De cadeira

Em 2010 o governo só olhou de fora o mercado do arroz.

O governo federal, que há pelo menos cinco anos vem sendo um eficiente aliado na hora de apoiar o produtor e a cadeia produtiva do arroz na comercialização da safra, este ano assumiu a postura de observador. As ações, raras e pífias, como o anúncio de Aquisição do Governo Federal (AGF) por preço mínimo – que não é referência ao mercado livre – quando o mercado já superava essa barreira, ou atrasaram e perderam o sentido ou não apareceram para corresponder às demandas setoriais. Com quase 1 milhão de estoques públicos, também é difícil saber se os benefícios da retirada de mais 50 ou 100 mil toneladas de arroz do mercado teriam algum impacto positivo. Em algum momento esse arroz dos estoques federais deverá voltar ao mercado.

Para o analista de arroz de Safras & Mercado, Élcio Bento, o pedido de contrato de opções, quanto mais avança o ano, parece menos provável. É um mecanismo que tem se mostrado bastante eficiente para balizar preços, porém, tem o mesmo efeito colateral de formar estoques públicos. Além disso, com a pressão externa sobre as cotações, o governo federal correria o risco de ter que bancar os recursos para um grande volume de contratos a serem exercidos. “Entre as intervenções, me parece que os leilões de PEP e Pepro para exportação são aquelas que atenderiam de forma mais próxima os anseios da cadeia produtiva, pois possibilitariam a retirada de cereal do mercado”, considera Bento.

Mais uma vez, o reflexo não seria diretamente sobre os preços, pois nestes dois mecanismos o produtor recebe o preço mínimo de referência. O efeito seria sentido pelo enxugamento da oferta. Neste caso haveria necessidade de ir com mais força ao mercado internacional e assim poderia haver reflexos internamente. “De qualquer forma, não estaria imune a uma retração mais acentuada das cotações internacionais”, alerta.

TEC
Élcio Bento acredita que a maneira mais imediata de imunizar o mercado nacional dos reflexos externos, em especial neste ano de escassez de oferta no Mercosul, seria a elevação da Tarifa Externa Comum (TEC), hoje em 12%, para 30%, como solicita a cadeia produtiva.


EXEMPLO

Um exemplo numérico facilita a compreensão dos efeitos de uma eventual elevação da TEC: na última semana de julho o arroz beneficiado dos EUA, com 4% a 5% de quebrados, cotado a US$ 445.00 por tonelada no FOB, chegaria à capital paulista por volta de R$ 40,08 por fardo de 30 quilos (câmbio a R$ 1,76/US$), considerando-se a TEC de 12%. A média no mercado nacional era de R$ 40,30 por fardo. Mantida esta situação, o arroz beneficiado norte-americano estaria se tornando atrativo no Brasil. Com o mesmo preço FOB, o mesmo câmbio e elevando-se a TEC para 30%, o fardo chegaria ao Brasil por R$ 45,56. Diante disso, a defesa das cotações internas via elevação da TEC poderia oxigenar o mercado brasileiro, garantindo preços competitivos – os quais, por sua vez, garantiriam o aumento da produção na próxima temporada. Estimular a oferta nacional é a melhor forma de reduzir a dependência das compras externas e de dinamizar o setor orizícola.


Olho no dólar

Em termos de preços, o mercado nos próximos meses dependerá muito dos números consolidados da safra mundial 2010/11, cujo ciclo comercial inicia em agosto de 2010 e vai até julho de 2011, segundo Élcio Bento, analista de arroz da Safras & Mercado. Além disso, ele alerta para a situação cambial: “Os números divulgados pelo BC na quarta semana de julho chamam a atenção. Pela primeira vez no ano a entrada de recursos externos não foi suficiente para cobrir o déficit em transações correntes, no pior resultado para o mês desde o início da série histórica de 1947. O déficit em transações correntes também foi recorde nos seis primeiros meses de 2010 (US$ 23,8 bi) e nos últimos 12 meses (US$ 40,9 bi). Estes são indícios de que o real poderá depreciar em relação à moeda norte-americana, caso este movimento de saída de divisas persista. E isso mexe no câmbio e no mercado de arroz”.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter