Consolidar é preciso
Cadeia produtiva precisa manter os mercados para seguir exportando arroz
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Depois de bater um recorde absoluto na exportação de arroz no ano-safra 2008/2009, com 790 mil tone-ladas, e conquistar novos mercados na África, nas Américas e na Europa, o grande desafio dos exportadores brasileiros é consolidar as vendas externas e garantir a fidelidade destes clientes para novas remessas em 2009 e doravante. Os esforços serão mantidos para ampliar o volume das exportações, princi-palmente com o foco em produtos de maior valor agregado, como o arroz beneficiado, branco e parboilizado. As vendas do ciclo passado representam um avanço de 152% sobre a exportação de 2007/2008.
O parboilizado é a vedete das exportações no primeiro trimestre de 2009. Em março, 91% das 70,5 mil toneladas de arroz exportadas pelo Brasil eram produto beneficiado e apenas 9% de quebrados e produto em casca, que já foi o carro-chefe das vendas externas do Brasil. Mesmo que o cenário internacional em 2009 não tenha características tão favoráveis como em 2008 – quando a especulação de investidores e a previsão de uma crise mundial de alimentos, com desabastecimento principalmente na Ásia, levaram muitos dos tradicionais exportadores a se retraírem, abrindo mercado para Estados Unidos e Mercosul – há uma possibilidade de manter um bom volume de exportação.
A Conab estima em 500 mil toneladas as vendas externas brasileiras no quadro de oferta e demanda do 7º Levantamento de Safra, publicado em abril. No relatório anterior eram 400 mil. O setor, no entanto, não concorda com esta tendência e aposta em valores entre 600 mil e 700 mil toneladas. O presidente da Federarroz, Renato Rocha, destaca entre estes pontos o fato dos compradores já conhecerem a qualidade do produto brasileiro, o ganho de experiência das trades, indústrias e corretoras nacionais adquiridas nestes últimos três anos, a existência de capacidade de atender diferentes mercados e suas demandas, de arroz quebrado a branco e parboilizado, e o esforço das empresas. “Hoje é importante manter estes mercados, pois as exportações ajudam a sustentar o mercado interno”, explica.
Algumas empresas nacionais tiveram melhores resultados em 2008 graças à exportação de parboilizado e estabeleceram uma nova referência de remuneração para o produto, acima do mercado regional. É o caso de uma cooperativa catarinense e algumas empresas da zona sul gaúcha. O vice-presidente de mercados da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares, afirma que a exportação traz dividendos para a indústria e para o produtor. “A indústria vem conseguindo exportar a preços bem convidativos, acima de 500 dólares, o que permite remunerar melhor o produtor”, explica.
Embora durante a ameaça de crise alimentar os preços da tonelada tenham alcançado mais de mil dólares no mercado internacional, a queda das cotações para os patamares atuais ficou sustentada na faixa de 525 dólares/tonelada. “Este hoje é um preço atraente, viável, com o dólar na casa dos R$ 2,20”, avisa Tavares. Uma queda dos preços internacionais e do dólar, sim, poderá pôr em risco as vendas externas do Brasil.
PATAMAR – O diretor comercial do Irga, Rubens Silveira, considera que as vendas externas brasileiras já partem de um patamar de 350 mil toneladas. “Este é mais ou menos o volume que tem clientes garantidos em quebrados de arroz – dirigidos à África – e na exportação de contêineres por empresas de porte pequeno e médio de produto de alto valor agregado”, revelou. Segundo ele, estes dados estão baseados nas vendas de 2007 e de 2008.
RECORDE – Os números divulgados em março confirmaram um recorde nas exportações nacionais, com 790 mil toneladas de arroz, mais de 60% de produto beneficiado e faturamento de 330 milhões de dólares. As importações não passaram de 590 mil toneladas, com custo de 223 milhões de dólares, representando pela primeira vez na história recente da orizicultura brasileira uma balança comercial superavitária em produto para o arroz em 200 mil toneladas. O país passou de um dos 10 maiores importadores de arroz do mundo para o oitavo maior exportador, à frente inclusive da Argentina, tradicional fornecedora do cereal para o mercado internacional.
Meta é exportar 10% da safra
A meta da cadeia produtiva gaúcha de arroz é exportar 10% da safra, que seria equivalente a algo entre 760 mil e 780 mil toneladas, segundo dados do Irga no ciclo 2009/2010. No ano comercial anterior o volume alcançou 789,8 mil toneladas, ultrapassando em 12% a meta prevista. “Mas devemos reconhecer que foi um ano excepcional. Havia pelo menos quatro anos que nos preparávamos para exportar mais, num esforço do setor, com investimento e divulgação do produto”, lembra o presidente do Irga, Maurício Fischer. Com estrutura, preço e produto de qualidade o Brasil soube ocupar o espaço deixado por tradicionais exportadores que se retraíram do mercado para recompor seus estoques diante da ameaça de crise alimentar, anunciada pela FAO.
Manter esta meta com um cenário mais ajustado não será fácil, mas também não é impossível. “Hoje quem não conhece a qualidade do arroz brasileiro está tratando de conhecer, testar, avaliar. E novos mercados estão se abrindo. Em março, por exemplo, Djibuti e República dos Camarões importaram pela primeira vez do Brasil”, frisa Marco Tavares, da Federarroz. Em 2008/2009 o Brasil ampliou o número de países clientes. Há expectativa que a abertura de novos mercados compense alguma queda nas vendas para clientes tradicionais.
MARÇO – Em abril foram divul-gados os dados oficiais de exportação brasileira no primeiro trimestre de 2009: 173 mil toneladas. Estes números são absolutamente favoráveis e representam um crescimento de 111% sobre as exportações do mesmo período do ano passado, alcançando 58 milhões de dólares. O problema foram as importações que também cresceram muito e chegaram a 230 mil toneladas. No primeiro trimestre de 2009 o Brasil teve um déficit de 57 mil toneladas em sua balança comercial do arroz.
A explicação é fácil: temendo “micar” com um estoque de passagem de mais de 150 mil toneladas, Uruguai e Argentina forçaram a exportação para o Brasil a preços de até R$ 26,00 a saca na fronteira com o Rio Grande do Sul, onde o mercado andava na casa dos R$ 27,50 a R$ 28,00. Essa oferta ajudou a baixar os preços internos no pico de safra, momento em que os produtores gaúchos buscaram a sustentação de preços buscando custeio de comercialização em mecanismos como EGFs e contratos de opção, além da oferta ajustada ao mercado.
Em março a exportação brasileira teve o Benin como principal mercado, com 30 mil toneladas das 70,5 mil exportadas. O Rio Grande do Sul contribuiu com 88% das operações de venda externa. As importações de arroz em março alcançaram 74,5 mil toneladas do Mercosul. Estes volumes de compra, no entanto, devem cair, segundo os analistas. O fechamento de negócios pela Argentina com Irã, Iraque e a Venezuela já compromete 50% de suas exportações. Afora isso, esse país vizinho tem outros 40 clientes internacionais em volumes menores. Do volume exportado no mês de março, 91% correspondeu ao arroz beneficiado.