A agonia – capítulo 2001

É difícil de entender como a sociedade e os governos pensem que o agricultor pode comercializar a sua safra sem o amparo de instrumentos oficiais de sustentação de preços. É a regra primária do mercado – oferta maior que a demanda, os preços caem, no inverso, sobem os preços. Ora, se o produtor colhe em 45 dias tudo o que vai ser consumido durante o ano, a oferta só equilibra com a demanda nos últimos dias do ano agrícola. Acontecem, também, anos de grandes frustrações de safras, o que faz o mercado reagir mais rapidamente, sem contudo favorecer o produtor, pois, se é verdade que preço sobe, igualmente é verdade que teve menor produtividade.

Neste início de comercialização da safra de arroz do Rio Grande do Sul de 2001, estamos vendo o mesmo cenário de anos anteriores, em que pese que teremos um ano bem mais ajustado na relação produção x consumo do Mercosul. As reduções de produções no Centro-oeste brasileiro e na Argentina implicarão num ano sem excedentes de produção.

Mais uma vez fica o produtor na expectativa dos instrumentos que serão disponibilizados pelo Governo, enquanto vê o mercado despencar com o simples ronco das colheitadeiras ingressando nas lavouras. Ressalva-se que o Governo Federal teve a iniciativa, no fim do ano passado, de debater as ações que planejava realizar nesta safra, solicitou o apoio da Cadeia Produtiva do Arroz/RS, para que de forma harmônica e discreta preparasse o sistema para poder intervir no início da safra, e nossas entidades representativas dos produtores repeliram estas ações. Foi um equívoco. Não que isto fora o único responsável pelos preços vis deste início de safra, mas, sem dúvida, teríamos um cenário mais sólido, com os mecanismos oficiais de apoio à comercialização já implementados ou em estágios mais avançados de operacionalização.

Entretanto, passados estes primeiros 90 dias, com certeza experimentaremos melhores preços que os atuais e os que foram praticados nas mesmas épocas da safra passada. Diminui a pressão da oferta pela necessidade de recursos por partes dos produtores e tem-se com exatidão os números da produção.

Agora, não vislumbramos preços máximos superiores aos praticados no ano passado, pois parte dos estoques governamentais obrigatoriamente será ofertada, e os preços internacionais de terceiros países estão muito baixos, o que viabilizaria importações, mesmo com impostos de importação, se nossos preços ultrapassassem os patamares dos 8,5 a nove dólares (base casca 50 quilos).

Por derradeiro, e como aspecto positivo deste cenário, será mais um ano de expurgo de produtores do sistema produtivo. E neste processo os arrozeiros gaúchos levam vantagens, pela estabilidade de produção, vocação e custo de produção inferior às demais regiões produtoras.

"É difícil de entender como a sociedade e os governos pensem que o agricultor pode comercializar a sua safra sem o amparo de instrumentos oficiais de sustentação de preços."


Quem é

Adalberto Jardim Silveira é um dos principais consultores em agronegócios do Rio Grande do Sul, diretor da Centro Agronegócios Ltda.

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