribui com apenas 2,3% do valor total da cesta porto-alegrense, enquanto em São Paulo a participação do cereal sobe para 2,6%”, analisa.
Tavares explica que o arroz representou em junho de 2008 apenas 2,76% da cesta básica, valor referente a desembolso por três quilos do produto. “Este índice só é superior à farinha (R$ 1,59 para 1,5 quilo), ao açúcar (R$ 1,48 para três quilos) e óleo (R$ 1,37 para um litro). A grande maioria tem uma idéia equivocada de que o arroz representa 10% da cesta básica. A carne, por exemplo, é 31,25%, o pão, 16,36%, e o feijão, 11,51%. Na verdade, o gasto com pão corresponde a seis vezes o gasto com o arroz”, compara o dirigente.
Os dados levantados pelo Dieese, com base no estado de São Paulo, mostram que mesmo com um aumento de quase 50% nos últimos 12 meses, a representatividade do cereal na cesta básica passou de 2,29% para 2,76%, ou seja, sofreu um incremento em termos percentuais em torno de 0,5%. “A carne, durante esse mesmo período, aumentou de 29,10% para 31,25%, um acréscimo de 2,15%, índice quatro vezes superior ao arroz”, informa Tavares.
Produção garantida
De acordo com o presidente do Irga, Maurício Fischer, o ajuste nos preços garante a manutenção da produção brasileira. Nos últimos anos o produtor acumulou prejuízos, com fortes quedas na cotação. “Por pelo menos três anos seguidos o agricultor amargou preços abaixo do custo de produção e até inferior ao preço mínimo, que deveria ser garantido pelo Governo Federal. O consumidor se assustou com os percentuais apresentados pelos institutos que medem a inflação, mas na verdade está pagando apenas R$ 0,11 a mais do que em 2007”, observa.
Conforme Fischer, apesar do período difícil os produtores do Rio Grande do Sul aumentaram a produtividade das lavouras para sete toneladas por hectare. Recordes de produção foram batidos e, mesmo com as dificuldades, ampliaram a eficiência com a utilização de novas tecnologias em busca de manutenção na cultura do arroz irrigado. “A melhora na cotação permite um maior investimento em tecnologia e produto de melhor qualidade e zera o risco de desabastecimento no Brasil”, destaca o presidente do Irga.
Questão Básica
Disparidade de imagens
Na avaliação do vice-presidente da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares, a representatividade do produto na cesta básica do brasileiro é extremamente reduzida e o reflexo destes aumentos é mais público do que socioeconômico. “Um pacote de um quilo de arroz vendido a R$ 2,00 não pode ser considerado caro. Entre junho de 2007 e junho de 2008 as cotações no mercado internacional subiram mais de 100%, ou seja, a safra nacional possibilitou ao consumidor continuar adquirindo o cereal com valores acessíveis, pois internamente os preços ajustaram-se em torno de 50%”, argumenta Tavares.