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Preparo antecipado da lavoura é uma das estratégias contra o El niño .
A agência nacional e atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês) estima que a chegada do fenômeno climático El Niño poderá provocar seca no Nordeste brasileiro e na região amazônica e enchentes no Sul do país entre o fim deste ano e o começo de 2010. A Noaa confirmou o início do El Niño após registrar um aumento constante das temperaturas da superfície do Oceano Pacífico central nos últimos seis meses. O fenômeno climático é caracterizado pelo aumento das temperaturas na zona equatorial do Pacífico, que ocorre a cada quatro ou cinco anos e afeta o clima em todo o mundo. Segundo a agência, ainda é cedo para prever se o fenômeno terá uma força semelhante à da década passada neste ano, mas os prognósticos refletem um consenso sobre o seu crescimento e o seu desenvolvimento.
No Brasil, de acordo com levantamento do 8º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (8º Disme/Inmet), o prognóstico para os próximos três meses é de que este fenômeno se intensifique. O Inmet também vem destacando o aquecimento das águas do Pacífico, o que denota esta forte tendência. Na avaliação do pesquisador do Irga, Carlos Henrique Paim Mariot, se o evento for confirmado – e se for de grande intensidade –, espera-se a ocorrência de chuvas acima da média no próximo trimestre, principalmente em outubro. “Há possibilidade de chover mais já a partir de agosto”, calcula.
Independente de qualquer prognóstico climático, Mariot explica que a recomendação do Irga aos produtores é que façam o preparo antecipado da lavoura para que cheguem à época da semeadura já com toda sua área preparada, se possível. “A época de semeadura ideal não muda. Ela se concentra no mês de outubro até o dia 10 de novembro. Este é o período preferencial de semeadura em todo o Rio Grande do Sul, que proporciona melhor aproveitamento da radiação solar pelas plantas na fase reprodutiva, cujo período é o de maior demanda por luz”, observa.
Na prática, conforme Mariot, é o que já vem ocorrendo. “A última incidência forte do El Niño foi na safra 2002/03, quando ocorreram chuvas muito frequentes na primavera. Isso atrapalhou bastante a semeadura no estado, inclusive com redução de produtividade em função do atraso da época. Hoje os produtores estão mais preparados e a difusão da tecnologia está mais intensificada. O Irga vem desempenhando um papel muito importante nas áreas de extensão e difusão de tecnologias junto ao produtor, mobilizando e conscientizando os produtores sobre a importância de antecipar o preparo do solo.
ANTECIPADO – Os últimos levantamentos realizados pelo Irga mostram que cerca de 41% das lavouras de arroz do Rio Grande do Sul já estão preparadas para o plantio. “Em algumas regiões esta prática está mais adiantada e em outras mais atrasada. A depressão central, por exemplo, que neste mesmo período do ano passado tinha menos de 10% da área preparada, este ano já está com 40%, o que é um avanço”, informa o pesquisador Carlos Paim Mariot.
Lavoura do cedo: antecipação do preparo do solo reduz a dependência do clima
Inverno ajudou
O preparo antecipado nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul foi favorecido pelo inverno pouco chuvoso, embora alguns produtores tenham condições de preparo com o solo úmido ou com uma pequena lâmina d’água. “Não importa a maneira como ele vai fazer o preparo. Se ele tem condições só de fazer em solo seco, o ideal é que seja imediatamente após a colheita, principalmente no caso de produtores que repetem a mesma área todos os anos”, diz Carlos Paim Mariot.
O pesquisador lembra que nas regiões da fronteira oeste e da campanha, por exemplo, onde muitos produtores têm dois ou mais cortes de lavoura, é mais fácil antecipar porque o verão é mais favorável para fazer o preparo. “Por outro lado, naquelas regiões onde os produtores repetem a área todos os anos é preferível que, imediatamente após a colheita, já se iniciem os trabalhos de preparo para aproveitar ainda no outono um período favorável para poder plantar mais cedo e, consequentemente, poder colher mais cedo depois e em condições mais favoráveis”, avalia.
Acima da média
Com base na previsão regional do 8º Disme/Inmet – CPPMet/UFPEL, é na zona sul do Rio Grande do Sul, na região abaixo de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, onde as chuvas poderão ficar acima da média no mês de agosto. Em setembro, a tendência é que chova dentro da média climatológica em todo o estado.
O mês de outubro, no entanto, deverá apresentar um cenário de precipitações acima da média em todo o Rio Grande do Sul. As exceções ficarão por conta da zona sul (região de Santa Vitória do Palmar) e da campanha (Quaraí e Livramento), com chuvas dentro da média.
Para Carlos Mariot, do Irga, são estas chuvas acima da média em outubro que preocupam. “Preocupam porque este é o mês em que deveria se concentrar a maior parte do trabalho de semeadura. O período em que temos a melhor resposta em produtividade é outubro. Não que em setembro não tenha, mas o mês ainda registra temperaturas baixas, o que atrapalha um pouco o estabelecimento da cultura. Ainda assim, é preferível o produtor plantar em setembro do que deixar para depois da segunda quinzena de novembro, quando, com certeza, ele vai perder produtividade por plantar mais tarde".
Por essa razão, o produtor que tem uma área muito grande para plantar precisa se organizar para começar, se possível, em setembro, para terminar até a primeira quinzena de novembro. No entanto, desde o início de setembro até meados de outubro deve-se priorizar as áreas mais bem drenadas, realizando a semeadura preferencialmente com cultivares de ciclo médio em profundidade máxima de três centímetros e utilizando tratamento de sementes com fungicida. Este procedimento, conforme Carlos Mariot, tem o objetivo de minimizar os efeitos adversos normais deste período, como a baixa temperatura do solo e a possibilidade de chuvas mais intensas e de ataque de patógenos às sementes.
Santa Catarina
Os prognósticos climáticos para Santa Catarina apontam para um cenário não muito diferente do Rio Grande do Sul. Os meses de agosto e setembro deverão registrar chuvas dentro da normalidade. O clima em outubro, porém, deverá ser muito similar ao do Rio Grande do Sul, ou seja, precipitações acima da média. Mariot acredita que a situação será menos problemática em Santa Catarina pelo fato de os produtores adotarem em 100% da área o sistema pré-germinado. “Com este sistema, independente da condição meteorológica, o produtor pode estabelecer a sua lavoura sem problemas dentro da época. É diferente do Rio Grande do Sul, que adota a semeadura em solo seco em praticamente 90% da área”, compara.