Mercado igual, safras diferentes
Sul e Centro-oeste vivem momentos opostos em 2006.
Embora com sistemas de produção diferenciados (irrigado e sequeiro), as duas mais importantes regiões de produção de arroz do Brasil compartilham o mesmo mercado, as mesmas dificuldades de comercialização e crédito, mas vivem momentos opostos na safra 2006/2007. Enquanto o Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do Brasil, tende a reduzir ou, com muito esforço, manter a área plantada, o Mato Grosso entra em estágio de recuperação de área. Os fatores que influenciam nessas tendências são distintos.
No Rio Grande do Sul, a crise tem pequena influência na propensão à queda na área plantada e o fator determinante é o clima. Três anos de estiagens provocaram um grande déficit hídrico na região. Sem água para irrigar a lavoura, mesmo com previsão de El Niño, o produtor prefere não arriscar e deixa algumas áreas de menor desempenho fora da lavoura deste ano. Pequena área também foi destinada à pecuária, que obteve resultados mais satisfatórios nos oito primeiros meses do ano.
No Mato Grosso, a retomada do plantio de arroz acontece por três motivos básicos: baixos preços de mercado das outras culturas, principalmente soja, legislação e fiscalização rígida para a abertura de novas áreas e estoques internos praticamente zerados. Na safra 2004/2005 o Mato Grosso chegou ao fundo do poço. Além dos baixos preços de comercialização provocados por uma supersafra e importações, a principal variedade plantada, Cirad 141, não alcançou o padrão longo fino. Assim, o produto que chegou a ser comercializado a R$ 30,00 o saco de 60 quilos em 2004, baixou para até R$ 7,50/60 quilos.
O desestímulo foi geral, com redução de 63% na área e na produção do estado na safra 2005/2006. A lavoura caiu de 776,8 mil hectares para 287,5 mil hectares. A produção baixou de 2,04 milhões de toneladas produzidas para 738,8 mil. Apesar da falta de produto, quatro fatores contribuem para que a área no Mato Grosso não se recupere integralmente: falta de crédito para custeio do arroz, moratória para a abertura de áreas, falta de sementes e incertezas quanto ao futuro do mercado do arroz. A boa notícia é o surgimento de novas variedades de arroz agulhinha, mais produtivas e, principalmente, de melhor qualidade. E a inclusão do arroz no sistema de produção em rotação de cultura (áreas velhas) e integração lavoura/pecuária, práticas recomendáveis para o Centro-oeste.
Os números
Segundo a Conab, a safra gaúcha deve ficar entre 6,185 e 6,380 milhões de toneladas, um recuo entre 8,1% e 5,2%. A área prevista é de 967,2 a 997,7 mil hectares, 5% a 2% abaixo dos 1,018 milhão de hectares de 2005/2006. O rendimento esperado vai de 6.395 quilos/hectare (3,3%), inferior aos 6.610 quilos/hectare da anterior. Para o Mato Grosso, a Conab estima acréscimo entre 20,5% e 24,8%, com produção de 890,3 e 922,4 mil toneladas. Na temporada 2005/2006 foram alcançadas 738,9 mil toneladas. O rendimento ficará em 2.790 quilos/hectare, ante a produtividade de 2.570 quilos/hectare em 2005/2006. A expectativa de área plantada vai de 319,1 a 330,6 mil hectares, com avanço de 11% a 15% sobre os 287,5 mil hectare.