Virando o fio
Se os leilões reduzirem
preços do arroz a
R$ 33,00, o Brasil retoma
a exportação
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Uma das grandes expectativas do mercado brasileiro de arroz em 2013, quando se percebeu que, em plena safra, o cereal se valorizava e os produtores gaúchos que optaram também pelo cultivo de soja em terras baixas preferiam comercializar a leguminosa no primeiro semestre, era se o perfil da comercialização se inverteria. Isto é, a maior parte da oferta de arroz se concentraria no segundo semestre, o que poderia reduzir os preços do cereal no sul do Brasil. Por ora, isso só se confirmará se o governo federal produzir uma enxurrada de arroz de seus estoques e os produtores decidirem ampliar significativamente a área cultivada na próxima safra. E o governo tem os estoques públicos mais baixos da década, em torno de 1 milhão de toneladas, ou seja, um mês de consumo nacional.
A alta das cotações internas teve como seu primeiro reflexo a retração das exportações brasileiras. Com o valor interno mais alto do que o internacional, apenas negócios de oportunidade ou contratos anteriores geraram embarques. Em compensação, as importações aumentaram. Com custo médio de 10 a 11 dólares, os países do Mercosul exploraram os preços pagos no Brasil, de até 17 dólares por saca.
A política cambial, com elevação do dólar a patamares próximos de R$ 2,30, porém, vem mudando este perfil e até viabilizou 90 mil toneladas de embarque entre julho e agosto, fator que bloqueou o viés de baixa dos preços no Rio Grande do Sul no final de junho. Houve maior demanda nas regiões próximas ao Porto de Rio Grande para exportar e as indústrias da região que precisavam de matéria-prima obrigaram-se a pagar acima do mercado na disputa pelo estoque em redução dos agricultores, e isso tirou as tradings do mercado novamente.
O anúncio de leilões de oferta dos estoques arrozeiros da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), no final de julho, trouxe a expectativa de uma retração nos preços médios gaúchos que viabilize a retomada competitiva das exportações. Na região de Rio Grande já havia negócios com a saca de arroz em casca, em 50 quilos (58×10), cotada a R$ 37,00, com valor líquido de R$ 34,80 ao produtor. Com a entrada do leilão, as negociações esfriaram.
Se o governo federal mantiver o objetivo de fixar preços entre R$ 32,00 e R$ 34,00 com seus mecanismos para conter a inflação, o Brasil deve retomar as vendas externas. A soma do dólar alto e preços internos mais baixos, por outro lado, inibe as importações e pode pesar favoravelmente na balança comercial.
BALANÇA
Nos quatro primeiros meses deste ano comercial (fevereiro a junho), o volume de arroz importado pelo Brasil soma 456,3 mil toneladas. O volume é 20% superior ao registrado no mesmo período de 2012. A Conab espera a importação de 1,1 milhão de toneladas (base casca) para o Brasil na temporada 2013/14. Mas, se a média mensal do primeiro quadrimestre se mantiver, o volume pode chegar a 1,35 milhão.
As exportações, apesar da elevação do dólar, acumulam 303,7 mil toneladas entre fevereiro e junho. Isso representa menos da metade das vendas de 2012. A manutenção da média mensal até então obtida (76 mil toneladas) permite projetar a exportação de 911 mil toneladas ao longo do ano. O volume, no entanto, poderá ser superado se o dólar se mantiver em patamares mais altos e houver uma leve retração dos preços internos. A Conab projeta exportação de 1 milhão de toneladas.